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Brasil x Gana: Mano Menezes pressionado

Treinador precisa de bom resultado para se afirmar

Texto de Fernando BH originalmente publicano do jornal Mais Notícia, de Ituiutaba-MG (edição 93)

Paciência com treinador de clube todo mundo sabe: não resiste a três derrotas. Na Seleção Brasileira, porém, a sobrevida é maior por causa do projeto de quatro anos e até mesmo porque as partidas são espaçadas. Enquanto uma torcida arma a guilhotina após ver seu time perder seguidamente em questão de dias, com a Amarelinha há um respiro entre um insucesso e outro. Portanto, nunca é demais recordar: Mano Menezes contabiliza derrotas nos principais amistosos que disputou até agora: Argentina, França e Alemanha. Sem contar a desclassificação precoce na Copa América. Fosse a CBF um clube de futebol, o ex-treinador corintiano já estaria com a baixa na carteira de trabalho. Entretanto, quando assumiu o comando, havia um recado claro do presidente Ricardo Teixeira: o foco é renovar o time para 2014, nem que isso custe resultados negativos no percurso. É nesse discurso em que Mano se apoia.

As caras novas realmente tomaram conta do Escrete (termo em desuso, mas imortalizado por Nelson Rodrigues): Thiago Silva, Ganso, Neymar e Pato são presença cativa nas convocações — estes, os acertos. Mano erra ao insistir em Lucas Leiva, em detrimento de Hernanes. Até pouco tempo, errava em manter André Santos com a camisa 6 — tomara que finalmente se entenda com Marcelo, disparado o melhor lateral-esquerdo.

Outro ponto marcante dos chamados do treinador são os (poucos) remanescentes da última Copa: Júlio César, Maicon, Daniel Alves, Lúcio, Ramires e Robinho. Atletas que acredita terem condições físicas para 2014, o que inclui Kaká, de quem tem esperado o momento ideal para convocar. O que falta no meia do Real Madrid, hoje, sobra em Ronaldinho, a novidade da última lista: boa condição física, motivação e apoio popular. Mano, aliás, sabe bem como jogar com a galera, escalar o “time do povo”.

Apesar das garantias de Teixeira, o comandante da Seleção está pressionado e tem uma Olimpíada pela frente — a obsessão pelo ouro já derrubou Vanderlei Luxemburgo, em 2000. Pressionado a ponto de resgatar Ronaldinho; a ponto de queimar Ganso no último jogo, contra a Alemanha. A margem de erro de Mano Menezes queimou quase toda a gordura. Contra Gana, adversário do amistoso dia 5 de setembro, engana-se quem pensa ser alvo fácil para fortalecer o Brasil — eles foram os melhores africanos do último Mundial. Então, perder ou empatar em Londres (a nova capital do futebol brasileiro…) não será nenhum absurdo, mas motivo suficiente para a que a guilhotina volte à pauta.

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Deivid, do Flamengo: “Temos tudo para fazer bonito até o fim”

Em entrevista exclusiva ao Canhota 10, centroavante rubro-negro fala de sua boa fase

O Canhota 10 entrevistou, por e-mail, o centroavante Deivid, do Flamengo. Prioritariamente, para a coluna de estreia no caderno Mais Esporte, do semanário Mais Notícia, de minha Ituiutaba-MG. Uma pincelada na coluna do Bom Dia também e cá está, na íntegra, o papo virtual com o camisa 9 rubro-negro, que ontem (14/8) fez dois gols sobre o Figueirense, chegando a 14 na temporada, oito no Brasileirão. Definitivamente, reencontrou seu futebol, seu faro de gol. Confira!

Você reencontrou seu futebol e, principalmente, os gols. Deve isso à confiança do Luxemburgo? A procura por outro centroavante (Kleber, Ariel, Jael) deixou você ‘mordido’?
“Ter a confiança do técnico é fundamental para você poder render o melhor em campo. Em relação a procura por outros atletas, isso é normal, ainda mais quando o objetivo do time é brigar pelo título em um campeonato tão longo e difícil como o Brasileirão. Estou tranquilo porque sempre joga quem estiver melhor.”

Poucos atacantes têm o privilégio de ter tanto jogador bom para dar assistência (Léo Moura, Thiago Neves, Ronaldinho, Junior Cesar…). Acha que o entrosamento já encaixou?
“Encaixou sim, tanto que estamos crescendo a cada rodada. Conversamos antes das partidas, mas às vezes dentro de campo apenas um sinal, um olhar já é suficiente para nos entendermos, pois são jogadores diferenciados.”

Você já foi campeão brasileiro por Cruzeiro e Santos — e vice com o Corinthians. Conhece o caminho da taça. Esse time do Flamengo tem cheiro de título?
“É uma competição longa e complicada, mas estamos no caminho certo sim. Temos um bom grupo e com jogadores que fazem a diferença, um treinador vitorioso que sabe tirar o melhor dos seus atletas, enfim… Temos tudo para fazer bonito até o final.”

Você não comemorou gol contra o Santos, mas festejou contra o Cruzeiro. Qual a diferença desses dois times na sua carreira?
“Tenho enorme carinho por ambos, mas foi no Santos onde tudo começou, onde me projetei para o futebol, então essa é a diferença. Sem contar que já tive duas passagens por lá.”

