Foi o roteiro perfeito para comemorar os 122 anos da Cidade Sem Limites. Ginásio Panela de Pressão cheio, o retorno de Larry Taylor, ações de entretenimento — o Dunk está mais performático — e, principalmente, a vitória folgada do Sendi/Bauru Basket sobre o Mogi das Cruzes por 81 a 57. Pouco conclusiva para um início de temporada, ainda mais diante de um adversário remontado, com pré-temporada menor e desfalcado. Mesmo assim, animador.
Perguntei ao técnico Demétrius Ferracciú se poderíamos considerar que já “deu liga” no time, pela forma com que o elenco vibrava junto a cada jogada, mas ele foi categórico em conter a euforia:
— É muito cedo para falar que deu liga… O entrosamento a gente vai ganhando. O mais importante é todo mundo estar entendendo seu papel, sua função. Pegamos um time desfalcado, isso dificultou para eles e nós os respeitamos demais, por isso tivemos essa grande vitória. Todo mundo se doou ao máximo no setor defensivo. Conseguimos revezar bastante, que todo mundo tivesse volume de jogo e tempo de quadra. Precisamos deixar o grupo bem homogêneo fisicamente — avaliou Dema.
Lucão em casa
Antes adversário — sobretudo nos tempos de Franca — e alvo de vaias e provocações, Lucas Mariano foi aplaudido por sua bela atuação (cestinha do jogo com 23 pontos) e muito procurado no pós-jogo para fotos. Conversei com o camisa 28 sobre esse novo momento e o entendimento com o grupo:
— Quanto mais pegam no seu pé, é porque é um bom jogador. Estou feliz por trabalhar aqui agora e honrar a camisa de Bauru, com muita raça, muita vontade. A sintonia do grupo está muito boa, o clima é bom dentro e fora de quadra. Temos muito para crescer juntos e chegar longe — comentou Lucão.
Sobre ontem à tarde
Vale destacar uma cena, singela, da tarde de ontem. Era a primeira vez que Larry Taylor, com a camisa do Dragão, enfrentava Guerrinha. Quando era anunciado, nome a nome, o elenco bauruense antes do Hino Nacional, Jorge Guerra aplaudiu o anúncio de Larry. Ao final da partida, abraçaram-se. Por mais que haja rancores que turvam algumas vistas, o respeito mútuo de dois personagens históricos é cristalino.
Na telinha
Abaixo, o compacto da partida (no canal da TVC Bauru no YouTube, com narração do Rafael Antonio e reportagem do Lucas Rocha, pela Jovem Pan News Bauru)
O Sendi/Bauru Basket inicia a temporada 2018/2019 neste sábado, estreando no Campeonato Paulista contra o América, em São José do Rio Preto, às 17h. Com elenco praticamente reformulado, que mistura o retorno de ídolos com a aposta em jogadores que vestirão a camisa mais pesada em suas carreiras. E com a manutenção de um dos treinadores mais badalados do basquete brasileiro, Demétrius Ferracciú, que conversou com o CANHOTA 10 durante a festa de apresentação do novo time. Dema, que está animado com o desafio de encarar, pela primeira vez, o estadual com ambição de título (com “pé embaixo desde o início”, reforçou o presidente Beto Fornazari), falou sobre a boa impressão nos treinamentos, o trabalho com Larry Taylor e sobre a sua “semana do fico“.
Cada time, cada temporada, tem a sua história. O que esse time 2018/2019 vai render em empenho e qualidade para sonhar com títulos? “A entrega deles no dia a dia já me diz muita coisa. É o que todo técnico espera de uma equipe. Principalmente dos jogadores que vieram sabendo da importância de representar o Bauru Basket, de sua grandeza. Isso dá mais motivação para eles evoluírem. Espero uma equipe bem coesa defensivamente, fortalecida fisicamente, com contra-ataque forte.”
Como você está trabalhando com essa mescla de ídolos, de qualidade inquestionável, com jogadores que estão no maior espaço da carreira deles (como Renato e Marcão)? “Quando trouxemos esses jogadores, visualizamos também o crescimento pessoal e técnico deles. Não foi somente porque fizeram uma campanha boa anteriormente. Vejo possibilidade de evolução em cada jogador, mesclado com a experiência do Larry, do Jé e do Alex, que está voltando, que são os líderes. Se cada um souber a sua função e sua importância, vai fortalecer muito a equipe.”
Quando você chegou ao Bauru Basket, o Larry já não estava mais. Obviamente, sabia do tamanho dele na história do time, mas como foi entrar em contato com essa história viva? “Quando você ouve falar, é uma coisa. Quando vê a realidade, é outra. Uma apresentação como a dele [na Panela] eu ainda não tinha visto no Brasil. O carisma que ele tem, todos o adoram… Com 38 anos de idade, é um dos que mais correm durante o treinamento. Esse carinho da cidade é um combustível, ele se entrega mais porque tem certeza de que aqui realmente é a casa dele.”
