O prazer do reencontro: da torcida do Noroeste com um dos grandes jogadores de sua história. E do aluno com o professor. João Gualberto Pires era lateral-esquerdo do Norusca que fez história com o quinto lugar no Campeonato Paulista de 1960 — e mais tarde ajudou o clube compondo comissões técnicas. Professor no curso de Educação Física da Unesp de Bauru, foi mestre de muita gente — meu, inclusive, quando puxei disciplina para aprimorar minha formação como jornalista esportivo. Ainda hoje, aposentado, dá sua contribuição estimulando a atividade física entre idosos. Diante disso, inúmeros torcedores e ex-alunos prestigiaram essa saborosa conversa com esse homem sábio, um educador nato, um esportista que honra o nome de Bauru. Se ainda não viu, não deixe de dar o play logo abaixo:
Apoio cultural ao ENTREVISTA 10
Empresas que quiserem patrocinar a atração terão espaço durante a exibição (logomarca, slogan e contato), em banner no rodapé da tela. O investimento mensal é bem convidativo e o nível da conversa promete um bom valor agregado. Os interessados devem entrar em contato pelo e-mail fernandobh@canhota10.com ou pelo telefone (14) 99115.1360 (inclusive WhatsApp).
O ENTREVISTA 10 é uma parceria do CANHOTA 10 com a TV FIB
A dinâmica desta nova seção do Canhota 10 será esta: a foto é publicada na fan page, com link para o texto do blog. Lá no Facebook, a galera se diverte adivinhando o craque (ou escalação) da imagem, de que ano é, qual campeonato, etc. Depois, vem para o C10 conferir a resposta.
Pois bem. O personagem de estreia é o zagueiro Amarildo. Ele veste essa épica camisa da Dellerba, com patrocínio da Tilibra, posando como reforço para o Paulistão de 1992. A foto (de Nelson Coelho) é do Guia do Campeonato Paulista da revista Placar.
Amarildo já havia defendido o Norusca naquele inesquecível time de 1987, que tinha Éverton, Márcio Araújo, Chico Spina e Rodinaldo. O zagueiro, que ficou conhecido no Palmeiras (vice estadual de 1986), retornava a Bauru depois de passagem pelo Leixões, de Portugal. Outros reforços daquela temporada: o lateral-direito Jorge Raulli (que mais tarde seria auxiliar de Paulo Comelli na Vila Pacífico), o meia Zé Rubens (atual coordenador da base alvirrubra) e o atacante Sergio Clavero (até outro dia técnico do sub-20). Turma comandada por Marco Antônio Machado.
Aquele time de 1992 figurava entre os grandes. Fazia parte do grupo verde, que classificava seis para a fase final, enquanto outras 14 equipes (entre elas Marília e XV de Jaú) do grupo amarelo disputavam apenas duas vagas — de lá brotou o carrossel caipira do Mogi Mirim. O Alvirrubro terminou em nono lugar, com nove vitórias, sete empates e dez derrotas em 26 jogos. Contra os grandes, venceu uma (1 a 0 sobre o Santos, no Alfredão), empatou quatro (duas vezes com o Corinthians, uma com o Palmeiras e uma com o Santos, todas por 0 a 0) e perdeu três (Palmeiras 3 a 0; São Paulo 1 a 0, no Alfredão, e 6 a 0 (!) no Morumbi, cinco de Raí — lembrando que o Tricolor era campeão da América e venceria a final daquele Paulista logo depois de trazer o Mundial de Tóquio).
No semestre anterior, o Noroeste havia disputado a Série B do Brasileiro e, por muito pouco, não chegou à elite nacional (naquele ano, 12 clubes subiram). Perdeu o último jogo, em casa, para o União São João (2 a 0). O sonho nunca esteve tão perto…
Para comemorar os dez anos do golaço de Pet, a seção Na Gavetarelembra texto do jornalista Fernando BH originalmente publicado na revista Tributo Esportivo Edição Histórica 6, da Editora Alto Astral.
