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Clássico com torcida única não é a melhor solução

Nas últimas semanas, notícias envolvendo o Campeonato Carioca ganharam as manchetes esportivas pelas decisões judiciais determinando clássicos com torcida única. Essas notícias reabriram a discussão sobre a legalidade e a real efetividade de privar uma das torcidas em grandes jogos, visando diminuir a violência em nossos estádios.

No Brasil, não há uma legislação federal que determine a proibição de uma das torcidas nesses eventos, motivo pelo qual cada estado tem adotado uma postura. A base dessa discussão reside no direito fundamental de segurança de qualquer cidadão, garantido pela nossa Constituição Federal, legislação máxima no país.

Utilizando essa base legal, o Ministério Público passou a requerer determinações judiciais de isolamento das torcidas nos grandes clássicos, visando acabar com os violentos acontecimentos ocorridos nos últimos anos.

Em São Paulo, desde o ano de 2016, os quatro grandes clubes acordaram com a Secretaria de Segurança Pública, a Federação Paulista e o Ministério Público de adotar a torcida única nos jogos de maior porte. Essa prática resultou em excelentes notícias, como o aumento do número de crianças e mulheres nos estádios e a diminuição dos incidentes entre a torcida e a Polícia.

Parece, então, a solução para a violência? Ainda não. Essa determinação visa, na realidade, um choque emergencial para diminuir a crise da segurança nos estádios, que aumentava gradativamente.

Apesar de outros países terem adotado definitivamente essa prática, como no caso da Argentina, precisamos pensar sempre no melhor para o nosso país que, com certeza, será a possibilidade das duas torcidas conviverem de forma pacífica. Para isso, precisamos somar a melhoria na atuação de quem faz a segurança nesses eventos com o respeito dos torcedores para com os rivais e os próprios organizadores. Se todos ajudarem, o resultado será mais rápido e eficaz.

Depois de perdermos o direito de levar bandeiras com mastro, fogos e batuques nos estádios, não podemos nos ver privados de acompanhar nosso time em um grande jogo. Por isso, vamos lutar para que nossos estádios voltem a ser um ambiente saudável para todos.

CARLOS ALBERTO MARTINS JÚNIOR é advogado, especialista em direito desportivo e atua no Freitas Martinho Advogados

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O mercado do futebol sob o ponto de vista jurídico

Ao final de cada temporada do futebol brasileiro, inicia-se uma fase de negociações intensas para contratações de jogadores entre os clubes, o famoso “mercado da bola”. A imprensa, sempre atenta à movimentação dos dirigentes, enriquece suas matérias com informações específicas de cada negócio, porém com termos que nem sempre são de conhecimento dos amantes do esporte.

Mas, afinal, o que são direitos econômicos e federativos? O empresário pode ser dono do jogador? Como são realizadas as transferências?

Vamos tentar explicar.

Todo jogador, para a prática de sua atividade, deve necessariamente ser registrado perante a federação competente, após celebrar o contrato de trabalho com seu clube. Os direitos de registrá-lo são os chamados direitos federativos e são integralmente do clube que o inscreveu.

Por sua vez, os direitos econômicos se referem à receita gerada com a transferência do atleta e decorrem da cessão onerosa dos direitos federativos. Para os mais antigos, assemelha-se com o “passe”, extinto em 1998 com a Lei Pelé (Lei nº 9.615). É o que o clube paga para outro para ter o atleta, podendo ser partilhado entre clubes, apenas entre eles. Isto porque, no final de 2015, a FIFA editou uma importante mudança, proibindo que os empresários sejam detentores dos direitos econômicos do atleta.

Seguindo essa linha, a CBF também alterou o seu regulamento para evitar uma situação muito comum antigamente: os empresários geriam diretamente a carreira dos jogadores, tornando os clubes verdadeiros reféns. Todos os clubes foram obrigados, então, a registrar os contratos dos seus jogadores no sistema de transferências da FIFA, o conhecido TMS (Transfer Matching System), responsável pelas transações de jogadores entre os clubes do mundo inteiro.

Esse sistema foi criado em 2010 para aumentar a transparência sobre as transações e coibir a corrupção que assolava o futebol à época. Os resultados foram impactantes, pois todas as transações internacionais passaram a ser feitas pelo sistema, com a inclusão de documentos bancários, discriminação da comissão paga a agentes e comprovação da origem da receita utilizada.

Em resumo, a FIFA passou a deter todas as informações necessárias para estancar a corrupção no meio esportivo, o que vem sendo feito desde então.