E aquela semana decisiva da sua vida? Como foi? Na segunda à noite você estava falando comigo [no programa ENTREVISTA 10], foi ao Rio de Janeiro no dia seguinte, voltou e deu o sim na sexta-feira. O que o fez decidir ficar aqui? “Foi uma longa semana. Tensa para mim, profissionalmente, para minha família, por ser uma decisão muito importante, que não envolve só o profissional, envolve esposa, filhas e três anos de uma cidade que me abraçou. Analisei e pesei tudo isso e acabou sendo fácil, pelo esforço que a diretoria fez para eu permanecer. Fui ao Rio, conversei, depois que voltei conversei com o Beto [Fornazari, presidente do Dragão] e conseguimos alinhar a minha renovação. Não foi uma decisão fácil, mas foi prazerosa, pela cidade, pela estrutura e pelo Bauru Basket, e por saber que vou ficar por mais dois anos aqui com esse projeto.”
DESFALQUE
Para a partida de estreia no Paulista, além de Alex Garcia, Gui Santos e Jaú (que fez cirurgia esta semana e só volta em 2019), o Dragão não irá contar com Larry Taylor, com desconforto na panturrilha. A partida terá transmissão da rádio Jovem Pan News Bauru, da Federação Paulista e do canal da Web TV Sem Limites.
Todo período entre temporadas faço uma entrevista de balanço e perspectivas do Bauru Basket. Habitualmente, com o diretor técnico Vitinho Jacob — que virá em breve —, mas decidi iniciar com o presidente Beto Fornazari. Afinal, ele cuida pessoalmente de assuntos cruciais como orçamento e contratações. Esses e outros assuntos são tratados francamente nesta que, provavelmente, é a entrevista mais densa que o dirigente já concedeu a um veículo bauruense. Beto fala sobre as finanças, revela bastidores de negociações, opina sobre a Liga Nacional e, claro, sobre a expectativa pela resposta do técnico Demétrius (sondado pelo Flamengo), prometida para esta quinta-feira (a entrevista foi gravada na segunda, dia 21). Papo longo e relevante, não somente para torcedores bauruenses, mas para todos os basqueteiros.
Dentro e fora da quadra, a partir do que foi planejado — passando pelas intercorrências —, os resultados foram satisfatórios? “Quando planejamos a temporada, sempre esperamos que o Bauru Basket faça uma boa campanha, pois se consolidou nos últimos anos entre as quatro forças do Brasil. Isso já é fato. Então, sempre montamos time esperando chegar entre os quatro. Foram muitas intercorrências ao longo dessa temporada. Foi uma temporada difícil, bem mais do que a anterior, que teve outra conotação. Na anterior, pegamos uma estrutura devastada depois da saída da Paschoalotto, mas herdamos um time bom, por conta dos acordos que o Rodrigo [Paschoalotto] fez, o que nos permitiu pagar menos. Fomos chegando e fomos campeões. Nesta temporada, tivemos mais tempo pra planejar — não muito em relação a jogadores, porque fomos campeões e os últimos a entrar no mercado; não havia mais o bom e barato, havia apostas e fomos buscar fora. Tentamos montar um time com uma característica um pouco diferente da do ano passado e nosso desejo era complementar com alguma peça de fora. Guardamos essa bala para o lituano [Osvaldas Matulionis]. Nossa expectativa foi maior do que o que ele poderia contribuir.”
Paco Garcia trabalhou com ele e passou algumas informações, certo? “Falou bem dele, que ia nos ajudar bastante. Isso reforçou a nossa segurança, na época. Disse que não teríamos problemas no grupo e realmente não tivemos. É um cara aplicado, disciplinado. Um europeu legítimo. Mas, pela nossa expectativa — e já tivemos um Robert Day —, esperávamos um cara mais matador. Ao longo do campeonato, ele se mostrou muito mais útil na defesa, aplicado taticamente. Esse foi o ponto que não conseguimos completar. O time foi montado com várias peças novas, praticamente novo. E não se junta todos e sai jogando, demora a engrenar. Isso aconteceu praticamente nos playoffs. Disseram que fizemos uma campanha acima do esperado. Eu não diria que foi acima, porque sempre esperamos estar entre os quatro, o que vinha falando para eles a cada passo. A tragédia para nós foi ter ficado em sexto [na fase de classificação]. Foi dolorosa aquela colocação porque naquele momento perdemos a vaga na Sul-Americana. E mudamos de pegar o Mogi para pegar Franca. Achávamos que Franca seria um adversário bastante difícil de bater e foi completamente ao contrário. Mogi começou a jogar muito bem e Franca, muito mal. O basquete tem disso. Conseguimos pelo menos completar nossa missão de chegar entre os quatro e por muito pouco não chegamos à final. Então, de uma temporada em que planejamos o time e ele conseguiu jogar, muito da mão do Demétrius, acho que completamos nosso papel. Nunca vou me satisfazer de ficar entre os quatro, a gente queria ir para a final. Não fomos pelo detalhe, nosso time ficou fisicamente prejudicado, perdemos peças. Foram várias intercorrências durante o campeonato. Muitas que muita gente nem sabe e seguramos dentro do próprio grupo. Mas realmente no final faltaram peças para fazer a reposição ideal e chegamos ao nosso limite.”
