Escrevi mais cedo o que significava o clássico para os torcedores alvirrubros: “Ser zoado ou não amanhã é o que está em jogo. Dormir de alma lavada e sair à rua amanhã vestido orgulhosamente com o manto noroestino”. Pois bem. O Noroeste venceu o Marília por 1 a 0. A quinta-feira, 22 de fevereiro, será invadida pela camisa do Norusca nas ruas, aqueles sorrisos de orelha a orelha vão estampar o bom dia na padaria, na banca de revistas, no trabalho. Os jogadores devem estar orgulhosos por proporcionarem essa alegria à cidade, sobretudo aos 4.919 pagantes, recorde de público desta Série A3.
Foi sofrido, bateu a dúvida, o medo de brotar um gol celeste, mas fez-se justiça à equipe que se jogou mais ao ataque. Que aparentemente sabia que a rede iria balançar. Nem que fosse com a contribuição do zagueiro adversário, que queria desviar para escanteio, mas no meio do caminho apareceu Alef, para entrar para a história do clássico e quebrar o jejum de oito anos sem vencer o MAC — lembrando que há quase seis o confronto não acontecia no Alfredão e houve anos sem encontros.
Agora com três partidas no comando do Noroeste, Alberto Félix soma duas vitórias e um empate. De fala mansa e objetiva, parece já estar com o elenco nas mãos, faz mudanças pontuais. Pela frente, duas partidas fora de casa contra adversários de G-8 (São Carlos e Portuguesa Santista). O time dá esperanças de que não volta de mãos vazias. Tem gordurinha (inha… está em quarto, com 21 pontos, quatro a mais do que o nono) até para perder um jogo, mas tem bola para ganhar também.
O Noroeste venceu o clássico jogando com Ferreira; Pacheco, Marcelo Augusto, Marcelinho e Lucas Hipólito; Maicon Douglas, Alex Silva (Alef), Leandro Oliveira (Romão) e Vilson; Wellington e Gindre (André Rocha).
Ídolo no clássico, com a galera
O ex-zagueiro Bonfim, que estava em campo e fez gol há exatos dez anos (naquele 3 a 2, pelo Paulistão), foi torcer para seu Norusca:
Ex-zagueiro e ídolo do Noroeste, Bonfim estava no meio da galera. Foto: Reprodução Facebook
Leandro Oliveira perdeu pênalti, mas teve boa atuação. Ao fundo, a bela presença da torcida. Fotos: Bruno Freitas/Noroeste
O clássico desta noite entre Noroeste e Marília está cercado de euforia. Bem maior do que a do reencontro do ano passado (primeira partida em um Campeonato Paulista desde 2010), pelo menos para o lado vermelho da força. Afinal, naquela ocasião, o MAC estava no G-8 e o ECN na zona de rebaixamento. Hoje, é o Norusca quem sonha com o acesso e o rival foge do fantasma.
A animação da torcida bauruense também se justifica pelo fato de o Noroeste não ser mandante do clássico desde 2012. Na ocasião, returno da primeira fase da Copa Paulista, a derrota por 2 a 0 derrubou o técnico Amauri Knevitz — aí chegou Moisés Egert e o Alvirrubro arrancou para o título. Portanto, lá se vão quase seis anos sem ser o anfitrião do clássico. Pelo Campeonato Paulista, a espera foi mais longa…
Há exatos dez anos, em 21 de fevereiro de 2008, o Noroeste venceu o MAC por 3 a 2 na Série A1, diante de 5.952 pagantes. Os gols alvirrubros foram marcados por Luciano Bebê, Bonfim e Otacílio Neto — o atacante estava em fase esplendorosa, era artilheiro da competição, mas se contundiria gravemente rodadas depois. O hoje auxiliar técnico Marcelo Santos estava em campo, com a camisa 6. O corintiano Ralf também. Mauro, goleiro do Norusca no inesquecível 4 a 0 de 2006, defendia o Marília.
Fabiano Paredão; Eder Sciola, Bonfim, Eder Monteiro (Alexandre Luz) e Marcelo Santos; Júlio Bastos, Ralf, Luciano Bebê (Alexandre Rotweiller) e Edno; Vandinho e Otacílio Neto (Danilo Dias). Esse foi o time que entrou em campo sob o comando de Márcio Bittencourt.
Na ocasião, o Norusca se consolidava no G-4, fazia grande campanha. Acabou fora das semifinais (mas venceu o Corinthians na última rodada, deixando-o também eliminado) e disputou o título do Interior, perdendo a decisão para o Grêmio Barueri. O MAC não foi rebaixado e os rivais se encontraram pela última vez na elite estadual em 2009 (no Bento de Abreu, vitória dos azuis por 3 a 0), quando ambos caíram para a Série A2.