Agora, com o final do mês de janeiro, fecharam-se as janelas de inverno dos poderosos centros, diminuindo o assédio aos jogadores brasileiros. Por aqui, a janela continua aberta até abril, lembrando que cada confederação possui as suas datas.

Aliás, o calendário brasileiro precisa ser adequado com rapidez, pois a janela de verão europeia abre exatamente quando nossos clubes estão no meio de grandes competições (Brasileirão e Libertadores, principalmente), o que evidentemente atrapalha seus planejamentos.

Por isso, para seguir a linha das interessantes mudanças ocorridas no futebol, espera-se que a CBF adeque tal situação, evitando que os clubes sofram ainda mais com a interferência externa. Enquanto isso, resta-nos torcer contra o interesse europeu sobre os atletas dos nossos clubes de coração.

CARLOS ALBERTO MARTINS JÚNIOR é advogado, especialista em direito desportivo e atua no Freitas Martinho Advogados

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Lei de Incentivo ao Esporte: há muito ainda a estimular

Nos últimos meses, o Bauru Basket celebrou parceria com grandes empresas que apoiarão a associação fazendo uso de um benefício existente há anos em nosso ordenamento, porém muito pouco usado em nossa região: a Lei de Incentivo e Benefício ao Desporto (Lei 11.438/06). Essa lei entrou em vigor em dezembro de 2006 e, nos primeiros cinco anos, segundo o Ministério do Esporte, possibilitou que R$ 870 milhões fossem repassados a projetos voltados ao lazer, ao esporte como instrumento e ao esporte de alto rendimento.

Mas por qual motivo esse incentivo não é explorado em nossas cidades?

A resposta é simples: pelo desconhecimento dos benefícios que a lei estabelece.

Pouquíssimos sabem, por exemplo, que a própria pessoa física pode ser “patrocinadora” de um clube, destinando a ele parte do Imposto de Renda que paga anualmente. Segundo o art. 1º, §1º, II da Lei, a pessoa física pode destinar 6% do seu Imposto de Renda para o esporte. E mais: esse benefício não exclui outros benefícios fiscais em vigor, possibilitando ao contribuinte que mantenha seus tradicionais descontos.

Isso nos revela que uma torcida organizada pode passar a apoiar financeiramente o seu time de coração sem colocar a mão no bolso, bastando orientar aos seus associados para que destinem parte de seus impostos recolhidos para essa agremiação. Aliás, esse incentivo não precisa ser destinado necessariamente apenas ao esporte profissional, mas também a projetos voltados ao lazer ou ao esporte como instrumento, o que permite que pequenas contribuições tenham um efeito muito mais impactante.

Lembrando, apenas, que os projetos precisam ser aprovados pelo Ministério do Esporte, com a publicação no Diário Oficial para se tornarem aptos ao recebimento.

Para as empresas, os requisitos são mais específicos, sendo que apenas aquelas tributadas com base no lucro real podem deduzir até 1% para ser destinado ao setor esportivo. Ficam fora, portanto, as empresas optantes pelo SIMPLES Nacional, grande maioria nas cidades da região. Apesar desses requisitos serem limitadores à participação das pessoas jurídicas, pode-se ver que a legislação tem realmente mecanismos de apoio ao esporte.

Sendo assim, não será sozinha a salvação do esporte regional, mas poderá ajudar muito no desenvolvimento do esporte em nossas cidades, assim como está fazendo com o nosso Bauru Basket.

CARLOS ALBERTO MARTINS JÚNIOR é advogado, especialista em direito desportivo e atua no Freitas Martinho Advogados

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Memória da bola: gringos no San-São

 

Por João Francisco Tidei de Lima

OS GRINGOS DECIDINDO…
Segundo boatos, o São Paulo F.C. está na iminência de contratar, outra vez, um técnico argentino. A velha guarda conhece as origens dessa tradição. Lá por 1952/53 assinou contrato Alejandro Galán, o popular Jim Lopes (1922-1979), nascido em Buenos Aires.

Em 1952, o argentino Negri falava ao repórter Fiori Gigliotti, da Bandeirantes
Em 1952, o argentino Negri falava ao repórter Fiori Gigliotti, da Bandeirantes

De olho no título do Paulistão de 1953, o Tricolor também foi buscar atacantes argentinos. Um deles, Moreno, foi logo descartado. Mas, o outro, Gustavo Albella, emplacou e virou ídolo da torcida, ganhando até um apelido, El Atômico.