A mudança do elenco de uma temporada para a outra foi significativa. Algumas saídas por questões financeiras, mas houve também opções técnicas. “O Valtinho entrou aqui nesta sala e eu perguntei ‘O que você vai fazer da vida?’ Ele falou ‘Beto, não sei. É difícil parar, mas é difícil pensar que eu tenho que me apresentar para uma nova pré-temporada.’ E o Valtinho jogou as finais à base de injeção. Já sabendo disso, havia apalavrado um contrato com o Kendall [Anthony]. Não mantivemos um bom diálogo por causa daquele anúncio [após o Canhota 10 publicar o reforço em primeira mão] porque eu estava preocupado com o Valtinho. Ele ficou chateado. Mas, no fundo, aconteceu o que ele queria: parou de jogar. Sobre o Jé: eu sempre disse, embora alguns meios de comunicação insistiam em dizer o contrário: ele não ficou em Bauru por conta dele e do agente, que o colocaram num patamar financeiro inexistente. Não dava para pagar. Tanto que demorou, demorou… e Franca conseguiu um patrocinador máster e contratou o Jefferson, que estava sobrando. Pagaram o que ele pedia para Bauru pagar e não tínhamos condições. E falaram que ele foi para lá para ganhar a mesma coisa. Mentira. Foi para lá ganhando quase o dobro do que ganhava aqui.”
Em entrevistas, o Jefferson disse que o Bauru ofereceu salário menor do que ele ganhava antes. Houve uma tentativa de aproximar o valor que ele pedia? “Lógico. Eu propus um aumento de 30%. Ele estava valorizado, fez um bom campeonato. Não era o valor que ele esperava? Também acho. Assim como no caso agora do Rafa [Hettsheimeir]. Fez um excelente campeonato, o que vou falar para ele? Posso propor um pequeno aumento, já que o salário dele já é alto e sofremos para pagar. Tem coisa que a gente não consegue. Na época, o Jefferson estava vivendo o momento dele. Eu perguntei o valor ao agente antes de começarem as semifinais, durante as semifinais e na final. Foi sempre o mesmo. Depois da final, o mesmo. Nunca mudou o valor. Tentamos, tentamos, até que não conseguimos. Eu não tinha a confirmação da Gocil [então patrocinadora máster, que declinou], depois houve a negativa da Gocil e piorou mais ainda. No final, houve a situação de um apartamento que uma construtora ofereceu para manter o Jefferson. Eu fui falar com o agente, ele disse ‘Não queremos apartamento, queremos salário.’ Mas nesse momento ele já estava fechado com Franca. Então, o Jefferson não ficou, o Valtinho parou, o Gui foi ganhar o dobro no Vasco.”
E o Gegê? “Foi o único cara que eu me arrependi. Na verdade, eu não o segurei com dor no coração. Sempre foi. Mas eu tinha uma situação em que tínhamos Gui Santos voando fisicamente, o Stefano subindo e contratamos o Anthony para jogar 35 minutos, é a característica dele. Sobrariam poucos minutos para dois garotos em quem apostamos. Com o Gegê, qual dos dois eu iria ‘matar’? Talvez até os dois. Foi uma decisão conjunta com o Dema, os dois com o coração partido, porque é um cara fantástico, que colabora e joga bem. Está bem no Minas, renovou, antes de resolvermos alguma coisa. Eu já tinha na minha cabeça: ‘Vou ligar para o Gegê este ano’. Mas graças a Deus ele está bem lá, num clube fantástico, com estrutura ótima, cidade boa. E o Léo Meindl, quando acabou aqui, ele já voltou para Franca, avisou que não voltaria e foi para ganhar o dobro. Ainda bem que os jogadores saem de Bauru para ganhar mais, significa que nosso trabalho está bom e eles estão valorizados. Coincidência ou não, todos que saíram, fora o Gegê, não fizeram uma boa temporada. Infelizmente.”