Em 2018, disputa à parte
Assim como em 2012 o Noroeste perdeu o clássico, mas ganhou a Copa Paulista, o resultado de hoje não decreta o futuro do time nesta Série A3. Entretanto, pode sim elevar o moral do elenco, adaptando-se ao trabalho do novo treinador e a poucos pontos de se garantir matematicamente na próxima fase. Para a torcida, é sim um campeonato à parte. Ser zoado ou não amanhã é o que está em jogo. Dormir de alma lavada e sair à rua amanhã vestido orgulhosamente com o manto noroestino. É o que os maqueanos devem estar mentalizando para tentarem, na motivação, compensar o desnível técnico das equipes. Aos alvirrubros, portanto, cabe apenas manter a raça e o foco para fazer valer o melhor momento — e aumentar a hegemonia histórica para 33 vitórias em 86 confrontos.
O Noroeste venceu nesta quarta o E.C. São Bernardo, por 2 a 0, fora de casa e encarando a grama sintética. A vitória valeu o retorno ao G4, alcançando a terceira posição, com 17 pontos (a dois do líder Atibaia, que perdeu na rodada). Mas valeu, principalmente, para inaugurar uma nova fase da equipe. Foi a estreia do técnico Alberto Félix, apresentado na última segunda no lugar de Tuca Guimarães, cuja saída, apesar de justificada por motivos familiares, concretizou-se conturbada pela forma como foi conduzida — a ponto de ser criticado publicamente pelo presidente Estevan Pegoraro.
Ao final da partida, ao microfone de Jota Martins (Jovem Pan News), o goleiro Ferreira rasgou o verbo sobre o ex-comandante:
“Era um cara que tirava nossa confiança pra jogar… Com o novo treinador, mudou a pegada, a atitude, todo mundo deu carrinho. Série A3 é assim”, cravou Ferreira.
O guapo alvirrubro, aliás, foi fundamental no triunfo. Fez defesa importante já nos acréscimos, jogada que gerou contra-ataque para o gol de Alef, que decretou a vitória — Vilson abriu o placar aos 17 do primeiro tempo.
O discreto Alberto (craque de bola nos anos 90, principalmente pelo Bragantino) chegou, observou, ouviu a comissão técnica e montou um time interessante para encarar o São Bernardo. Escalou a equipe mantendo a zaga, seguida de uma dupla de volantes e três meias (Leandro Oliveira finalmente centralizado!) para servirem Wellington lá na frente.
O Norusca venceu jogando com Ferreira; Pacheco, Jean Pierre, Marcelinho e Ricardinho (Hipólito); Alex Silva, Igor Pimenta, Vilson, Leandro Oliveira (André Rocha) e Samuel (Alef); Wellington.
Com dez rodadas pela frente, o Noroeste sob nova direção em campo tem tempo suficiente para encontrar um novo padrão de jogo e se manter entre os líderes da competição, para chegar tinindo no mata-mata. É bom conter a euforia mas é um recomeço animador — e com dois jogos no Alfredão pela frente.
Quando Tavares fez seu segundo golaço na partida, aos 25 do segundo tempo, parte do público (novamente bom, dois mil) começou a ir embora. O Bar do Totó já estava cheio de camisas vermelhas antes de a partida acabar. Quem permaneceu até o fim vaiou o time pela primeira no Alfredão. A derrota para o Atibaia foi a segunda seguida na Série A3, que fez o Noroeste cair da liderança para a quinta posição, apenas um ponto acima do nono colocado.
A gordura se foi , mas o time ainda tem crédito. Isto é: falar em “fora, Tuca” é precipitado. Ele deu padrão de jogo ao time, que vem dominando as ações das partidas — só falta mesmo aproveitar as chances criados, o que venho dizendo há algum tempo. MAS… há uma exceção perigosa: o desastroso segundo tempo de ontem.
O técnico Tuca Guimarães colocou o centroavante Flávio Carvalho, que mal tocou na bola, porque ela nem chegou a ele. Quando teve que sair da área para buscá-la, mostrou pouca mobilidade. Pior: ainda sacou Samuel (excelente primeiro tempo dele!) e Leandro Oliveira, os dois meias criativos, abrindo um buraco entre os três volantes e os três atacantes. Questionado pelo repórter Jota Martins (Jovem Pan News) sobre isso na coletiva pós-jogo, Tuca afirmou que Rodrigo Tiuí foi colocado para armar. Em nenhum momento isso aconteceu: ele sempre esteve alinhado com Flávio e Wellington. Pelo menos, admitiu: “Não jogamos bem hoje”.
