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Cronologia da Era Damião no Noroeste

retranca-ECNConforme prometido, vamos nos aprofundar um pouco mais nas memórias da passagem de Damião Garcia (que morreu no último dia 22, aos 85 anos) pelo Noroeste. Neste texto, os passos mais importantes, entre muitas alegrias e algumas tristezas, da marcante atuação do dirigente durante exatos dez anos.

A chegada • out/2002
O Noroeste apanhava de todo mundo em campo na Copa Estado (atual Copa Paulista) e fora de campo devia bastante na praça. Beirava o caos. Vinha de duas renúncias recentes na presidência (Valdomir Mandaliti e Sidnei Florenzano), quando Toninho Gimenez assumiu um mandato-tampão, apoiado pelo aporte financeiro de Damião Garcia. A prioridade era colocar as contas em ordem. O complexo, sucateado, torna-se um canteiro de obras para ser revitalizado — um processo capitaneado por Celso Zinsly, cronista esportivo de estilo enérgico, de arregaçar as mangas. Ele era o braço direito de Damião em Bauru.

Presidente • abr/2003
Após uma discreta participação na Série A3 — a prioridade era investir no extracampo, recolocar o clube nos trilhos, financeiramente e na estrutura —, Damião Garcia assume a presidência. Concretiza-se, na prática, o que já vinha acontecendo nos bastidores: ser a figura central da reconstrução do Noroeste. “O nosso clube será fortalecido e voltará a disputar a primeira divisão. E não será num futuro tão distante”, prometeu na ocasião — e cumpriu.

O primeiro acesso • jun/2004
Depois de uma campanha conturbada, o Noroeste consegue o prometido acesso à Série A2, após um dramático empate em 0 a 0 contra o XV, em Piracicaba. O elenco era comandado em campo pelo experiente goleiro Maurício e pelo atacante Gileno. Vitor Hugo, sempre ele, foi convocado para treinar o Norusca nas três últimas partidas. Ele fizera um acordo “no fio do bigode” para aquela reta final.

A volta à elite • jun/2005
Meses após a histórica campanha na Copa SP de juniores — o time chegou às oitavas, lotando o Alfredão, e teve Borebi artilheiro da competição —, o Noroeste cumpria em campo a promessa de Damião: retornava à elite estadual. Treinado por Paulo Comelli, o elenco alvirrubro tinha nomes de peso (Maurício, Gilmar Fubá) e fez a festa do acesso para mais de 15 mil pessoas no Alfredão, na goleada sobre o Bandeirante de Birigui. Ainda fez a final da Série A2 contra o Juventus, na Rua Javari, mas ficou com o vice.

A primeira taça • nov/2005
Com uma boa mescla de jovens e veteranos, treinados por Carlos Alberto Seixas (o comandante na campanha da Copinha), o Noroeste venceu a Copa Federação (atual Copa Paulista), vencendo as duas partidas finais contra o Rio Claro. Daquele elenco, Bonfim, Luciano Bebê e Otacílio Neto seriam assíduos no time que faria história no Paulistão 2006. A conquista ainda significa a então inédita vaga na Copa do Brasil.

Paulistão inesquecível • abr/2006
Até aquele momento, a melhor campanha noroestina no estadual era o quinto lugar em 1960, daquele timaço de Julião, Pierre, Zé Carlos Coelho e Toninho Guerreiro. Até que vieram outros nomes para a história: Mauro, Paulo Sérgio, Luciano Santos, Hernani, Lenílson e Rodrigo Tiuí e companhia. O quarto lugar, no campeonato de pontos corridos em turno único, deixou a sensação de que o título não era impossível, mas foi notória a desacelerada do time depois da fatídica morte do diretor Celso Zinsly, vítima de infato fulminante em pleno Alfredão, na partida contra o Palmeiras. Foram muitos os gestores de futebol que sucederam Celso (Fabinho, Vitor Hugo, Ricardo Occhiuto, Joice Queiroz, Beto Souza), mas nenhum deles conseguiu aproximar Bauru do Noroeste.