Sócio-torcedor e preço dos ingressos foram assuntos controversos na temporada. O quanto essas rendas são significativas a ponto de ser difícil recuar? “Naquele jogo em que houve protesto, com faixas [contra Franca, dia 6 de fevereiro], eu fui à rádio [Jovem Pan News] depois. O ingresso não era 40 reais. Era 40 a inteira e 20 a meia, nesse jogo especificamente e em alguns outros. Só que não limitamos a meia-entrada. Peguei o borderô do jogo e tivemos mais meia-entrada do que inteira [497 contra 202, segundo o boletim financeiro da partida]. Ou seja: a meia-entrada prevalece. Tenho quatrocentas cortesias para patrocinadores, cortesias para jogadores são quase cem. Conseguimos vender na Panela algo em torno de 1.400 ingressos, não muito mais do que isso. Aí você pega cadeiras e outras situações… E temos as despesas do jogo. Quando eu cobro 15 reais, é prejuízo. Vinte reais, empata. Quando cobro 50/25 e todo mundo paga 25, e vai bastante gente, é quando tem algum lucro.”
Qual o custo médio de um jogo na Panela? “Algo em torno de 12 mil reais. Segurança, todo o pessoal que trabalha… Arbitragem, quase 6 mil reais. Tenho que ter eletricista, internet, dar lanche…”
Gerador em jogo de TV? “Não, a própria TV traz. Então, é um custo de 12 mil reais e muitas vezes temos prejuízo. Agora, conseguimos implantar o sócio-torcedor nosso, próprio. E estamos vendendo ingressos pela internet. Nesse último jogo contra o Paulistano, foi interessante ver muita gente comprar pela internet. Eu falava isso nas entrevistas: não posso pôr ingresso somente a 15 reais porque eu tiro das pessoas que tem um pouquinho mais de poder aquisitivo a oportunidade de assistir ao jogo. Porque quando coloco a 15 reais na bilheteria, a nossa torcida acostumada esgota. E essa pessoa que não tem esse hábito de comprar o ingresso não assiste. Não estou dizendo que vou subir o preço para trazer essas pessoas, mas preciso ter um preço razoável para não esgotar os ingressos em duas horas. E as pessoas precisam entender isso. Porque a nossa torcida é cativa, mas precisamos de outros torcedores.”
Ter público entrante. “Ter público entrante! Sabe para quê? Às vezes, um cara olha aquilo e diz ‘Eu quero patrocinar isso aqui, minha empresa pode dar alguma coisa.’ Temos que ter esse fluxo de pessoas lá dentro. Minha grande preocupação sempre foi a gente não se tornar um grupo fechado, de ao longo dos anos olharmos para as arquibancadas e estarem sempre as mesmas pessoas. Com a entrada da venda pela internet, democratizou. Vi várias vezes as pessoas comprando cadeira superior, cativa, cadeira de quadra… Vendemos vários ingressos pela internet e eram pessoas novas, que não precisaram pegar filas e acham que vale. E vale pagar 25, 30 reais para assistir a um jogo do Bauru Basket! Acho justo o protesto, o manifesto. Só que tem um contraponto que tem que ser analisado também, que é o custo do espetáculo. Não combina ingresso barato com um time de ponta. Então, é preciso dosar. Quer time bom? Custa caro.”
E o sócio-torcedor? “Eu imaginava vender todas as cadeiras superiores. Acabamos com os camarotes, achei que fosse vender tudo rápido. Chegamos a cobrar 89 reais por mês de cadeira superior e não vendeu tudo. Tem um monte de cadeira lá ainda. Eu entendi que não quiseram. Nós temos um público cativo, que sempre renova, mas estou entendendo que as pessoas preferem comprar o avulso do que manter o sócio-torcedor. De repente porque não consegue ir a todos os jogos. E isso vai ser uma tendência com a venda de ingressos pela internet. E esse jogo [o último em casa contra o Paulistano] mostrou isso. Vendemos todas as cadeiras superiores. Ah, era uma semifinal… mas acredito que isso só vá acontecer mesmo nos grandes jogos. Então, estamos bem cientes disso. Mas é uma renda importante que temos priorizado. Não vamos subir, nossa ideia é manter os valores. Até porque já subimos do que havia sendo feito e agora estamos num valor razoável.”
