Categorias
Copa do Mundo futebol Seleção

Dança, Tite: Brasil 4, Coreia do Sul 1

A vitória do Brasil por 4 a 1 sobre a Coreia do Sul foi a famosa goleada “fora o baile”. Daqueles bem dançantes. Tanto que até Tite entrou na dança, com seu pombo desajeitado, mas felizão. Deixe digam, que pensem, que falem, Tite. Não houve deboche. Só alegria mesmo.

Como não ficar feliz um treinador que viu 45 minutos de puro entretenimento? Ok, a Coreia do Sul escolheu um jogo franco e concedeu os espaços. O mérito está em aproveitá-los de forma tão categórica — com velocidade e plasticidade.

No terceiro gol, o Pombo virou foca, entregou para a dupla de zaga (ou de ataque) que fez linda tabela para devolver ao camisa 9. Na comemoração, a já citada festa do professor.

No quarto gol, mais um deleite: a colherada de Vini Jr (autor do primeiro) que encontrou Paquetá. Merecido gol do camisa 7, tão operário, que tem corrido dobrado para fazer o quarteto ofensivo brilhar.

Vale ainda registrar que o goleiro sul-coreano gingou o quanto pôde para realizar a façanha de defender um pênalti de Neymar. Terminou de joelhos, inerte. O segundo tento brasileiro marcou o retorno de seu craque, que se poupou das divididas, mas ainda assim deu outro ritmo ao time. Não fez a prometida comemoração, que iria destoar das coreografias.

No fim, ele e Danilo (que fez bom papel na lateral-esquerda), duas crias da Vila Belmiro, puxaram a homenagem ao Rei Pelé, cuja internação mantém o mundo da bola em alerta.

Contra a Croácia, na próxima sexta, os minutos poupados na terceira rodada poderão ter efeito. Os vice-campeões mundiais vêm de uma prorrogação. O Brasil, de um baile.

 

Foto: Lucas Figueiredo/CBF

Categorias
Copa do Mundo futebol Seleção

Bem amargo: Brasil 0, Camarões 1

Nem o clichê de que perdeu na hora certa — pois a derrota para Camarões por 1 a 0 não tirou a liderança do Brasil no grupo G — tira o gosto amargo de ser derrotado em uma Copa do Mundo. Nem o fato de França, Espanha e Portugal também terem perdido nesta terceira rodada consolam. Afinal, a partir de agora a seleção joga contra um tabu: sempre foi campeão invicta.

Não condeno a escolha de Tite — e a mencionei no último post. Os problemas físicos que se acumulam (Alex Telles e Gabriel Jesus são as novas preocupações) justificam a cautela. O espanto foi ver o qualificado time reserva desperdiçar uma excelente oportunidade de impressionar o treinador. Sejamos justos: Ederson, Fabinho e Martinelli foram muito bem. Alguns medianos, como Dani Alves (sim!, ofensivamente, mas vulnerável na defesa), Militão e Rodrygo. Mas Bruno Guimarães e Antony, que alguns clamam por titularidade, foram mal. E Jesus segue zerado em mundiais.

Houve volume ofensivo, chances desperdiçadas, defesas difíceis do goleiro camaronês. Tudo isso é verdade. Mas merecer ganhar não garante uma Copa do Mundo.

Para as oitavas, contra a Coreia do Sul, anuncia-se o retorno de Danilo — sem Alex Sandro e Alex Telles, talvez seja improvisado na lateral-esquerda, onde já jogou nos tempos de Manchester City; e Militão voltaria a atuar na direita. Fica a dúvida no meio (se Paquetá ao lado de Casemiro, com Rodrygo na frente, ou adiantado, com Fred e Guimarães disputando vaga).

Provável escalação: Alisson; Militão, Thiago Silva, Marquinhos e Danilo; Casemiro, Paquetá e Rodrygo (Bruno G. ou Fred); Raphinha, Richarlison e Vini Jr.

