Pronto, a página virou. Na manhã desta quarta, o novo técnico do Paschoalotto Bauru, Demétrius Ferracciú, foi apresentado, concedeu entrevista coletiva e já comandou treinamento no ginásio Panela de Pressão. Bem articulado, de fala segura, o ex-armador de 42 anos mostrou-se ciente do desafio que assumiu e motivadíssimo a encará-lo. Obviamente, houve perguntas sobre o desligamento de Guerrinha, que Rodrigo Paschoalotto e Vitinho Jacob responderam com a franqueza desejada (leia mais abaixo) e que não se lê em breves comunicados oficiais — por isso precisavam ser feitas.
Seguem os principais pontos da coletiva com Demétrius, que afirmou ter pedido o agendamento de dois amistosos de preparação antes da estreia no NBB, dia 2 de novembro, contra o Flamengo:
Ligação para Guerrinha
“Eu liguei para ele, porque sempre quando foi campeão eu liguei para das os parabéns; sempre que perdeu, liguei para dar um apoio. Nós temos um relacionamento de muito respeito, sinceridade e lealdade. Joguei junto com ele em Franca. Então, liguei para dar meu apoio, mesmo sabendo que meu nome estava envolvido em ser o substituto. Ele sabe que eu não tenho nada a ver com isso — eu estava empregado —, sabe da minha índole e do meu caráter. Então fiquei muito tranquilo em conversar com ele, dar uma força. Porque, queira ou não, ele está chateado, num momento mais triste e a minha intenção foi dar esse apoio, pela consideração e respeito que tenho por ele.”
De BH para Bauru
“É um desafio na minha carreira. Sou movido a isso. Minha vida inteira foi assim, como jogador e como técnico. Eu poderia ficar numa zona de conforto, mas quando a gente tem desafio a gente cresce.”
Passado na Sem Limites
“Facilitou bastante, pela maneira que sempre fui recebido quando vinha jogar aqui. Essa história nas categorias de base, o carinho que sempre tive com as pessoas facilitou sim, me senti muito mais à vontade de tomar a decisão.”
Pressão
“Faz parte do nosso dia a dia, sempre vamos ter e temos que saber lidar. Esse jogo contra o Flamengo [estreia no NBB] é importantíssimo, mas também não é um jogo que, perdeu, tudo vai desabar. Não é um jogo de vida ou morte, achar que está tudo errado. Precisamos ter tempo nesse trabalho, nosso foco é a competição, jogo a jogo. Queremos ser campeões.”
Planejamento na temporada regular do NBB
“Brigar pelo G-2, diretamente com o Flamengo, para ter vantagem nos playoffs até o final. Mas, pela qualidade da nossa equipe, podemos ganhar em qualquer lugar. O importante é estar focado no dia a dia, pois não se resume no jogo.”
Estilo de trabalho
“Vou começar a colocar minha filosofia, a maneira como eu trabalho. Tem bastante coisa diferente do que Bauru já fazia e vou tentar colocar já a minha cara para o time ir se adaptando. Sei que tem pouco tempo, não vou colocar tudo ainda, mas boas situações já serão colocadas. Dentro do que acredito, vou colocar situações que, com certeza, vamos ter muitas opções táticas, uma diversidade grande quando tivermos dificuldades em um jogo. O objetivo é ter conversas, parte tática. Não tenho uma receita, é muito do feeling do dia a dia, sentir que jogador precisa de uma conversa, um estímulo, uma cobrança. Como fui jogador, eu sei o que o jogador sente quando o técnico vai conversar com ele e da maneira que vai conversar.”
Assimilação do grupo
“É um desafio, mas pela categoria e pelo nível dos jogadores, com experiência de Seleção, onde também tem que ser rápido colocar o sistema tático, já sabemos que eles se adaptam rápido ao que você quer. A execução é que mais difícil saber o momento certo, mas com o tempo vamos fazer direitinho.”
