De um lado, a notícia de que Neymar se transferiu para o Paris Saint-Germain por espantosos € 222 milhões, a transferência mais cara da história. De outro, a regra do “fair-play financeiro” estabelecida pela Uefa em 2011, visando evitar que um clube que disputa competições internacionais gaste mais do que ganha.
Diante desses dois cenários, como o PSG contratou Neymar?
Simples: o próprio Neymar comprou os seus direitos econômicos junto ao Barcelona, não havendo qualquer negociação direta entre os clubes. Isso mesmo. Neymar celebrou um contrato de prestação de serviços com um fundo de investimentos do Catar, vendendo seu direito de imagem como embaixador da Copa do Mundo de 2022 por € 222 milhões.
Com o dinheiro em mãos, foi até o Barcelona, depositou o valor da multa rescisória e se tornou um jogador livre. Nessa condição, assinou um novo contrato com o PSG, que apenas pagará as luvas e salários ao jogador (€ 30 milhões anuais), não efetuando qualquer pagamento ao Barcelona. Aliás, apenas a título de curiosidade, Neymar ainda não será o jogador de futebol mais bem pago do mundo, pois continua perdendo para Carlitos Tevez, que embolsa € 38 milhões por ano no Xangai Shenhua, da China.
A operação criada pelos advogados de Neymar e do clube francês foi digna de tirar o chapéu. Além de driblar o mecanismo do “far-play financeiro”, a não contratação direta pelo PSG reduziu drasticamente a carga tributária incidente na operação, que, segundo alguns jornais, poderia inclusive inviabilizar o negócio.
Além disso, com o pagamento da multa rescisória diretamente pelo jogador, em tese o Paris não teria que pagar ao Santos o percentual de clube formador (4% do negócio, quase R$ 33 milhões) pelo mecanismo de solidariedade da Fifa. Sabe-se, porém, que Neymar já teria solicitado ao PSG que arque com o valor devido ao clube paulista, que, inclusive, enviou notificação ao clube francês acerca do ocorrido.
Trata-se, portanto, de uma verdadeira tacada de mestre. Resta-nos saber se a Uefa, após a prometida investigação da operação, a manterá intacta, sem qualquer penalidade aos clubes e ao jogador. Enquanto isso não terminar, quem aprecia o Direito ligado ao esporte acompanha ansiosamente as próximas etapas do caso.
CARLOS ALBERTO MARTINS JÚNIOR é advogado, especialista em direito desportivo e atua no Freitas Martinho Advogados
A foto acima tem muito significado. Nela, o armador Lucas Vezaro recebe a premiação de atleta destaque do Campeonato Catarinense de basquete de 2016. Nenhum estranhamento, considerando seu inegável talento, com passagem pela base da Seleção Brasileira, e tendo sido o cestinha (15,2 pontos por partida) de sua equipe, o Joinville, no estadual. Mas é uma conquista, sobretudo, porque uma ano antes dessa foto ele fora obrigado a abandonar as quadras.
Após disputar as finais do Paulista sub-19, em novembro de 2015, defendendo o Bauru Basket, o jovem jogador descobriu que tinha um tumor maligno no sistema linfático. Vezarinho (chamado assim por aqui por ser irmão caçula de Felipe Vezaro, também ex-Dragão) iniciou rapidamente o tratamento, encarou quimioterapia. Deixou muitos amigos em Bauru e toda a comunidade basqueteira apreensiva e uma forte corrente de oração se formou.
Era preciso dar privacidade e tranquilidade para a família superar esse momento, mas, devagarinho, as boas notícias foram chegando. No início do segundo semestre deste ano, ele já estava de volta às quadras! No Joinville, ao lado do experiente pivô Olívia e dos alas Jordan Burger e Jefferson Socas, mostrou que não desaprendeu a jogar! Aos 20 anos, é o destaque do time, campeão do Jogos Regionais e terceiro colocado no Catarinense.
“Estou superbem. Curado. Gostaria de mandar um abraço a todos aí de Bauru que torceram pela minha recuperação e que oraram por mim!”, disse Lucas Vezaro ao Canhota 10.
Em Bauru, o armador é dessa geração de Eltink, Wesley e Yuri Sena, Gui Santos, Henrique Cerimelli, Renan Previdello e Felipe Smith. Defendeu o Dragãozinho nos estaduais da base, na Liga de Desenvolvimento e, no adulto, nas fases iniciais do Paulista em 2014 e 2015.
Essa história de vida vitoriosa foi destaque na edição de ontem (19/nov) do programa Esporte Fantástico, da TV Record. Se você não viu, vale a pena conferir abaixo. Seja feliz, Vezarinho!
E o desfile de craques alvirrubros voltou! E voltamos com um grande personagem, ao pedido do Diego Dias Silva, assíduo leitor e presidente da Associação Avante, Rubro! É o goleiro GERALDO — trajetória contada logo abaixo. Se você quer ver seu ídolo do Noroeste na Galeria Alvirrubra, envie e-mail para fernandobh@canhota10.com ou deixe recado na caixinha de comentários aí embaixo — ou, ainda, pode ser via fanpage (já curtiu?).