Como está o relacionamento com o Noroeste em relação à Panela? Com o Vôlei Bauru (com que divide o espaço)? A chegada do Vanderlei facilitou as coisas? “O Reinaldo [Mandaliti, vice do Noroeste e presidente do Vôlei Bauru] é amigo meu. O Vanderlei [Mazzuchini, novo secretário de esportes] é amigo meu. Com a entrada do Vanderlei, tende só a melhorar. É um cara que sempre foi do basquete, viveu o basquete, torce, ajuda. É muito amigo do Demétrius. Então, melhorou o relacionamento. A gente divide espaço e o Reinaldo, assim como eu, tem temperamento forte. Então, de vez em quando não concordamos com alguma coisa, mas é sempre eu brigando pelo basquete e ele pelo vôlei. Mas nunca tivemos problemas. Eu fui talvez a primeira pessoa do meio esportivo a saber do patrocínio do vôlei. Para você ver o respeito que temos um pelo outro. Ele me chamou e disse ‘Fechei com o Sesi e achei direito que você deveria ser a primeira pessoa a saber.'”
No último Jogo das Estrelas do NBB, o Paulo Skaf (presidente do Sesi) estava lá e eu o abordei. Ele deixou escapar que “não deu certo com o basquete”. O que foi essa possibilidade que sempre foi falada nos bastidores? “Tem um grupo aqui, que inclui um diretor nosso, que conhece o pessoal da Fiesp daqui, que articulou um movimento de tentar trazer o Sesi pra cá. Mas o Sesi já estava com escolinha de basquete em Franca, assim como tem o judô aqui. Eles foram conversando, tentando, mas a decisão de o Sesi apoiar o basquete em Franca causou um certo desconforto aqui. Politicamente falando, Bauru talvez fosse mais interessante, pela região… Acho que talvez ele [Skaf] tenha ficado com esse sentimento de estar apoiando lá e aqui não. E o Reinaldo também já vinha conversando com ele. Todo mundo estava atrás do Skaf. E quando o Reinaldo sentou com ele, numa situação de política, partido, ele disse que ia acabar com o vôlei do Sesi em São Paulo. O Reinaldo falou ‘Não acabe, traga para Bauru!’ E o Reinaldo me contou. Eu falei ‘Cara, eu torço por Bauru. Nosso basquete não vai acabar, fico feliz por você, que precisa parar de pôr dinheiro. Tranquilo. Vou lá prestigiá-lo [no dia do anúncio]. Só que falar que a torcida não vai pegar no pé do Skaf, por causa de Franca, não consigo garantir.’ Aí ele disse ‘E se a gente trouxer o ginásio? Tem um papo que ele quer trazer o teatro’…”
Pega o ginásio! “Matou. ‘Você matou, cara, é isso. Convence o cara’. Isso foi numa terça. Na sexta-feira, anunciou. Fizeram um misancene e anunciaram o ginásio. Eu estado do lado de lá, fiz um sinal para o Reinaldo e saí. Agora ele não pode voltar atrás. Foi excelente para todo mundo.”
Quando houver o ginásio e o Bauru Basket estiver numa final, vai ser tranquilo usá-lo? Isso já está definido? “Não tem nada escrito. Mas esperamos que seja. Não tem por quê. Com o Reinaldo tenho um acordo [informal] de usar. Ele vai usar mais, nós menos. Mas havendo um ginásio em Bauru, não vejo a menor possibilidade de falarem que somos rivais. Isso não existe.”
Como estão os projetos sociais, Corrente da Vida e o que envolve a Hípica? “O Corrente da Vida precisa ser ajustado. É um projeto meu e do Reinaldo que precisamos reestruturar após a saída do Vanderlei. Ele era o cabeça do projeto. Mas vai andar, é bom e já está dando frutos. A parceria com o CBC [Comitê Brasileiro de Clubes] está num momento muito difícil. O CBC tem clubes filiados e credenciados. Nós somos credenciados. Quando nos venderam a ideia, disseram que poderíamos participar de campeonatos e também nos cadastrar em projetos para pedir dinheiro para estruturas. Isso nos interessou muito. A ideia era que a Hípica se tornasse um clube filiado. Politicamente falando, os clubes que estão lá não querem que ninguém mais entre, porque eles ficam mordendo. Campeonatos feitos por Paulistano, Flamengo, Tijuca, Fluminense… O Paulistano, quando organiza um campeonato, cobra 20% pela organização. Tem campeonato aí que custa 3 milhões! É dinheiro… Tem uma briga: o CBC tem a chancela da CBB. O Fluminense fez um campeonato sub-21, que paga passagem aérea, estadia, estrutura maravilhosa. Teve time da Liga [Nacional de Basquete, LNB] que foi disputar esse campeonato e aí gerou ciúme na Liga, que falou ‘Gente, temos que estar juntos aqui’…”
E a Liga de Desenvolvimento (LDB, organizada pela LNB) é onerosa para os clubes… “Então, já tem um barulho aqui no meio. Ano passado, nosso sub-16 foi jogar em Belo Horizonte, num campeonato da CBC. Espetacular, meu filho foi jogar. Este ano, o sub-16 do Bauru vai jogar de novo esse campeonato, organizado pelo Mackenzie. E o sub-19 vai disputar um no Rio, no Tijuca. Aí vou parar, vou sair fora dessa história.”