Defesa forte
“O Alex é um dos maiores defensores do mundo. Quando ia jogar contra ele, sempre pensava ‘Pô, vou ter essa cara colado o tempo inteiro em cima de mim’… Mas a defesa não consiste em apenas um jogador, o importante é o que ele contagia e os outros precisam estar atentos e pegar o gosto de querer defender, porque a gente vê hoje, no basquete, que a maior dificuldade é jogar cinco contra cinco. E para evitar isso tem que defender e chegar em transição, em contra-ataque. É o segundo ano consecutivo que minha equipe tem a melhor defesa do campeonato e vou colocar essa filosofia aqui porque, pelo nível dos jogadores, se conseguirmos defender bem, nossas chances aumentam bastante.”
Categorias de base
“Já conheço alguns jogadores e a estrutura. Claro que agora o foco principal é o adulto. Mas com o Hudson e o Germano [assistentes técnicos] vamos avaliar. Já fui técnico da Seleção sub-17, 18, 19 e venho acompanhando essa geração. Isso facilita. A gente sabe do potencial e da característica de alguns e o importante é que estejam prontos para qualquer situação que aparecer no adulto. Assim que tiver a oportunidade, com certeza vamos aproveitar.”
PARA FINALIZAR…
… o assunto demissão e seus desdobramentos, seguem os posicionamentos de Vitinho Jacob e Rodrigo Paschoalotto.
“A gente precisava de um algo novo para o NBB. Entendemos, pensando pra frente, que precisávamos de uma mudança, um novo sistema de jogo. Foi muito difícil essa decisão, até pelo histórico do Guerrinha como pessoa, como participante de toda a estrutura e pelos resultados conquistados por ele. Mas a decisão do comitê foi que, para os futuros compromissos, precisávamos de uma mudança de estratégia no comando da equipe”, disse Vitinho, diretor técnico do Dragão.
Com sua habitual franqueza, Rodrigo aproveitou para pulverizar as desconfianças. “A Paschoalotto não vai sair do basquete. Pode sair daqui três anos? O país está em crise. Mas nossa vontade não é sair. O salário não está atrasado. Desmanche? O Larry saiu porque quis. Queria mais minutos, e quem poderia dar mais minutos era o técnico. O Gui precisa de mais rodagem e acho que um dia ele volta pra Bauru. As reposições foram à altura. Não tem jogador saindo, a espinha dorsal do time tem contrato de dois, três anos ainda. Pode sair? Se pagar multa, para a gente repor à altura. Agora temos é que unir forças para o Bauru Basket continuar ser campeão. Agora tem que ter energia boa, todo mundo que gosta do Bauru Basket. Vamos apoiar a equipe, não vamos desfocar. Técnicos vão e vêm, jogadores vão e vêm. O que fica é a instituição”.
O presidente do patrocinador máster também comentou a troca do comando do time. “Seria muito mais cômodo se não fizésssemos nada. Poderíamos ter uma boa campanha, até ser campeões, mas acho que, do jeito que estava, o caminho não era de vitórias. Não quisemos ficar na zona de conforto, queremos testar algo novo para melhorar. Fazer mudanças não é desprestigiar quem estava, mas é buscar algo melhor. E não significa que o outro era pior. É testar algo novo. E a decisão é do comitê gestor, não é de A ou B, quem disse sim ou não. O Guerrinha foi importantíssimo. Ao lado do Demétrius, ele é um dos melhores técnicos do Brasil. Não estamos discutindo qualidade. Talvez sem ele não haveria basquete em Bauru. O que a gente discute é que queremos oxigenar, o que só vamos ter mudando. É um risco? Como tudo na vida. Tinha muita coisa interna que ninguém acompanhava. Mas agora não é hora de caça às bruxas. Poderíamos ser campeões do NBB com o Guerrinha? Poderíamos. Como acho que vamos ser com o Demétrius”, finalizou.
Foto do topo: Caio Casagrande/Bauru Basket