Quebrei a cabeça para encontrar termo melhor. “Lavagem de roupa suja” seria um exagero — apesar de que, de fato, houve diálogo sobre temas polêmicos —, então parece-me de bom tamanho que houve uma reunião de transparência. Afinal, foi uma iniciativa do Bauru Basket convidar imprensa, torcedores, colaboradores e apoiadores a falar sobre o que pensam da associação e sobre que rumos ela pode tomar para ser um produto ainda melhor para seu público e, consequentemente, para patrocinadores. “Estamos humildemente pedindo a opinião de vocês”, disse o ainda presidente Beto Fornazari, que compôs a mesa com o gestor Vanderlei Mazzuchini e o futuro presidente, André Goda.
Elogiável movimento, é necessário destacar — algo inédito em agremiações bauruenses. A palavra foi dada a todos. Só não se manifestou quem não quis. Eu mesmo falei sobre a construção de um time simpático (que independe de troféus), a função do comitê gestor e preços de ingressos e sócio-torcedor. Nenhum questionamento ficou sem resposta. Foi uma conversa bastante franca, inclusive sobre bastidores que, de fato, não caberiam no noticiário, mesmo em alguns casos que poderiam diminuir impressões negativas sobre o clube.
O Dragão queria mais ouvir do que falar, mas era inevitável que o encontro se tornasse um tira-dúvidas. A promessa é que haja outros, para que os envolvidos tragam impressões da comunidade basqueteira. Tomara. Boas ideias devem sempre prosperar.
Hoje é dia de festa. 1 de agosto. Aniversário de Bauru (122 anos). Dia de um bauruense ilustre — afinal, sua versão brasileira “nasceu” aqui — voltar a vestir a camisa do Dragão. A sua camisa, número 4, só dele. Para esse momento (a partir das 18h, contra o Mogi das Cruzes), o ginásio Panela de Pressão estará cheio . Os ingressos das arquibancadas se esgotaram — parabéns à diretoria pela iniciativa do preço popular. Todos querem ver o novo elenco de perto, mas, sobretudo, querem ver LARRY TAYLOR novamente em ação pelo Bauru Basket. Falei com o Alienígena sobre seu retorno, seu entusiasmo e também como foi a despedida de seu ‘pai’, Guerrinha, com quem esteve nos últimos anos em Mogi — e tantos outros na Cidade Sem Limites — e que hoje será oponente.
Quando é que você decidiu voltar? Como foi esse contato e como encara essa nova oportunidade de defender a cidade onde você ‘nasceu’ no Brasil? “Eu sempre quis voltar para Bauru, a cidade onde comecei a jogar no Brasil. Quando acabou o campeonato [NBB 10], os caras entraram em contato comigo — Beto, Joaquim, Vitinho, Dema… Marcamos uma reunião e estávamos com a mesma vontade. Foi o momento certo de retornar para casa. Dei minha palavra a eles e hoje estou aqui.”
E como foi avisar ao seu ‘pai’ Guerrinha sobre sua saída? “Foi difícil. Porque o Guerrinha não foi só meu técnico. Temos um relacionamento muito bom, tanto que as pessoas brincam que ele é meu pai. Nossa relação é especial, foi difícil me despedir dele, mas eu falei que era minha vontade voltar, ele entendeu. Conversamos de boa e isso não vai atrapalhar em nada nossa amizade.”
Na última temporada, você esteve muito acima, técnica e fisicamente, da anterior. Foi um desafio pessoal, uma resposta? E é esse alto nível que podemos esperar aqui em Bauru? “Eu queria fazer uma temporada melhor, era meu décimo NBB e nunca fui campeão. Isso ficava todo dia na minha cabeça, ‘quero ser campeão’. Desde o Paulista, comecei a treinar mais e de forma diferente, mudei minha dieta… Acabamos batendo na porta, mas não aconteceu. Eu vejo toda a força que fiz nos treinos e valeu a pena. Vou continuar no mesmo caminho e fazer o possível para ser campeão.”