Então, no CBC, Bauru pode disputar, mas não pode organizar nada? “Isso. Mas aí fica caro pagar mensalidade para disputar dois campeonatos por ano. O CBC é uma situação política complicada. Pode ser que o vôlei fique junto com a Hípica, com a ABDA[Associação Bauruense de Desportos Aquáticos], a tendência é ficarem. O Reinaldo tem o Sesi agora… Mas para mim não compensa. Eu gasto quase 15 mil reais por ano para disputar dois campeonatos.
Vamos para 2018/2019. Dema valorizado, no olho do furacão, e uma concorrência financeira desleal com o Flamengo. Como está essa situação? “O Demétrius conquistou essa situação por méritos. Foi campeão ano passado e fez uma excelente temporada agora. O que ele conquistou foi por méritos dele. Ele merece essa valorização e esse clamor da torcida toda. O que é muito bom, se ele ficar, para ter tranquilidade na montagem e para trabalhar. Não dá para falar hoje que ele é bom e amanhã falar que não é mais… Foi o aconteceu ano passado. Fomos campeões e muita gente o criticou duramente na fase de classificação. E agora ele é bom de novo… Isso mostra o profissional que ele é. Um cara dedicado, um cara de playoff, que gosta desse tipo de jogo. Ele inventa e se reinventa e conseguiu tirar o máximo do time. Já fizemos a proposta de renovação, ele teve a sondagem do Flamengo e me pediu alguns dias. Acho justo ele ter esses dias. Mas me prometeu uma definição até quinta-feira.”
Imagino que você não chega no valor do Flamengo, mas tem outros fatores a seu favor, como a cidade… “Quando as pessoas vêm pra cá, e foi assim com o Demétrius, o Alex, o Rafael e com o próprio Jefferson, que se adaptou muito bem, todos gostam muito da nossa cidade. Estou apostando muito que seja um fator decisivo. A família dele está adaptada aqui, é um fator do nosso lado. O contrário é o fator financeiro, que não temos a menor chance de competir. Ano passado, o Rafael teve uma proposta cerca de 30% maior do Flamengo. Todos davam como certa a ida dele, que não foi.”
Teve mesmo a proposta de Franca pelo Alex ano passado? “Teve. Não sei até onde foi, mas teve. O que a fizemos [voltando ao assunto Demétrius] foi isso: uma proposta com alguma majoração, alguns benefícios, mas dentro da nossa realidade financeira. Não vamos fazer leilão. Se ele tiver uma proposta bem melhor, que valha muito a pena, não tem nada. Somos amigos e vou continuar apoiando. É assim que tem que ser. Mas confio bastante que ele possa ficar.”
Independentemente disso, você já está monitorando o mercado. “Já tenho um norte. Antes de o Demétrius receber essa sondagem, já tínhamos conversado sobre algumas situações, algumas peças. Só que agora estamos ajustando a parte financeira. Há alguns contratos que vão até julho que temos que honrar. Alguns pagamentos para acertar. Hoje, estou muito preocupando com essa situação financeira, deixar tudo em ordem, fazer um cronograma de pagamentos para todos. Ainda estamos fechando todos os patrocinadores, as renovações, fazendo as reuniões agora.”
E o máster? “Já tivemos reuniões com a Sendi. Caminhou muito bem, faltando detalhes. Devemos ter a notícia ainda esta semana.”
Mas aquela cota intermediária que era da Sendi ainda é uma lacuna? “Ainda. Precisamos dessa cota. É o que está faltando no nosso orçamento. Temos feito contatos, algumas oportunidades podem surgir.”
Anthony e Osvaldas agradeceram nas redes sociais, mas não disseram adeus. São jogadores que ainda interessam? “O Osvaldas foi um consenso de que não vamos continuar com ele. Ele também estava ciente de que não deveria voltar. Com todos os demais jogadores, ainda estamos conversando. Qualquer desligamento que fizermos, já precisaremos ter a certeza de alguma peça que vai repor. Como o mercado ainda está muito lento, por incrível que pareça, estamos acompanhando. E eu preciso esperar a definição do Demétrius. O Anthony é uma situação que estamos analisando. Taticamente, poderíamos buscar outra solução para a característica de jogo dele, que só subiu de produção depois que o Alex se machucou. Essa é a característica dele, definição, reter mais a bola. Então, precisamos achar um meio termo. Hoje, ele não está nem dentro nem fora. Precisamos definir nosso time para ver se ele vai se encaixar. Já soube que ele recebeu sondagens e é um cara que se recoloca facilmente. Mas hoje eu não posso falar nem sim, nem não.”