Para o meio-campo, Jim Lopes apostava em outro compatriota, o armador Juan José Eufêmio Negri, logo escalado para compor um competente trio com os médios Bauer e Pé de Valsa. O título paulista de 1953 chegou com vantagem folgada de 7 pontos sobre o vice Palmeiras.

… TAMBÉM NA VILA
Em 1955, o Santos F.C. somava 20 anos desde a conquista do último Paulistão, em 1935. Presidido pelo deputado Athiê Jorge Cury e contando com o dinheiro de outro dirigente, o dono de empresa naval, Modesto Roma, montou um time de respeito, orientado por Luís Alonso, o popular Lula.

Catorze disputantes, todos contra todos, em dois turnos… Campeonato decidido na última rodada, 2 a 1 contra o Taubaté, na Vila Belmiro, jogo arbitrado por João Etzel Filho.

Foi valiosa a experiência do argentino Negri, que até dois anos atrás vestia a camisa do São Paulo. No jogo decisivo da Vila, o Santos apresentou a formação da foto do topo: em pé, da esquerda para a direita, Ramiro, Urubatão, Helvio, Formiga, Manga e Feijó; agachados, Tite, Negri, Alvaro, Del Vecchio e Pepe.

 

joao-francisco-tideiJoão Francisco Tidei de Lima é historiador e professor universitário aposentado — passou pelos campi da Unesp de Assis e Bauru e pela USC. Possui especialização no Institut Européen des Hautes Études Internationales, da Universidade de Nice, na França. Organizou o arquivo do Museu Ferroviário de Bauru. Com experiência como  radialista, é autor do livro ‘Alô, Alô, ouvintes: uma história do rádio em Bauru’.

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Memória da Bola: tempo bom da Ferrovia e tristeza do Guarani

 

Por João Francisco Tidei de Lima

PAÍS CONGESTIONADO
Não há como ignorar — e silenciar — diante do país congestionado por caminhões, ônibus, carros e motos, nas ruas e nas estradas. Realidade que vem de décadas, mais aceleradamente a partir de 1995/96 , etc, o país administrado pelo presidente Fernando Henrique Cardoso, do PSDB, comandando privatização desastrada das ferrovias, o PSDB também governando o Estado.

A partir da eleição presidencial de 2002, o PT elege Luís Inácio, o Lula. Mas, quem toma posse é o Lulinha Paz e Amor, em vez do Lula comprometido com programa de reformas, entre elas a recuperação e extensão das ferrovias, principal meio de transporte de carga e de passageiros dos países civilizados na América do Norte, Europa e Ásia.

Da geração dos torcedores da velha guarda, mais de meio século atrás cansamos de acompanhar o E.C. Noroeste pelos trens rápidos da saudosa Companhia Paulista ou pelos trens fretados da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil.

Hoje, com tristeza e indignação, vemos este subcontinente, com míseros 10.000km de ferrovias, projetos interrompidos desde a década de 1990, sob olhares indiferentes dos agentes políticos de todos os Estados e do Poder Central, filiados a quase todos os partidos, PT, PSDB, PMDB, PPS, PSB, PR, PTB, etc.

(Na foto acima, dos anos 1950: torcedores fretavam trens para acompanhar o Noroeste)

ANIVERSÁRIO COM LÁGRIMAS
Neste início de abril, a torcida do Guarani de Campinas deveria festejar os 104 anos do clube. Mas, a notícia do leilão do seu estádio — o Brinco de Ouro — caiu como uma bomba, estilhaços e lágrimas por todo lado. Conjuntura de descompasso absoluto com aqueles tempos gloriosos, a culminância o título brasileiro de 1978, em cima do Palmeiras de Leão & Cia.

guarani-1978
O timaço da foto, o maior da história do Guarani: em pé, a partir da esquerda, Zé Carlos, Gomes, Edson, Mauro, Neneca e Miranda; agachados, Capitão, Renato, Careca, Zenon e Bozó.

 

joao-francisco-tideiJoão Francisco Tidei de Lima é historiador e professor universitário aposentado — passou pelos campi da Unesp de Assis e Bauru e pela USC. Possui especialização no Institut Européen des Hautes Études Internationales, da Universidade de Nice, na França. Organizou o arquivo do Museu Ferroviário de Bauru. Com experiência como  radialista, é autor do livro ‘Alô, Alô, ouvintes: uma história do rádio em Bauru’.