
A chegada • out/2002
O Noroeste apanhava de todo mundo em campo na Copa Estado (atual Copa Paulista) e fora de campo devia bastante na praça. Beirava o caos. Vinha de duas renúncias recentes na presidência (Valdomir Mandaliti e Sidnei Florenzano), quando Toninho Gimenez assumiu um mandato-tampão, apoiado pelo aporte financeiro de Damião Garcia. A prioridade era colocar as contas em ordem. O complexo, sucateado, torna-se um canteiro de obras para ser revitalizado — um processo capitaneado por Celso Zinsly, cronista esportivo de estilo enérgico, de arregaçar as mangas. Ele era o braço direito de Damião em Bauru.
Presidente • abr/2003
Após uma discreta participação na Série A3 — a prioridade era investir no extracampo, recolocar o clube nos trilhos, financeiramente e na estrutura —, Damião Garcia assume a presidência. Concretiza-se, na prática, o que já vinha acontecendo nos bastidores: ser a figura central da reconstrução do Noroeste. “O nosso clube será fortalecido e voltará a disputar a primeira divisão. E não será num futuro tão distante”, prometeu na ocasião — e cumpriu.
O primeiro acesso • jun/2004
Depois de uma campanha conturbada, o Noroeste consegue o prometido acesso à Série A2, após um dramático empate em 0 a 0 contra o XV, em Piracicaba. O elenco era comandado em campo pelo experiente goleiro Maurício e pelo atacante Gileno. Vitor Hugo, sempre ele, foi convocado para treinar o Norusca nas três últimas partidas. Ele fizera um acordo “no fio do bigode” para aquela reta final.
A volta à elite • jun/2005
Meses após a histórica campanha na Copa SP de juniores — o time chegou às oitavas, lotando o Alfredão, e teve Borebi artilheiro da competição —, o Noroeste cumpria em campo a promessa de Damião: retornava à elite estadual. Treinado por Paulo Comelli, o elenco alvirrubro tinha nomes de peso (Maurício, Gilmar Fubá) e fez a festa do acesso para mais de 15 mil pessoas no Alfredão, na goleada sobre o Bandeirante de Birigui. Ainda fez a final da Série A2 contra o Juventus, na Rua Javari, mas ficou com o vice.
A primeira taça • nov/2005
Com uma boa mescla de jovens e veteranos, treinados por Carlos Alberto Seixas (o comandante na campanha da Copinha), o Noroeste venceu a Copa Federação (atual Copa Paulista), vencendo as duas partidas finais contra o Rio Claro. Daquele elenco, Bonfim, Luciano Bebê e Otacílio Neto seriam assíduos no time que faria história no Paulistão 2006. A conquista ainda significa a então inédita vaga na Copa do Brasil.
Paulistão inesquecível • abr/2006
Até aquele momento, a melhor campanha noroestina no estadual era o quinto lugar em 1960, daquele timaço de Julião, Pierre, Zé Carlos Coelho e Toninho Guerreiro. Até que vieram outros nomes para a história: Mauro, Paulo Sérgio, Luciano Santos, Hernani, Lenílson e Rodrigo Tiuí e companhia. O quarto lugar, no campeonato de pontos corridos em turno único, deixou a sensação de que o título não era impossível, mas foi notória a desacelerada do time depois da fatídica morte do diretor Celso Zinsly, vítima de infato fulminante em pleno Alfredão, na partida contra o Palmeiras. Foram muitos os gestores de futebol que sucederam Celso (Fabinho, Vitor Hugo, Ricardo Occhiuto, Joice Queiroz, Beto Souza), mas nenhum deles conseguiu aproximar Bauru do Noroeste.

Fim do sonho nacional • set/2008
Em sua terceira participação seguida na Série C do Campeonato Brasileiro, o Noroeste se despedia do sonho da Série B, um degrau compatível com a estrutura alvirrubra, que garantiria calendário cheio e visibilidade para as ambições de Damião — a elite nacional, por que não… Mas aquela Terceirona de 2008 tinha uma “nota de corte”, pois a partir de 2009 haveria a Série D. Estaria garantido quem avançasse à terceira fase, mas o Norusca falhou.