Como foi a primeira visita de seu filho Joshua ao Brasil? Imagino o tamanho da sua felicidade por ele conhecer o seu mundo… “Ele ficou comigo aqui duas semanas. Ficou viciado em paçoquita! Toda noite ficava jogando videogame comigo comendo paçoquita e tomando aquela bebida de Nescau [tipo Toddynho]. Ele também gostou bastante de ir a churrascarias. E conseguimos ir a Brotas, foi minha primeira vez lá também, muito bacana. Fui levá-lo de volta aos Estados Unidos e já estou sentindo falta dele, de quando eu chegava do treino e ficávamos conversando, jogando videogame — estou bravo porque a última vez que jogamos ele ganhou e não tive revanche! Mas ele gostou bastante e fiquei muito feliz.”
O Sendi/Bauru Basket inicia a temporada 2018/2019 neste sábado, estreando no Campeonato Paulista contra o América, em São José do Rio Preto, às 17h. Com elenco praticamente reformulado, que mistura o retorno de ídolos com a aposta em jogadores que vestirão a camisa mais pesada em suas carreiras. E com a manutenção de um dos treinadores mais badalados do basquete brasileiro, Demétrius Ferracciú, que conversou com o CANHOTA 10 durante a festa de apresentação do novo time. Dema, que está animado com o desafio de encarar, pela primeira vez, o estadual com ambição de título (com “pé embaixo desde o início”, reforçou o presidente Beto Fornazari), falou sobre a boa impressão nos treinamentos, o trabalho com Larry Taylor e sobre a sua “semana do fico“.
Cada time, cada temporada, tem a sua história. O que esse time 2018/2019 vai render em empenho e qualidade para sonhar com títulos? “A entrega deles no dia a dia já me diz muita coisa. É o que todo técnico espera de uma equipe. Principalmente dos jogadores que vieram sabendo da importância de representar o Bauru Basket, de sua grandeza. Isso dá mais motivação para eles evoluírem. Espero uma equipe bem coesa defensivamente, fortalecida fisicamente, com contra-ataque forte.”
Como você está trabalhando com essa mescla de ídolos, de qualidade inquestionável, com jogadores que estão no maior espaço da carreira deles (como Renato e Marcão)? “Quando trouxemos esses jogadores, visualizamos também o crescimento pessoal e técnico deles. Não foi somente porque fizeram uma campanha boa anteriormente. Vejo possibilidade de evolução em cada jogador, mesclado com a experiência do Larry, do Jé e do Alex, que está voltando, que são os líderes. Se cada um souber a sua função e sua importância, vai fortalecer muito a equipe.”
Quando você chegou ao Bauru Basket, o Larry já não estava mais. Obviamente, sabia do tamanho dele na história do time, mas como foi entrar em contato com essa história viva? “Quando você ouve falar, é uma coisa. Quando vê a realidade, é outra. Uma apresentação como a dele [na Panela] eu ainda não tinha visto no Brasil. O carisma que ele tem, todos o adoram… Com 38 anos de idade, é um dos que mais correm durante o treinamento. Esse carinho da cidade é um combustível, ele se entrega mais porque tem certeza de que aqui realmente é a casa dele.”
E aquela semana decisiva da sua vida? Como foi? Na segunda à noite você estava falando comigo [no programa ENTREVISTA 10], foi ao Rio de Janeiro no dia seguinte, voltou e deu o sim na sexta-feira. O que o fez decidir ficar aqui? “Foi uma longa semana. Tensa para mim, profissionalmente, para minha família, por ser uma decisão muito importante, que não envolve só o profissional, envolve esposa, filhas e três anos de uma cidade que me abraçou. Analisei e pesei tudo isso e acabou sendo fácil, pelo esforço que a diretoria fez para eu permanecer. Fui ao Rio, conversei, depois que voltei conversei com o Beto [Fornazari, presidente do Dragão] e conseguimos alinhar a minha renovação. Não foi uma decisão fácil, mas foi prazerosa, pela cidade, pela estrutura e pelo Bauru Basket, e por saber que vou ficar por mais dois anos aqui com esse projeto.”