Não se deveria temer a Coreia do Sul, goleada recentemente pelos brasileiros em amistoso. Mas a pulga está instalada. E quem festejou a ausência de Neymar não deve estar a fim de ganhar o hexa.

 

Foto: Lucas Figueiredo/CBF

Categorias
Copa do Mundo futebol Seleção

O rumo do hexa: Brasil 1, Suíça 0

É Casemiro, o autor do gol da vitória sobre a Suíça (que garantiu ao Brasil vaga antecipada nas oitavas da Copa do Mundo de 2022), a referência do time canarinho. Ou, metaforizando a partir de sua posição, volante, é quem dá o rumo. O rumo do hexa.

Não pelo gol de hoje, que apenas enriquece a história. O camisa 5 é onipresente. Está nos desarmes, nas coberturas, na construção das jogadas e… na conclusão delas. Da bola na trave da estreia ao belo tento, suas investidas têm sido cruciais como alternativa contra defesas vigilantes como a da Suíça — que impôs mais dificuldade ainda do que a Sérvia.

Foi um jogo de paciência, resolvido apenas aos 38 minutos do segundo tempo. O termo sufoco, entretanto, só cabe na percepção de que o ataque brasileiro finalizou menos do que deveria e um eventual empate poderia ser traiçoeiro para a definição do grupo G. Defensivamente, não houve susto algum. O goleiro Alisson não sujou o uniforme.

Não sofrer gols — e é difícil vazar a equipe de Tite, que teve Militão muito bem na lateral-direita — é quesito fundamental para, no mínimo, levar um mata-mata para a disputa de pênaltis. Para evitá-la, porém, é preciso balançar a rede. A apresentação desta segunda preocupou nesse sentido. Apenas nove finalizações, com Richarlison desta vez apagado, Raphinha discreto e Vini Jr., apesar de criativo mais uma vez, fominha além da conta. Neymar? Fez falta, sim.

A opção inicial de Tite por Fred, adiantando Paquetá, não funcionou. Apesar de a Sérvia ter defendido com linha de cinco, a Suíça parecia muito mais compactada e recuada (com suas duas linhas de quatro) e ofereceu pouco perigo para justificar dois volantes brasileiros. Mas o treinador não desfez a ideia no intervalo, apenas trocou Paquetá por Rodrygo, mais inventivo — como foi, de fato, com sua assistência. Já a troca seis-por-meia-dúzia de Fred por Bruno Guimarães valeu para o camisa 17 passar na frente na fila de oportunidades.

Apesar de ainda não ter garantido a primeira posição do grupo, é provável que Tite poupe boa parte da equipe contra Camarões. Afinal, as oitavas já serão 72 horas depois. Arrisco até a escalação:

Ederson; Dani Alves, Militão, Marquinhos e Alex Telles; Fabinho, Bruno Guimarães e Rodrygo; Antony, Richarlison e Vini Jr.

Manterá os mais saudáveis e fominhas. Descansará gente fundamental como Thiago Silva e Casemiro. Everton Ribeiro e Pedro ainda aguardam suas oportunidades. Talvez no segundo tempo.

A exemplo de 2002 e 2006 (quando goleou Costa Rica e Japão, respectivamente, na terceira rodada), possibilidade de um jogo divertido, cheio de gols. Ainda que protagonizado por reservas, uma oportunidade para destravar o ataque brasileiro.

 

Foto: Lucas Figueiredo/CBF

Categorias
Copa do Mundo futebol Seleção

Pombo com asas: Brasil 2, Sérvia 0

No linguajar do futebol, o “pombo sem asa” é aquele chute distante, rasante, como se a ave recolhesse os membros para diminuir a resistência do ar e ganhar velocidade — como a bola que alcança a rede como um alvo bélico. O termo descreve arremates de fora da área, mas o Pombo brasileiro atua lá dentro, de asas abertas, e trouxe paz à estreia da seleção na Copa do Mundo de 2022. Richarlison anotou os dois gols contra a Sérvia, o segundo com um voleio maravilhoso, que exige braços abertos para executar o movimento.