A primeira queda • abr/2009
Com um elenco formado por Fernando Garcia, desembarcaram em Alfredo de Castilho muitos medalhões acima do peso. Resultado: lanterna e primeiro rebaixamento da era Damião. Foi o primeiro passo do filho do presidente como agente de jogadores. Salvou-se daquele plantel o meia Bruno César, que rendeu bons dividendos ao cartola. O ano de 2009 também foi marcado pelo “fica-não fica” de Damião. Em seus dez anos de gestão, por mais de uma vez o dirigente anunciou a renúncia e voltou atrás — sempre com a intenção, em vão, de sensibilizar o empresariado local.
Acesso no centenário • abr/2010
Um dos motivos de Damião voltar atrás na renúncia é que prometera devolver o Noroeste à primeira divisão. E o fez logo de cara. Não foi fácil, pois o time era inconstante e dependente do centroavante Zé Carlos. Aos trancos e barrancos, subiu, coroando o ano do centenário do clube. Um ano, aliás, de rocambólicas e ineficientes estratégias de marketing. Este, um dos pontos de crítica da era Damião: ele falhou em reaproximar de forma definitiva o time dos bauruenses.
Nova queda • abr/2011
Fora da diretoria, mas influente nos bastidores, Fernando Garcia emplacou oito atletas no elenco noroestino para o Paulistão. A partir de outubro de 2010, dando a impressão de estar adiantado, o clube contratou jogadores dispensados de suas equipes antes do fim da temporada, por deficiência técnica ou estado físico comprometido — como Cris, Matheus Ferraz, Da Silva, Gleidson, Francis e Vandinho. Deu no que deu: mais um rebaixamento.
A última eleição • fev/2012
Depois de passar intermináveis semanas em silêncio no final de 2011, deixando cidade e torcedores apreensivos, Damião Garcia reaparece, decide seguir no clube e é reeleito presidente. Debilitado, delega o comando a seu neto, João Paulo, eleito vice-presidente. O time faz boa campanha na Série A2, chega à fase decisiva e por pouco não sobe. O fortalecimento das categorias de base sinaliza uma preocupação com o futuro, mas…
Saída repentina • set/2012
Diz a lenda que uma faixa da torcida, de cabeça pra baixo, foi a gota d’água. A família Garcia já estava magoada há tempos com as críticas. Com Damião bastante debilitado, somado ao abalo da perda recente da esposa, não havia porque ter mais um desgosto. O problema é que uma das críticas se concretizou: a transição não foi preparada. Do dia para a noite, o clube não tinha um tostão — cerca de 90% da receita vinha do próprio bolso de Damião… Com mandato tampão de Toninho Gimenez, ainda com patrocínio mensal de R$ 50 mil da Kalunga, o Noroeste conquistou a Copa Paulista e sonhou com um novo mecenas (Toninho Alencar, da Mariflex, que refugou), mas acabou mergulhando numa crise profunda, que chegou ao ponto de levar o clube à quarta divisão paulista. Dos R$ 14 milhões devidos aos Garcia, R$ 8 milhões referentes às pessoas físicas da família foram perdoados. Restam R$ 6 milhões devidos a uma pessoa jurídica que constam no balancete de 2015. O de 2016 mostrará se também será perdoada.
Conforme já citei em mais de um texto no Canhota 10, Damião Garcia merece ser reverenciado, Bauru e o Noroeste devem ser gratos a ele. As críticas aos aspectos negativos de sua gestão, entretanto, foram necessárias e acabaram por ser proféticas — ninguém do universo político do clube se preparou para viver sem o mecenas.
Foto topo: Arquivo/jornal Bom Dia


Durante a transmissão de Noroeste x Paraná Clube, pela Copa São Paulo de Juniores, no último domingo (8/1), o jornalista Rafael Antônio, do