DESFALQUE
Para a partida de estreia no Paulista, além de Alex Garcia, Gui Santos e Jaú (que fez cirurgia esta semana e só volta em 2019), o Dragão não irá contar com Larry Taylor, com desconforto na panturrilha. A partida terá transmissão da rádio Jovem Pan News Bauru, da Federação Paulista e do canal da Web TV Sem Limites.
Não é uma pergunta, Dema. É uma afirmação, uma exclamação. Uma exaltação: que time foi esse! Como teimou contra a derrota. Por mais desfalcado que estivesse, cansado — diante de adversários com bancos recheados e minutagem pulverizada —, levantava após cada tombo. Como disse o Lanzoni, esse Bauru Basket foi o Rocky Balboa do NBB. Se já assistiu, há de se lembrar que numa das continuações o personagem de Stallone é exaltado após uma derrota. Como foi seu time, ontem.
Permita-me revelar um trecho de nossa conversa no último sábado:
— Dema, você está no lucro faz tempo. Tirou mais de cem por cento desse time, no meio de tantas dificuldades.
— Eu não posso pensar nisso. Não paro para pensar nisso. Só olho em frente, meu foco é ganhar o próximo jogo. É ir até o fim.
Isso resume o espírito do seu time. A carta é pra você, mas extensiva a seus colegas de comissão e aos jogadores. Valorosos. Que varreram Franca e os prognósticos. Que fizeram o Paulistano (o rolo compressor da primeira fase, não esqueçamos) correr dobrado. Você personifica a equipe porque da sua prancheta saíram jogadas obedecidas e perfeitamente executadas, sinal do espírito coletivo dessa versão 2017/2018 do Dragão.
Votei em você como melhor técnico do NBB 10. Não concordo que os votos aconteçam antes da final, pois na decisão os melhores emergem pra valer — ano passado, apesar de campeão, você não ficou nem entre os três melhores. Mas creio que meu voto seria o mesmo, independentemente dos finalistas. E não é por ser bauruense ou por amizade. Ano passado votei no Gustavinho.
Gustavinho, aliás, que demonstrou muito respeito por você nessa série. Chamou-o de “estrategista”, disse que tem respostas rápidas para as novas situações — que foram muitas… Ontem, no calor de uma entrevista pós-jogo, o técnico do Paulistano fez novo elogio. E aproveitou para enaltecer todas as comissões técnicas semifinalistas, num claro recado à CBB, que ignorou dois ciclos olímpicos de desenvolvimento dos auxiliares do Magnano (você, ele e Neto) e preferiu o estrangeiro Petrovic.
Agora é hora de descansar, mas duvido. Você vai acompanhar atentamente, com olhos estudiosos, as finais do NBB e a reta final da NBA. Ofício divertido, claro, tamanha sua paixão pelo basquete. Que exala, contagia.
No sábado, eu te desejei “bom trabalho”. Hábito meu. “Boa sorte” não me parece motivador. O destino de uma equipe não pode ser definido pelo acaso. E uma derrota não significa falta de empenho. Muito pelo contrário. Você e todo o Sendi/Bauru Basket trabalharam demais. E colheram um merecido reconhecimento.
O escudo que abre esta matéria é o do Noroeste, mas cabem os demais, como pensa o entrevistado. Reinaldo Mandaliti assumiu há poucos dias a vice-presidência de futebol do Noroeste, ao mesmo tempo em que segue sendo o homem-forte do Vôlei Bauru. É o elo mais forte, hoje, da união formalizada na diretoria do Norusca, que ainda tem Vitinho Jacob (diretor técnico do Bauru Basket) como diretor de patrimônio e Neto Ranieri (gestor da FIB Futsal) como diretor social.
A chegada da família Mandaliti ao cenário noroestino é na verdade um retorno. Valdomir Mandaliti, pai de Rodrigo e Reinaldo, foi presidente do Noroeste. E os irmãos têm ajudado financeiramente o clube desde 2015 — na última reunião do Conselho Deliberativo, inclusive, registraram como doação todos esses valores.
Fala, Reinaldo Mandaliti
A seguir, uma breve entrevista com o novo vice-presidente de futebol sobre essa união das modalidades que tanta esperança despertou nos bauruenses que gostam de esporte.