A figurinha 37 é este goleiro que atuou nos anos 1990. Geraldo entrou para a história alvirrubra após marcar, de cabeça, o gol de empate noroestino contra o América de Rio Preto, no Alfredão, em partida do quadrangular final da Série A2 de 1998 — o Alvirrubro não conseguiu o acesso na ocasião. Naquele dia, o Norusca alinhou com Geraldo; Claudemir, Válder, Nei (Ronaldo Cebola) e Ismanir (Chiquita); Ivanildo, Claudecir, Adãozinho e Marquinhos; Moisés e Tequila — treinados por Luís Carlos Martins. Seu feito pelo Noroeste aconteceu 36 anos depois do gol de Navarro sobre o Taubaté, em dezembro de 1962.
Geraldo hoje mora em Piritiba, na Bahia, onde nasceu em 1 de outubro de 1972. Começou no Galícia e saiu de seu estado para construir carreira no futebol paulista, passando por Mogi Mirim, Olímpia e Noroeste. Mas foi no Nordeste que se tornou ídolo, como titular do Sampaio Corrêa, do Maranhão, campeão estadual e do Brasileiro Série C em 1997. Também se destacou no CRB, de Alagoas, no início da década seguinte.
CLIQUE AQUI E CONFIRA TODA A GALERIA DE CRAQUES ALVIRRUBROS
Este texto não pretende gerar polêmica, já que a polêmica já existe. A reflexão é necessária exatamente porque esse assunto ainda não esfriou: a saída do armador Ricardo Fischer do Bauru rumo ao Flamengo. Os fatos são muito menos espetaculares do que a repercussão, mas os sentimentos gerados não deixam de ser compreensíveis. É sobre isso que opino, sem fazer juízo pra nenhum lado.
AS ÚLTIMAS FARPAS
Em seu reencontro com a torcida na Panela de Pressão — vitória do Flamengo por 100 a 97 —, o Ligeirinho ouviu gritos de “mercenário” e até notas com seu rosto estampado havia. Achei uma irreverência bacana da torcida, afinal, tentar desestabilizar o adversário faz parte do jogo — embora também admire ex-ídolos bem recebidos, como Dwayne Wade experimentou recentemente ao visitar o Miami Heat. Igualmente achei válida a reação do jogador, que postou as notas com bom humor — claro que movido pelo sabor da vitória. Uma pena, entretanto, que ele tenha apagado o post. Media training demais acaba por reprimir a espontaneidade… Atualizado: ele publicou no Snapgram, publicação que se “autodestrói” em um dia.
Na última semana, Ricardo comentou em seu twitter o fato de Nezinho (hoje no Vasco) ter sido aplaudido pela torcida de Brasília: “Muito legal da parte da torcida! Soube respeitar e agradecer por tudo que ele fez pela equipe… É assim que tem que ser sempre!”. Pareceu uma indireta para a galera bauruense e claro que houve reações: ele não saiu pela porta da frente e perdeu o respeito, foi a média dos argumentos.
Por fim, ontem o Social Baurupublicou uma entrevista (assista logo abaixo) com o jogador (no quadro bacana Fazendo Social, criado pelo Vinicius Fernandes), que admitiu o deslize de ter manifestado sua mudança de time da forma que aconteceu: num vídeo do Snapchat da cantora Ludmilla. Claro que o assunto veio à tona e a resposta foi sem rodeios:
“Na quinta, eu já tinha assinado minha rescisão com Bauru, já estava tudo certo. Na sexta, na hora do almoço, eu fechei com o Flamengo. E realmente eu estava muito feliz. Eu não sabia o que ia acontecer aqui, estava tudo incerto, ainda não havia patrocinador e não sabia se iria receber ou não. Enfim, eu tinha realizado um sonho, tinha dado tudo certo. Estava no meu momento, entre amigos, e nem lembrei de toda a repercussão que poderia dar no Snap dela. Todo mundo levou como desrespeito a Bauru e realmente pareceu, quem achou estava certo. Mas não foi nada disso. Pelo carinho que eu tenho pela cidade, eu queria ter saído tão bem, mas acabei estragando. Foi uma merda, mas infelizmente aconteceu. Eu entendo, pois eu saí para um rival”. Enfim: ele entende o contexto. Mas será que a torcida entendeu o lado dele?
Afinal, Ricardo Fischer foi ingrato com Bauru?