Alex tem mais um ano de contrato. Se houver alguma procura, o Bauru está protegido por multa? “Tem multa. Ainda não sentamos para conversar, ele está se recuperando. Creio que agora seja a hora de batermos um papo. Mas acredito que ele queira ficar, temos contrato. O único fator que poderia atrapalhar é financeiro. Não acho que vamos ter problemas, mas uma vez eu disse algo para ele que vou honrar até o final. Nunca vou brigar com o Alex. Se amanhã ou depois aparecer uma proposta muito vantajosa, jamais vou brigar… O que o Alex fez por Bauru é impagável. Então, estou absolutamente tranquilo. Não quero e não posso mandá-lo embora, se ele resolver sair. Como aconteceu com o Larry. Ele tinha contrato e nós o liberamos porque ele pediu para sair, jogar em outra cidade. Liberamos sem multa alguma. Tem que ser assim com jogadores que fizeram o que fizeram por Bauru, não podemos entrar num litígio.”
Qual o seu balanço sobre os dez primeiros anos da Liga? “A Liga melhorou, cresceu. O Jogo das Estrelas é uma realidade muito boa. Crescemos em todos os números. Mas precisamos crescer juntos. A Liga só crescer não vale, os clubes têm que crescer também. Parte da nossa situação financeira, que atrapalhou nosso caixa, é que lá atrás houve um consenso de que seriam pagas as despesas de arbitragem e estadia. Eu montei o orçamento em cima disso, sem esses custos, que são altos. Isso não aconteceu e foi pesado pra gente. Eu sou um dos que brigam lá na Liga, falo que os clubes precisam de ajuda. No começo da temporada passada, eu falei, como atual campeão do NBB, que o nosso time esteve à beira de fechar as portas. Somos campeões, mas temos um monte de contas pra pagar. Os clubes estão sangrando. Não é fácil ouvir isso do time campeão em uma reunião. Nós fazemos basquete por amor e com milagres. Nós, como Liga, precisamos ter uma saúde financeira melhor. Não dá para ter telhado bacana e chão batido. Outra coisa que vai ser um divisor de águas é o fim contrato com a Globo. Precisamos negociar um contrato maior, melhor, para realmente dar um salto. O basquete vem patinando nesse sentido das transmissões. Não dá para ser como é hoje. Praticamente imploramos para o SporTV transmitir. A desculpa é que não cobram nada. Não pagam nem cobram. Antigamente, a RedeTV! cobrava para transmitir jogos. Agora, a Band não. Eu creio que agora podemos ter um novo contrato com a TV para começarmos a receber pelo produto basquete. Esse é o grande desafio da Liga, dar esse salto. E a NBA nos ajudar a negociar um contrato melhor, é o que está faltando, para os clubes terem um pouco mais de tranquilidade financeira. Esse bom contrato de TV é o que vai nos ajudar a virar o segundo esporte do Brasil bem rapidamente. Hoje ainda perdemos para o vôlei. Mas esse ano houve alguns absurdos. Mogi disputar uma final de Liga das Américas e o SporTV ter o direito e não transmitir o jogo [passou somente na internet] é um absurdo. É isso aí: em resumo, o problema da Liga é grana para os clubes, para não acabarem mais todo ano; e ter um bom contrato de TV. “
Não é uma pergunta, Dema. É uma afirmação, uma exclamação. Uma exaltação: que time foi esse! Como teimou contra a derrota. Por mais desfalcado que estivesse, cansado — diante de adversários com bancos recheados e minutagem pulverizada —, levantava após cada tombo. Como disse o Lanzoni, esse Bauru Basket foi o Rocky Balboa do NBB. Se já assistiu, há de se lembrar que numa das continuações o personagem de Stallone é exaltado após uma derrota. Como foi seu time, ontem.
Permita-me revelar um trecho de nossa conversa no último sábado:
— Dema, você está no lucro faz tempo. Tirou mais de cem por cento desse time, no meio de tantas dificuldades.
— Eu não posso pensar nisso. Não paro para pensar nisso. Só olho em frente, meu foco é ganhar o próximo jogo. É ir até o fim.
Isso resume o espírito do seu time. A carta é pra você, mas extensiva a seus colegas de comissão e aos jogadores. Valorosos. Que varreram Franca e os prognósticos. Que fizeram o Paulistano (o rolo compressor da primeira fase, não esqueçamos) correr dobrado. Você personifica a equipe porque da sua prancheta saíram jogadas obedecidas e perfeitamente executadas, sinal do espírito coletivo dessa versão 2017/2018 do Dragão.