Essa união pode gerar um grande intercâmbio. Como o know-how de um pode ajudar o outro? “Não tem outro jeito de pensar o esporte se não for assim. Não pode ter a vaidade de não unir, de não economizar, de não criar um projeto maior, um valor na marca dessa união. Por que um patrocinador do basquete não pode aparecer nos três esportes e ter uma mídia maior? Por que não ter um sócio-torcedor único? Dividir a renda e melhorar, não prejudicando nenhuma das modalidades. Há várias coisas que dá pra criar. Temos que nos unir e diminuir despesas. Por que o Vanderlei [Mazzuchini, gestor do Vôlei Bauru] não pode administrar o Noroeste e o Vôlei Bauru? Por que não podemos unir as fisioterapias do Noroeste e do Bauru Basket? A máquina de gelo do vôlei faz 180kg por dia, pode ser dividida por todos. A preparação física pode ter um líder e vários estagiários. Temos que criar formas de baratear os projetos, aumentar a exposição para ficar acessível aos empresários.“
Mas, a princípio, cada um com seu CNPJ? “Sempre será cada um com seu CNPJ. Mas eu já disse ao Estevan que vou ter uma reunião com a diretoria do vôlei: pretendo jogar, além do símbolo do Vôlei Bauru, com o símbolo do Noroeste. Acho que temos que unificar isso. E por que não ter o Dragão na camisa do Vôlei? Temos que pensar nisso, levar essa marca, dizer que Bauru é grande no esporte. Nenhuma cidade do interior do Brasil tem tantas modalidades fortes. Que venha o fustal também! [Veio! Entrevista antes do convite a Neto Ranieri] E na base podemos chamar a ABDA… Esses times têm mais exposição, a ABDA tem o lado social — como o Vôlei Bauru tem um projeto agora. Queremos conversar com a ABDA, falamos com o hipismo da Hípica, com o próprio Bauru Basket. Base temos que tratar todos juntos. O futsal pode ser trampolim para a base do Noroeste: Neymar e Robinho saíram do futsal… Temos que aproveitar essa integração e ter o esporte mais forte ainda.“
Em 2015, eu entrevistei o Rodrigo Paschoalotto e ele falou desse desejo de unir os esportes e mencionou seu nome. Faço esse resgate para mostrar que é algo que já vinha sendo conversado e é um desejo de quem gosta do esporte em Bauru e tem condições de lutar por ele. O primeiro passo foi dado agora, certo? “Eu e meu irmão Rodrigo conversávamos com o Rodrigo Paschoalotto o tempo inteiro. Vamos baratear, acertar… Mas encontramos alguns obstáculos que agora, depois de um tempo, foram superados. Hoje o Brasil está em crise, há pouco dinheiro para o esporte, há times se deteriorando porque não há patrocínio. É necessidade versus possibilidade. Conversamos que era preciso nos unir, que não adianta ficar vivendo de mecenas, senão não haverá esporte. Uma hora eu vou me cansar, uma hora o Beto [Fornazari, presidente do Bauru Basket] vai se cansar, o seu Damião se cansou… Então, temos que fazer o esporte ter vida única, perene, um projeto com as próprias pernas.“
E sua situação como dirigente? Continua firme no Vôlei Bauru? Vai concentrar forças no Noroeste? “Como o treino é na Panela, chego cedo no dia que marcar. Depois fico até nove, dez da noite no Noroeste para poder me dedicar. Quero ajudar o Noroeste, torná-lo forte, quero que suba. Vou dar o meu melhor. Quando entrei no vôlei com meu irmão, era para chegar na Superliga. Somos teimosos. Já falei para o Estevan que o Noroeste vai subir. Esse é o objetivo.“
Houve burburinho nos últimos tempos, de ter que sair um para entrar o outro. E vocês conseguiram formatar uma diretoria com todos que querem ajudar o clube. “O Noroeste é mais importante do que o Reinaldo, o Estevan, o Beto, o Vitinho Jacob, qualquer pessoa. Acertamos os pontos, decidimos que as decisões têm que ser coletivas, está tudo certo.“