O camisa 9 notabilizou o apelido pela comemoração de gols na coreografia da “Dança do Pombo” (MC Faísca e os Perseguidores). Além da irreverência, o atacante destaca-se pelo seu posicionamento político, mais pelas causas pelas quais engaja do que apoiando nomes do meio. É pró-vacina, antirracista, preocupado com o meio ambiente e mantém uma casa em Barretos para acolher pessoas carentes em tratamento contra o câncer. Certamente, deve ser louvado. Craque dentro e fora de campo.

Seu feito de hoje, claro, não ficaria alheio ao rescaldo das recentes eleições, com cenário ainda mais polarizado. Foi celebrado pela deputada Gleisi, uma das protagonistas da transição do futuro governo Lula, em ambiente protocolar. Mas, pergunto: houvesse Neymar cumprido a promessa de homenagear o ainda presidente Bolsonaro em seu primeiro gol (que não veio), o que ela diria? Daria de ombros para a vitória canarinho?

Não sou adepto do discurso de que futebol e política não se misturam — afinal, o futebol é o espelho do mundo. Mas apropriações oportunistas e até ingênuas não enriquecem o debate. Richarlison estava sorridente, colado ao ombro de Bolsonaro, na celebração da Copa América de 2019. Estar ao lado do chefe de estado numa entrega de troféu (consequência do feito esportivo) não o tornou menos progressista. Assim como a relevância de Neymar para a seleção não pode ser desprezada por quem discordou de sua dancinha ostentando o 22 com os dedos. Espanta ainda que gente clamando por um golpe nas portas de quartéis opte por boicotar a Copa… vestindo a camisa da CBF!

Vou além: tivéssemos que ser intransigentes com as mazelas por baixo do tapete do futebol — e está aí o Catar, inimigo dos Direitos Humanos —, teríamos que boicotar a Copa. Mais: não assistiríamos a evento nenhum, refém de quem pode pagar mais. Mas o esporte é exatamente a vitrine que exibe a excelência de corpos e a imperfeição de almas. Para nos lembrar que a existência é complexa.

Viva o Pombo! (e que o tornozelo de Neymar melhore logo)

 

Foto: Justin Setterfield em Fifa.com

Categorias
craques Palmeiras Seleção

Evair, o melhor pênalti

Se André Cruz foi o primeiro jogador que me encantou numa cobrança de falta, o chute da “penalidade máxima” é de Evair. Ele corria para bola daquele jeito cadenciado, com discretos saltos (bem imitados pelo craque Alex) e raramente errava. Em dois pênaltis cruciais da história do Palmeiras, ele guardou.

Quase dezesssete anos de jejum não pesaram nas costas do camisa 9 do Verdão, naquele prorrogação da final do Paulistão de 1993. “Olho no laaance…”, breve pausa de Silvio Luiz e Evair já estava nos braços da galera. Seis anos depois, na decisão da Libertadores, ele reserva, veterano, mas quando surgiu o pênalti aos 20 do segundo tempo, era só confiar. Abriu o placar. Só não fez outro na decisão dos tiros livres porque foi expulso…

Lembro-me ainda do melhor parceiro de Edmundo (e vice-versa) jogar o fino na Portuguesa, no Vasco e seguir balançando as redes num final de carreira cigano. Eu era novinho quando arrebentou no Guarani e fez bom papel na Atalanta. altou a ele a Copa de 1994. Assíduo nas eliminatórias, perdeu espaço para Ronaldo e Viola no período pré-convocação.

Meu amigo André Cavalo, paulistano e palestrino que veio pro Triângulo Mineiro, sempre era o Evair nas nossas disputas. Quando eu queria bater pênalti de direita, também diria que era Evair. Sempre evocando o “olho no laaance…”.

ASSISTA: a seleção do tetra e a importância para uma geração do futebol brasileiro.
Visite o canal do CANHOTA 10 no YouTube e inscreva-se!