Ao propor o desafio de buscar quatro pontos nas próximas duas partidas fora de casa, Tuca sabe que a gordura acumulada no excelente início desta Série A3 (quatro vitórias e um empate) já foi queimada. Três desses pontos viriam contra o Rio Branco, afundado no 18º lugar e sem casa (estádio Décio Vitta, em Americana, interditado). Mais um empate com o São Bernardo (quarto), na grama sintética.
É desses quatro pontos que o Norusca precisa para se manter na metade de cima do G8, seguir contando com a confiança do torcedor e, consequentemente, com a boa média de público no Alfredão. Próximos jogos em Bauru: dia 17, às 18h30, contra o Grêmio Osasco (remarcado para fugir do sol das 10h de domingo); dia 21, clássico contra o rival Marília, que vem reagindo.
Resumindo, temos dois momentos do Noroeste após sete rodadas: um início animador e uma queda de rendimento (um gol marcado e cinco sofridos em duas partidas). Com doze rodadas pela frente, os ajustes de agora podem trazer uma nova fase crescente, que tem início crucial no próximo domingo.
São Pedro tem sido generoso com o Noroeste. Na estreia, também uma quarta à noite, as nuvens carregadas esperaram a partida terminar. Na ocasião, levei o sogrão e compramos cadeira (até pelo preço antecipado atrativo) com medo da chuva. Domingão foi de sol, fiquei na cabine de imprensa, melhor ponto para observar o desenho tático alvirrubro. E chegamos a ontem, mais uma noite agradável, céu limpo e fui para as arquibancadas curtir aquela companhia dos cornetas Niltinho e Josinei. O líder venceu mais uma (1 a 0 sobre a União Barbarense), numa boa tacada de Tuca Guimarães, trocando cinco nomes no time titular.
Como o próprio treinador avisou em entrevista ao CANHOTA 10, não se prenderia a um time titular. Entre opções técnicas e necessidade de poupar (sobretudo Ricardinho, muito exigido nos primeiros quatro jogos), Tuca pinçou novas peças e manteve o padrão de jogo. Ou quase. No lugar do 4-3-2-1, o que se viu em campo foi um 4-3-3, com Tiuí (pela direita) e Leandro Oliveira (pela esquerda) atuando praticamente alinhados com o centroavante Flávio Carvalho.
Da mesma forma, quem esperava Samuel avançado o viu fazendo linha com Maicon Douglas e Alex Silva. Em certos momentos, fez falta ter um articulador centralizado, mas a verdade é que o Noroeste soube conduzir a dinâmica do jogo e não foi ameaçado. Outro ponto: nesse esquema com a linha ofensiva mais fixa e os volantes pelos lados apoiando mais, os laterais pouco desceram. Hipólito só chegou à linha de fundo aos 45 do segundo tempo.
Os desafios táticos que o Noroeste teve contra a Barbarense: os laterais pouco apoiaram; Samuel e Leandro, do mesmo lado, buscavam ocupar o espaço entre as linhas do meio e ataque; Tiuí tinha a tendência de centralizar; Flávio praticamente não foi acionado.
Problemas? Não! Mais informações, mais observações para o treinador azeitar o líder da Série A3.
Conforme comentei no texto anterior, as circunstâncias das partidas têm oferecido apenas três chances claras de gol. Contra a cambaleante Barbarense foi assim também. No primeiro tempo, o cabeceio firme de Marcelinho e o gol de Jean Pierre. No segundo, a bela limpada de Tiuí e o milagre do goleiro adversário.
Diante disso, o mais importante desta quarta vitória noroestina foi ter o controle do jogo. E Tuca ganhou a certeza — isto é, o que foi planejado está funcionando na prática — de que tem mais do que onze opções para escalar o time. Dor de cabeça para os adversários: prever como o Norusca entrará em campo da próxima vez.
O Noroeste venceu a Barbarense jogando com Ferreira; Pacheco, Jean Pierre, Marcelinho e Lucas Hipólito; Maicon Douglas, Alex Silva e Samuel; Leandro Oliveira, Rodrigo Tiuí (Vilson) e Flávio Carvalho (Wellington).
Dica do líder
O site oficial do Noroeste está com novidades, bem mais dinâmico e atualizado. Incluindo fotos, classificação da A3 e contagem regressiva para os próximos jogos. Vale a pena dar uma conferida: 👉 http://ecnoroeste.com.br/