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Corinthians merecido, apesar de Neymar

O Corinthians, time de melhor campanha do Paulistão 2025 até aqui, venceu o Santos jogando em casa, por 2 a 1. Normalíssimo.

As manchetes internet afora, entretanto, destacam com maior ênfase a ausência do santista Neymar na partida. Um edema na coxa esquerda o deixou o tempo todo no banco de reservas — mais uma presença de pressão psicológica no adversário do que uma possibilidade de entrar em campo.

A torcida corintiana, no seu direito de vencedora, aderiu ao meme de que Ney pipocou. Ok, a ficção cabe na zoeira.

A torcida brasileira se preocupa com o recém-convocado. Estará pronto para as partidas das eliminatórias? Ou poupou-se hoje para defender a seleção?

Neymar pode ter mil defeitos, mas fugir do embate não é um deles. Mesmo a lenda de que se machucava providencialmente perto do carnaval já foi desfeita pelos números.

A verdade é que cada passo seu, neste momento de sua carreira e do futebol brasileiro, é amplificado. O Corinthians ganhou, mas Neymar não jogou.

Se ele faria a diferença nesse domingo? Jamais saberemos.

O que sabemos é que Yuri Alberto segue decidindo e que Garro é um finalizador raro. Timão na final, merecidamente.

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Qual a posição de Danilo na seleção?

A lista de Dorival Júnior para as partidas contra Argentina e Colômbia pelas eliminatórias, como de costume, não trouxe muitas surpresas. O novato, o lateral-direito Wesley, do Flamengo, era o óbvio ululante. Paquetá fora, por contusão, evita o constrangimento de estar na lista com julgamento marcado na Inglaterra, que pode bani-lo do futebol. Neymar dentro, pois ninguém ousaria ignorá-lo, estando saudável.

Surpresa, talvez, a ausência de um centroavante de ofício, considerando que Matheus Cunha agora é meia e teve a boa fase premiada. João Pedro é o mais próximo do que ainda costumamos chamar de “camisa 9” em tempos de numeração fixa. Endrick poderia estar na lista. Ser reserva de MBappé no Real Madrid não diminui sua qualidade – e o moleque tem estrela.

Mas a boa discussão da convocação é a presença de Danilo. Entre os jogadores mais criticados nos últimos jogos da seleção, por não ter o mesmo vigor físico de outrora como lateral, o jogador reapareceu bem como reforço do Flamengo, atuando como zagueiro (função que já vinha exercendo na Juventus).

Dorival fez uma pegadinha. Anunciou a lista com “defensores”, unindo laterais e zagueiros. Na real, tem Wesley e Vanderson como laterais-direitos e apenas Arana para a lateral-esquerda. Danilo é o coringa (já jogou na esquerda até na última Copa do Mundo) e o treinador sugeriu aos jornalistas que fizessem o exercício criativo de imaginar o que ele fará com seus “jogadores versáteis”.

Verdade seja dita: Danilo está na lista porque começou bem no Flamengo, isto é, manteve-se em evidência e, principalmente, porque ele é o capitão de Dorival até aqui. Se haverá uma transição, se Neymar assumirá a braçadeira, saberemos mais tarde. Mas, como é de costume com treinadores brasileiros (Tite, Felipão e cia.), confiança e gratidão são tão importantes quanto desempenho.

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Barcelona 3, Corinthians 0: sinal amarelo

A má atuação na fase anterior, contra o Universidad Central da Venezuela, foi um prenúncio desse encontro desastroso, fora de casa, contra o Barcelona, do elegante treinador Segundo Castillo.

O traje à beira do campo avisava a importância que sua equipe, duas vezes vice-campeã na história da Libertadores, dava à partida. Não que o Corinthians não se importou, mas não se portou como favorito que é no confronto.

Caberia a frase de efeito de que o goleiro Contreras mal sujou o uniforme, mas vale também dizer que pouco apareceu no vídeo. O Timão, com força máxima, mas um tanto cauteloso com linha defensiva de cinco jogadores, deixou Memphis e Yuri Alberto como espectadores — à espera de uma bola.

E cabe a cautela de nomear este texto como “sinal amarelo”, porque sabemos como estará a arena corintiana na próxima quarta-feira: abarrotada, gritando até o apito final. A vaia só virá depois, se o sinal ficar vermelho. Mas não é impossível que o time se inflame e busque a difícil vitória por três gols de saldo, confiando na estrela de Hugo na disputa de pênaltis.

Antes disso, para manter a adrenalina alerta, tem o Santos de Neymar, também em Itaquera. Aperitivo e tanto para inflamar os ânimos.

Por enquanto, apreensão. Esta Libertadores pareceu tão improvável numa campanha contra o rebaixamento, e agora parece escorrer pelas mãos.

O Corinthians terá que ser mais Corinthians do que nunca.

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futebol

Ainda estou aqui

Apesar do infame aceno ao Google neste título (referência ao premiado filme Ainda Estou Aqui), é uma grande verdade: depois de um período inativo, retomo este espaço insistente, onde estão publicados quase 1,7 mil posts (primeiro em versão esporte local, na minha Bauru, e desde dezembro de 2019 com espaçados rabiscos sobre o futebol nacional).

Vamos retomar o hábito blogueiro: TEXTO. Aqui, no Instagram, no Facebook. Cada um lê onde quiser. Para agradar ao algoritmo, teremos vídeos aqui e ali.