No Triângulo Mineiro, a torcida do Flamengo é muito expressiva. Como é jogar num time que gera tanta paixão? E mande um recado especial para os flamenguistas de Ituiutaba!
“A torcida flamenguista realmente é um caso a parte. Por essa paixão que você citou, a responsabilidade dentro de campo só aumenta. Mas isso só serve para estimular mais, buscar fazer o melhor a cada jogo. Agradeço o apoio e carinho de todos vocês e peço que continuem nos incentivando. Esse 12º jogador sem dúvida também faz a diferença. Um abraço a todos!!!”

 

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Pra sempre Fenômeno

Ronaldo se despede da Seleção Brasileira com festa; Canhota 10 relembra texto sobre o camisa 9

Esqueça a silhueta arredondada de hoje, viaje na memória da grande contribuição de Ronaldo ao futebol brasileiro. Afinal, ele mesmo aprendeu a rir de si, como comprovou em sua participação no programa Bem, amigos! do dia 6 de junho. Abaixo, reproduzo texto publicado na revista Tributo Esportivo Edição Histórica 2, da Editora Alto Astral, tema Os 100 grandes craques do futebol, em reverência ao Fenômeno, na ocasião (novembro de 2007) eleito o décimo maior da história. O texto é do meu colega Marcelo Ricciardi.

PENSE BEM ANTES DE FALAR MAL DELE

Por Marcelo Ricciardi

Você deve ter se cansado de tanto ouvir falar dele. Na segunda metade da década de 90, o futebol mundial praticamente se resumiu a um nome: Ronaldinho. Isso mesmo, no diminutivo ainda. Posteriormente, o maior artilheiro de todas as Copas (o 15º gol saiu contra Gana em 2006 e o isolou na liderança, à frente de Gerd Müller) enfrentaria problemas com seu peso, que lhe acrescentariam um maldoso sufixo “ão” ao apelido. Teria também a concorrência pela carinhosa alcunha com outro xará brasileiro.

Quando saiu do Cruzeiro em 1994 para o PSV Eindhoven, não era tão badalado assim, mas já um recordista em cifras. Talvez nem mesmo aquele garoto franzino de dentes salientes sabia que chamaria tanto a atenção dali a pouco tempo. Ronaldo fez parte do elenco do tetra nos Estados Unidos, porém aparecia para as câmeras mais pelas gracinhas e brincadeiras ao lado do corintiano Viola. Mal sabia que seriam as lentes suas algozes logo mais.

E Ronaldo estourou: mais robusto, suas arrancadas vertiginosas no Barcelona e na Internazionale garantiram praticamente a unanimidade na eleição da Fifa para melhor do mundo em 96 e 97. Os flashes eram tantos na Copa de 98 que transbordaram até para a então namorada Suzana Werner. Raspar o cabelo e comemorar gol com o indicador levantado era febre em qualquer pelada da molecada.

E então, o apagão. Literalmente, Ronaldo foi desligado instantes antes daquela final contra a França de Zidane. Sem sequer saber ao certo pelo que tinha passado, entrou em campo para trombar com o carequinha Barthez e ser crucificado pela derrota. A mesma mídia que o idolatrou não teve remorsos em devorá-lo sem perdão. Os joelhos sentiram então, tanto psicologicamente como fisicamente, o peso do que era ser Ronaldo.

Meses depois daquela Copa, o atacante não teve como escapar da mesa de cirurgia. Após quase um ano parado, uma volta em falso: não foram sequer dez minutos de jogo aquele dia no Estádio Olímpico de Roma, contra a Lazio, até a dolorosa queda no primeiro arranque, reprisada exaustivamente até em programas de auditório ou de fofocas vespertinas. Forçado a encarar um novo limite, Ronaldo teve que reinventar o próprio estilo de jogo para voltar a campo. E como se não bastasse, novamente o mundo desabou sobre ele sem dó.

Ronaldo ainda iria chorar mais uma vez em outra final de Copa. Pouco antes de Pierluigi Colina apitar o final daquela partida contra a Alemanha em 2002, o (novamente) Fenômeno não resistiu às lágrimas quando foi substituído antes do final. A alteração no time que todos cobraram quatro anos atrás desta vez fora totalmente subjugada pelo próprio atacante, que balançou as redes duas vezes naquela final e outras seis durante a campanha do penta. Podemos até ter nos emocionado com toda a sua epopéia, mas somente ele, Ronaldo Nazário de Lima, sabia que gosto amargo tinha a água no fundo do poço. Houve até quem chorasse junto, mas somente uma lágrima entre todas era a mais sincera que poderia existir, aquela que escorreu de seus próprios olhos.

O Fenômeno segue jogando e ocasionalmente parece que não aprendeu algumas lições (anunciou um casamento desastroso em rede nacional e se apresentou quilos acima do peso na Alemanha em 2006). Dá munição para seus detratores, talvez até seja dependente disso para reagir. Para os urubus oportunistas de sempre é bom lembrar: antes de profetizarem uma nova aposentadoria de Ronaldo, lembrem-se que em bom futebolês esse nome quer dizer “volta por cima”. Foi o que aconteceu no Milan, em 2007, quando o agora cabeludo camisa 99 recuperou o prazer de balançar as redes.

*** Depois deste texto, Ronaldo se contundiu seriamente no joelho de novo, deu a volta por cima de novo (!) e fez o que fez no Corinthians, naquele brilhante primeiro semestre de 2009.