MAIS UMA ESTRELA E… VICE DE NOVO!
Por Fernando BH
Havia muita coisa em jogo naquela tarde de maio. Para o Vasco, a chance de livrar-se da sina de vice, pois não vencia os rubro-negros numa decisão desde 1988 – a goleada de 5 a 1 pela Taça Guanabara de 2000 foi válida pela última rodada do turno, que era disputado em pontos corridos, mesmo caso da Taça Rio de 1999. Para o Flamengo, a chance de bordar a quarta estrela na camisa (cada uma delas corresponde a um tri carioca – critério abandonado em 2004, quando ficou apenas a dourada do Mundial).
Some à atmosfera do Maracanã a vitória do Vasco na partida de ida, a ausência de Romário, contundido, o carisma de Zagallo, a falastrice de Eurico Miranda… Do lado flamenguista, Edílson, artilheiro do campeonato, e seu desafeto, Petkovic, o articulador das jogadas. Do lado vascaíno, a velocidade de Juninho Paulista e Euller e o oportunismo de Viola.
O Vasco começou melhor a partida e poderia ter confirmado o título não fossem duas importantes defesas de Júlio César. Primeiro, defendendo chute de Juninho, que arrancou do meio-campo driblando a defesa do Mengo. Depois, cara a cara com Viola, salvou com o pé esquerdo. A história começou a mudar quando Cássio recebeu de Beto na área e, ao cortar Clébson, levou a rasteira. Edílson converteu o pênalti. Juninho, porém, levou seu time tranquilo para o vestiário, ao empatar aos 40, completando jogada de raça de Viola, numa bola aparentemente perdida.
No intervalo, o Velho Lobo deve ter batido um papo com seu protetor, São Judas Tadeu.
Só pode ter sido o padroeiro das causas perdidas quem inspirou os inimigos íntimos a se entenderem em campo: Petkovic ciscou pela esquerda e cruzou na medida para o Capetinha completar de cabeça. Faltava um para o título, mas o Vasco se impôs. Novamente o santo agiu, soprando a cobrança de falta de Juninho – sempre ele – que parou no travessão. E, certamente, concedeu poderes celestiais a Júlio César, que operou milagre em finalização de Euller.
Mesmo próximo o fim do jogo, os vascaínos ainda não gritavam “É campeão” a plenos pulmões. A prudência ganhou sentido quando Edílson sofreu falta na intermediária. Praticamente do mesmo lugar em que Rodrigo Mendes fez o gol do título de 1999, o que sugeria um chute forte, talvez de Beto. Mas coube a Pet lembrar Zico, encobrir a barreira e colocar a bola no ângulo. Foi o décimo gol de falta dele com a camisa 10 rubro-negra. Hélton se esticou todo, mas, essa nem São Judas Tadeu pegaria.
FLAMENGO 3 x 1 VASCO
Maracanã, no Rio de Janeiro-RJ – Final do Campeonato Carioca 2001 – Árbitro: Léo Feldman – Público: 60.038 – Gols: 1ºT: Edílson (23), Juninho Paulista (40); 2ºT: Edílson (8), Petkovic (43). Flamengo: Júlio César; Alessandro (Maurinho), Fernando, Juan e Cássio; Leandro Ávila, Rocha, Beto (Jorginho) e Petkovic; Reinaldo (Roma) e Edílson. Téc: Zagallo. Vasco: Helton; Clébson, Odvan (Geder), Alexandre Torres e Jorginho Paulista; Paulo Miranda, Fabiano Eller, Pedrinho (Jorginho) e Juninho Paulista; Euller e Viola (Dedé). Téc: Joel Santana.
Depoimento: em entrevista ao colega Marcelo Ricciardi, Pet declarou que só se deu conta da importância do gol depois de algum tempo. “Até hoje aqueles momentos passam pela minha cabeça como se fosse um filme. Já joguei em outros clubes com torcedores fanáticos, mas a torcida do Flamengo foi além disso. Sei que todos eles terão sempre um carinho muito grande por mim.”