Alfredão lotado na volta à elite, em partida contra o Corinthians. Foto: Juliana Lobato
Alfredão lotado na volta à elite, em partida contra o Corinthians. Foto: Juliana Lobato

Fim do sonho nacional • set/2008
Em sua terceira participação seguida na Série C do Campeonato Brasileiro, o Noroeste se despedia do sonho da Série B, um degrau compatível com a estrutura alvirrubra, que garantiria calendário cheio e visibilidade para as ambições de Damião — a elite nacional, por que não… Mas aquela Terceirona de 2008 tinha uma “nota de corte”, pois a partir de 2009 haveria a Série D. Estaria garantido quem avançasse à terceira fase, mas o Norusca falhou.

A primeira queda • abr/2009
Com um elenco formado por Fernando Garcia, desembarcaram em Alfredo de Castilho muitos medalhões acima do peso. Resultado: lanterna e primeiro rebaixamento da era Damião. Foi o primeiro passo do filho do presidente como agente de jogadores. Salvou-se daquele plantel o meia Bruno César, que rendeu bons dividendos ao cartola. O ano de 2009 também foi marcado pelo “fica-não fica” de Damião. Em seus dez anos de gestão, por mais de uma vez o dirigente anunciou a renúncia e voltou atrás — sempre com a intenção, em vão, de sensibilizar o empresariado local.

Acesso no centenário  • abr/2010
Um dos motivos de Damião voltar atrás na renúncia é que prometera devolver o Noroeste à primeira divisão. E o fez logo de cara. Não foi fácil, pois o time era inconstante e dependente do centroavante Zé Carlos. Aos trancos e barrancos, subiu, coroando o ano do centenário do clube. Um ano, aliás, de rocambólicas e ineficientes estratégias de marketing. Este, um dos pontos de crítica da era Damião: ele falhou em reaproximar de forma definitiva o time dos bauruenses.

Nova queda  • abr/2011
Fora da diretoria, mas influente nos bastidores, Fernando Garcia emplacou oito atletas no elenco noroestino para o Paulistão. A partir de outubro de 2010, dando a impressão de estar adiantado, o clube contratou jogadores dispensados de suas equipes antes do fim da temporada, por deficiência técnica ou estado físico comprometido — como Cris, Matheus Ferraz, Da Silva, Gleidson, Francis e Vandinho. Deu no que deu: mais um rebaixamento.

A última eleição • fev/2012
Depois de passar intermináveis semanas em silêncio no final de 2011, deixando cidade e torcedores apreensivos, Damião Garcia reaparece, decide seguir no clube e é reeleito presidente. Debilitado, delega o comando a seu neto, João Paulo, eleito vice-presidente. O time faz boa campanha na Série A2, chega à fase decisiva e por pouco não sobe. O fortalecimento das categorias de base sinaliza uma preocupação com o futuro, mas…

Saída repentina • set/2012
Diz a lenda que uma faixa da torcida, de cabeça pra baixo, foi a gota d’água. A família Garcia já estava magoada há tempos com as críticas. Com Damião bastante debilitado, somado ao abalo da perda recente da esposa, não havia porque ter mais um desgosto. O problema é que uma das críticas se concretizou: a transição não foi preparada. Do dia para a noite, o clube não tinha um tostão — cerca de 90% da receita vinha do próprio bolso de Damião… Com mandato tampão de Toninho Gimenez, ainda com patrocínio mensal de R$ 50 mil da Kalunga, o Noroeste conquistou a Copa Paulista e sonhou com um novo mecenas (Toninho Alencar, da Mariflex, que refugou), mas acabou mergulhando numa crise profunda, que chegou ao ponto de levar o clube à quarta divisão paulista. Dos R$ 14 milhões devidos aos Garcia, R$ 8 milhões referentes às pessoas físicas da família foram perdoados. Restam R$ 6 milhões devidos a uma pessoa jurídica que constam no balancete de 2015. O de 2016 mostrará se também será perdoada.

Conforme já citei em mais de um texto no Canhota 10, Damião Garcia merece ser reverenciado, Bauru e o Noroeste devem ser gratos a ele. As críticas aos aspectos negativos de sua gestão, entretanto, foram necessárias e acabaram por ser proféticas — ninguém do universo político do clube se preparou para viver sem o mecenas.

 

Foto topo: Arquivo/jornal Bom Dia