Votei em você como melhor técnico do NBB 10. Não concordo que os votos aconteçam antes da final, pois na decisão os melhores emergem pra valer — ano passado, apesar de campeão, você não ficou nem entre os três melhores. Mas creio que meu voto seria o mesmo, independentemente dos finalistas. E não é por ser bauruense ou por amizade. Ano passado votei no Gustavinho.
Gustavinho, aliás, que demonstrou muito respeito por você nessa série. Chamou-o de “estrategista”, disse que tem respostas rápidas para as novas situações — que foram muitas… Ontem, no calor de uma entrevista pós-jogo, o técnico do Paulistano fez novo elogio. E aproveitou para enaltecer todas as comissões técnicas semifinalistas, num claro recado à CBB, que ignorou dois ciclos olímpicos de desenvolvimento dos auxiliares do Magnano (você, ele e Neto) e preferiu o estrangeiro Petrovic.
Agora é hora de descansar, mas duvido. Você vai acompanhar atentamente, com olhos estudiosos, as finais do NBB e a reta final da NBA. Ofício divertido, claro, tamanha sua paixão pelo basquete. Que exala, contagia.
No sábado, eu te desejei “bom trabalho”. Hábito meu. “Boa sorte” não me parece motivador. O destino de uma equipe não pode ser definido pelo acaso. E uma derrota não significa falta de empenho. Muito pelo contrário. Você e todo o Sendi/Bauru Basket trabalharam demais. E colheram um merecido reconhecimento.
Foram só três jogos até aqui, mas a amostragem é animadora: Rafael Hettsheimeir começou 2018 pontuando acima de sua média desde que chegou a Bauru e, melhor, insistindo no jogo interno. Ontem, por exemplo, na vitória do Sendi Bauru Basket sobre o Basquete Cearense (87 a 82), o camisa 30 fez muito trabalho de pivô raiz pra cima dos adversários Leozão e Fiorotto, levando a melhor na maioria dos embates.
A média de Hett nas três partidas de 2018 (Botafogo, Vitória e Cearense) é de 22 pontos. Para se ter uma ideia, nos dez confrontos anteriores (em 2017), registrou 11,5 por jogo. Isto é: dobrou a média.
Perguntado sobre esse melhor momento, sobretudo no poste baixo, o descontraído Canela me olhou com espanto: “Não fiz nada de diferente! Continuo trabalhando forte, tentando melhorar meu desempenho para ajudar mais a equipe”. Ponderou, entretanto, que evoluiu fisicamente nas últimas semanas. “Vim de uma lesão, demorei entrar no ritmo, mas tive a confiança do Dema e dos meus companheiros, o que ajudou bastante.” O fato de estar com uma minutagem comedida ajuda nesse aspecto físico: são 22min por partida até aqui.
Feliz com o desempenho de seu cestinha, o técnico Demétrius Ferracciú admitiu que vinha trabalhando com o atleta essa questão do jogo interno. “Foi importante ele perceber que quando joga lá embaixo e ganha confiança, o jogo abre. E ganha crédito para chutar de fora, porque já fez umas embaixo da cesta”, comenta. De fato. Nas dez primeiras partidas do NBB (quando Hett chegou a sair zerado de quadra em duas ocasiões), ele tentou 2,8 chutes de fora por jogo e o aproveitamento foi de apenas 18%. Nos últimos três jogos, arriscou do perímetro 5,3 vezes (quase o dobro) e o aproveitamento cresceu para 37%.
Acredito que há outros fatores que desencadearam esse versão 2018 de Hettsheimeir: a seleção brasileira e a concorrência. Recentemente, o técnico Aleksandar Petrovic disse à Folha de S. Paulo que “Todos querem chutar de três no Brasil e assim não se ganha nada”. Deixou claro que não quer um jogo em que todos estejam de frente para a tabela. Isso quer dizer valorizar o cincão. Nesse ponto, Rafa vê dois colegas em ótimo momento brigando por vaga: o flamenguista JP Batista e o mogiano Caio Torres, sem contar os que atuam fora, como Augusto Lima — e Felício, quando puder ser convocado.
Dominante
Então, é bom Hett aproveitar sua supremacia local para impressionar cada vez mais na função. “Ele é um jogador que faz a diferença e sabe disso. Ele estava aquecendo para o NBB, agora já aqueceu. Ele é um jogador dominante, tem muita técnica e tem que aproveitar. Está sabendo fazer isso e o time também, de encontrá-lo na melhor posição”, opinou Demétrius.