A maior queixa é a de que o “anúncio”, via Ludmilla, aconteceu antes de a informação ser oficializada. Mas não foi no susto. De fato, já estava tudo apalavrado na sexta-feira, tanto que este Canhota 10 soube e publicou em primeira mão — e começou a ferver o assunto, que explodiu no sábado pós-Snap. Ao anunciar a rescisão, o Bauru Basket foi enfático que o fim do vínculo havia sido desejo do jogador. Compreensível: a diretoria havia apanhado muito, no ano anterior, na saída de Larry Taylor. E sem motivo. Até hoje, há quem insista que saíram com o Alienígena, por mais que o próprio gringo-brasuca tenha afirmado que fora uma decisão dele, a fim de buscar novos ares. Da mesma forma, nem um caminhão de dinheiro seguraria Fischer aqui. Estavam diante do desejo legítimo do jogador de querer os holofotes do clube mais popular do país, como mais um degrau no seu plano de carreira de jogar no exterior.
O problema: tudo isso logo após uma doída derrota na final do NBB, com bola presa no jogo 3, treta no jogo 4 e placar elástico no jogo 5. Aí o vacilo de Fischer: o Flamengo estava entalado e lá foi ele com seu “Aqui é Mengão”. Doeu mesmo ouvir aquilo. Muito. Tanto que ainda não foi digerido pelos bauruenses, mesmo depois de ele ter pedido desculpas poucos dias depois (em entrevista ao Jornal da Cidade) e reconhecido novamente agora, ao Social Bauru.
Mas acredito, e essa é a reflexão mais relevante, que essa bronca toda, no fundo, é porque Ricardo Fischer é craque. Porque faz muita falta aqui. Porque foi-se embora o melhor armador em atividade no Brasil. Porque sabemos que o já forte Flamengo pinçou a peça mais preciosa do mercado basqueteiro.
Sendo assim, nem ele foi ingrato — apenas infeliz; tampouco a diretoria poderia segurá-lo. Não sei se um dia essa poeira vai baixar a ponto de essa história deixar de ter um vilão. Só fico pensando o que fazer com a imagem abaixo, tão simbólica, uma recordação do primeiro título internacional da história do Bauru Basket. Apagar, não dá.
Após a vitória de seu Rexona Sesc Rio sobre o Genter Vôlei Bauru, por 3 sets a 1, Bernardinho foi rapidinho para o vestiário. Sabia que não iria embora tão cedo, pelo volume de pessoas que iam pedir uma selfie com o técnico campeão olímpico, mundial, brasileiro, das galáxias. Eu e os colegas de imprensa ali, matutando. Abordei o supervisor do time que, gentilmente, levou-nos à porta do vestiário para sermos atendidos pelo treinador.
Simpático, solícito, mas agitado, naquela pilha já pensando no próximo compromisso profissional — uma viagem ao Paraná nesse sábado. E fiquei me perguntando: um cara que ganhou tudo, tem independência financeira, que fica dias fora de casa nessa incessante busca de vitórias, tem que ter uma grande motivação continuar na estrada. Perguntei a ele qual era e ele contou história:
“Vou dizer pra você uma coisa: ganhei esse trofeuzinho aqui dos pais de um menino que começou a jogar vôlei com a gente, nas nossas escolinhas. Os pais contaram que ele, antes de jogar vôlei, era muito agitado, tinha problemas, tomava medicamentos. Passou a jogar, a conviver com as pessoas e hoje ele é querido. No aniversário dele, ninguém ia; agora, todo mundo vai. E ele parou de tomar remédios. É um outro menino. Isso é o que conta, isso é o que a gente leva. O carinho das pessoas, o reconhecimento dos pais, poder fazer com que os jovens tenham oportunidade de praticar um esporte e viver os valores do esporte. Não tem preço. Se de alguma forma eu vou continuar por aí, tenho certeza que quero continuar ensinando. Não sei até quando vou continuar à beira da quadra, um dia vou ter que parar, mas poder de alguma forma transmitir isso para as pessoas é muito legal”, relatou Bernardinho.
AMULETO DE BAURU
Seguindo com seu relato, Bernardinho disse ter se emocionado com o abraço de uma senhora: “Acabou de vir uma senhora que tem problema de audição e que veio falar comigo do jeito dela, que torcia sempre por mim, chorou e me abraçou. Essa é a emoção que eu levo, o carinho das pessoas”.
O treinador ainda revelou que, na partida de novembro do ano passado entre Bauru e Rio, ele ganhou um objeto que se tornou um amuleto para a disputa da Olimpíada, quando conquistou o ouro com a Seleção masculina.“Ano passado, aqui, um senhor me deu um crucifixo e disse ‘Boa sorte na Olimpíada, leva com você’. Está aqui até hoje. Eu levei porque foi com tanto carinho, tanta sinceridade, tanta consideração, que levei comigo para a Olimpíada, estava na minha mochila. E fomos campeões olímpicos. Tenho certeza que lá no cantinho dele , ele pensou nisso. É esse carinho que nos faz seguir em frente”, contou, lamentando não ter reencontrado esse senhor nesse retorno.
Bernardinho nos cumprimentou e seguiu em frente, porque ainda tem muita gente pra abraçar por aí.