Campeoníssimo por vários clubes grandes, ele arrepiou do lado esquerdo antes de virar coringa
Houve um ou outro insistente treinador que escalou pontas no início dos anos 1990. Ainda pela beirada do campo de ataque, por exemplo, surgiu Sávio no Flamengo, pela esquerda, e o santista Almir arrepiava pela direita. Mas o último jogador a atuar na função de ponta na Seleção Brasileira foi Elivélton.
Xodó no início do trabalho de Carlos Alberto Parreira rumo ao tetra, em 1991, teve um período curto com a Amarelinha, que coincidiu com a época em que arrebentou no Tricolor (apenas 11 jogos pela Seleção, seis vitórias, três empates, duas derrotas e um gol marcado, no Serra Dourada, contra a Tchecoslováquia).
O extrovertido (e gago) atacante surgiu como um furacão no São Paulo, lançado por Telê Santana. Mas nunca se firmou como titular. Nos muitos títulos que ganhou pelo Tricolor, só aparece na foto da Libertadores de 1992. No banco, ganhou Mundial em Tóquio no mesmo ano e outra Liberta em 1993. Aí, foi para o Japão.
Tornou-se meia, fez golaço do título do Paulistão de 1995 pelo Corinthians e repetiu taça estadual no ano seguinte pelo rival Palmeiras. Em 1997, mais um gol de título: Libertadores, Cruzeiro, chute cruzado de direita no cantinho do Sporting Cristal. Aí, rodou o Brasil, cigano dos bons. Foi ala esquerda na Ponte Preta, sempre com muito fôlego. Jogou na Bahia, no Triângulo Mineiro, no Mato Grosso e em 2010 ainda estava em atividade, jogando pela Francana, onde é ídolo. Esteve em Bauru no último dia 18 de dezembro, participando de jogo festivo no BTC de campo, atuando pelos masters do São Paulo.
É inquestionável que esse cigano rodou o país mais por amor à bola do que ao dinheiro – prova disso é que sempre a tratou bem.
Uma sexta-feira à tarde de novembro (dezembro?) de 2006. Eu, no trabalho, quando liga o amigo Júlio Penariol, do Bom Dia. Alerta para entrevista coletiva de Felipe Massa em Botucatu no dia seguinte. Topei na hora: o material seria útil para o guia 2007 da Fórmula 1, que faria na Alto Astral, e também para a 94FM Revista, que eu editava na época.
À vontade, sem veículos das capitais por perto, Felipe falou bastante. Criticou a Stock Car, que não revela talentos, lamentou a pouca receptividade de Bauru para seu ‘Desafio das Estrelas’ – que mudou-se para Florianópolis – e cutucou as pessoas que não acreditavam nele (“Não quero chegar nelas e dizer ‘Tá vendo?’. Tenho carinho pelos que torceram”).
Terminada a coletiva, ainda cercado pelos repórteres, seguiu solícito. Foi nessa hora que perguntei a ele sobre a inevitável lembrança de Ayrton Senna após a vitória histórica em Interlagos.
Sem fazer média com a imagem do eterno ídolo de milhões de brasileiros, cravou: “Eu era muito pequeno quando o Senna morreu. Minha trajetória não foi construída pensando nele. Nunca corri com essa influência. Eu gostava de correr porque meu pai corria. Na minha trajetória, o Schumacher me ajudou muito mais, pelo fato de correr ao lado dele”.
Um ano depois, em uma coletiva após evento do Unicef, Felipe revelaria uma “mágoa” com Senna. “Na época, aquilo me chateou bastante. Eu acompanhava o Piquet e o Senna, mas era muito fã do Ayrton. Eu pedi o autógrafo e ele virou as costas para mim“, contou aos repórteres, na ocasião.
Não há contradição entre as falas de 2006 e 2007. Massa não nega Senna como ídolo – apenas como referência em sua formação de piloto.