Mas a proposta é encontrar esse nicho que gosta de futebol e de que gosta de LER.

Sigamos!

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Copa do Mundo futebol Pelé uniformes

Como o agasalho do Tetra chegou até Hamilton no GP de São Paulo

Habituado a causar impacto por suas vestimentas fashion a cada fim de semana da Fórmula 1, Lewis Hamilton dedicou-se especialmente ao Grande Prêmio de São Paulo, em Interlagos, por causa de sua afeição pelo público brasileiro — o heptacampeão mundial é um confesso fã de Ayrton Senna e, ano passado, tornou-se cidadão honorário do país. Depois do look da quinta (uma peça estampada com a imagem do tricampeão), nesta sexta o piloto inglês chegou ao autódromo vestindo um agasalho usado pela seleção brasileira de futebol na Copa do Mundo de 1994, conquistada menos de três meses depois da trágica morte de Senna.

A peça é original. Foi usada por algum membro da comissão técnica canarinho e fazia parte, originalmente, do acervo do preparador físico Moraci Sant’anna. Até chegar às mãos do colecionador Cássio Brandão. O publicitário, que soma mais de 6 mil camisas históricas, é criador do Alambrado Futebol & Cultura, onde parte dessa riqueza histórica é vendida ou trocada por outras raridades — com o conceito match-worn shirt (as camisas usadas em jogo são mais de 90% do total).

Parte porque muitas são inegociáveis, como camisas do Santos e da seleção usadas por Pelé no início dos anos 1970, e peças vestidas pelo Doutor Sócrates (do Botafogo de Ribeirão, do Corinthians, do Flamengo, da Fiorentina e até mesmo do time da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto!). O agasalho emprestado a Hamilton também está entre os itens que não estão à venda.

O agasalho que Hamilton vestiu nesta sexta, 3 de novembro de 2023, em Interlagos. Foto: Reprodução Alambrado

Isso mesmo: emprestado. O piloto irá devolver a peça que desejou comprar. Acabou adquirindo duas camisas da seleção, uma amarela e uma azul, modelos de torcedor oficiais da Umbro vendidos à época.

As camisas compradas por Hamilton: fabricadas pela Umbro em 1994 (a azul já com quatro estrelas). Fotos: Reprodução Alambrado

Conversei com Cássio, que é meu colega de Memofut (Grupo Memória e Literatura do Futebol), para saber dos bastidores dessa empreitada de fazer chegar a peça ao heptacampeão mundial:

A ideia
“Procurei a equipe do Hamilton para oferecer a possibilidade de ele usar um item do Pelé. Um Sir vestindo o Rei! E é o primeiro GP depois da morte do Pelé, uma semana depois do aniversário dele… Bati na porta de uns quarenta assessores. Chegar em um assessor que tem contato direto com o Hamilton não é nada fácil. Fiquei tentando até que um assessor muito próximo dele, o Kevin, um dos braços direitos, quis ouvir a minha ideia.”

O encontro
“O Kevin topou vir me conhecer, fizemos uma reunião e mostrei o acervo. Ele gostou muito da ideia de celebrar o Pelé e o Hamilton participou de tudo. Ele ligava, mandava fotos… A ideia acabou se transformando pela conexão emocional do Hamilton com 1994, a primeira Copa do Mundo que ele acompanhou.” [tinha 9 anos à época]

Outras possibilidades
“Nessa linha de o Hamilton ser um ícone fashion, chegamos a discutir ele usar camisa de clube. Mostrei camisas coloridas dos goleiros Ronaldo Giovanelli (Corinthians), Sérgio (Palmeiras) e Zetti (São Paulo) e também uma da Lusa, do Dener — e contei sua história de menino da periferia e mostrei uns lances. Mas o Hamilton se conectou mesmo com a Copa de 1994.”

Ronaldo, Sérgio e Zetti: exemplos dos coloridos modelos que usavam nos anos 1990. Fotos: Reproduções

Em mãos
“Levei o agasalho ao hotel Palácio Tangará, onde o Hamilton está hospedado, e entreguei para a assistente dele, Santi. Será devolvida com uma carta assinada por ele, que estou aguardando ansiosamente. O agasalho não será autografado porque descaracterizaria a história da peça, que esteve lá no Rose Bowl, na final da Copa.”

O projeto Alambrado
“É um projeto de preservação histórica relacionado ao futebol, a partir de uma camisa. Camisas contam histórias, né? Criei em 2008, temos site e uma loja, que fica em Pinheiros, que funciona como ponto de troca e de retirada dos itens comprados. É quase um trabalho de arqueologia, que envolve mais de 50 mil fotos em uma base de dados para ver os detalhes, checar de qual época é cada camisa. É um trabalho que tenho muito carinho em executar.”

Abaixo, o conteúdo da carta enviada a Lewis Hamilton (tradução nossa):

Prezado Sir Lewis Hamilton,

Obrigado por celebrar o futebol brasileiro!

Em suas mãos você encontra um item fantástico usado em um jogo de Copa do Mundo, uma verdadeira joia da história do nosso esporte.

Em 1994, nós ganhamos nossa quarta estrela em nossas camisas — agora temos cinco! Aquele foi um ano muito especial para nós!

Espero que aproveite esse tesouro especial!

Cássio Brandão e time Alambrado