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Entrevista 10, edição 6: Josuel, ídolo do basquete de Bauru

Na alternância do ENTREVISTA 10 entre modalidades e entre personagens (dirigentes, treinadores, jogadores), chegou a vez do basquete e de falar com um ex-atleta ídolo na cidade. Foi muito bom o papo com JOSUEL, pivô campeão brasileiro por Bauru em 2002. Esse grandão de fala mansa tem muita coisa bacana para contar e relembrar e a conversa rendeu. Tenha certeza de que são minutos preciosos para quem gosta de basquete. Basta dar o play abaixo!

Apoio cultural ao ENTREVISTA 10

Empresas que quiserem patrocinar a atração terão espaço durante a exibição (logomarca, slogan e contato), em banner no rodapé da tela. O investimento mensal é bem convidativo e o nível da conversa promete um bom valor agregado. Os interessados devem entrar em contato pelo e-mail fernandobh@canhota10.com ou pelo telefone (14) 99115.1360 (inclusive WhatsApp).

Dias e horários das reapresentações do ENTREVISTA 10 no canal 14 da NET:

Terça: 19h
Quarta: 10h
Quinta: 1h e 16h
Sexta: 6h, 21h
Sábado: 12h
Domingo: 7h e 22h
Segunda: 7h

O ENTREVISTA 10 é uma parceria do CANHOTA 10 com a TV FIB

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Vitinho Jacob: “Teríamos o mesmo êxito se Hettsheimeir tivesse ficado”

retranca-bauru-basketO Gocil Bauru Basket inicia hoje os trabalhos de seu elenco para a temporada 2017/2018. Com o status de campeão brasileiro, mas com uma realidade financeira enxuta. Não diria modesta, pois a estrutura da Associação tem resultado em pódios há pelo menos cinco temporadas. Como de costume, fiz uma longa entrevista com o gestor Vitinho Jacob. Aliás, ano passado não publiquei, porque a saída da Paschoalotto poucos dias depois da conversa desmanchou todo o cenário… Este ano deu certo, já faz algumas semanas do proveitoso papo de 40 minutos no escritório do clube. O que está transcrito abaixo é o diálogo na sua sequência original, da forma como o raciocínio foi construído e as perguntas foram surgindo. Vitinho fala com desenvoltura, no começo com a voz postada (pelo hábito das tantas entrevistas que concede), mas logo se solta, rimos juntos e a conversa fica no tom de uma boa resenha — bem que poderia ser chope, mas foi regada a café. A diferença de um ano para o outro, infelizmente: a mesa vazia do Biro (diretor da base, que faleceu dois dias após o título). E do Caio (Casagrande, ex-assessor de comunicação), que bateu asas, mas em seu lugar um reforço à altura, o colega Neto Del Hoyo, com quem botei o papo em dia. Aí chegaram o Joaquim (Figueiredo, ex-presidente), o Cassião (Cerimelli, vice do Conselho Gestor), mais café e prosa. O semblante deles ainda resignado pela perda, mas o entusiasmo de tocar o basquete, que o Biro tanto amava, brilhava nos olhos. Exposto o cenário, vamos lá. O texto é longo, mas muito relevante. Inclusive para quem não torce para o Dragão, pois Vitinho conhece como poucos a Liga Nacional e o produto NBB. Ele faz um balanço da última (e maluca) temporada, do planejamento da próxima e comenta o trabalho da LNB. Fala, Vitinho!

Vitinho Jacob
Fran, Biro, Vitinho e Caio: quarteto do escritório agora em ótimas lembranças. Foto: Reprodução Facebook

Foi uma temporada louca. Um ano atrás você não diria que seria campeão brasileiro…
Conscientemente, não. Mas eu sou um entusiasta de carteirinha e naquela discussão do Paulista, de colocar os adultos, eu disse ‘não, vamos segurá-los para o NBB.’ Eu fui questionado: ‘Se não vamos chegar a lugar algum no NBB, por que não colocar os adultos agora para tentar ganhar o Paulista?’ E eu falei: ‘Quem disse que não vamos chegar a lugar nenhum no NBB?’ Mas era mais um entusiasmo do que o racional. Obviamente, sempre acreditei no nosso time. Via os outros times, com Mogi e Brasília crescendo muito, montando times bons, o Flamengo mantendo a base e se reforçando e sabia que Vitória e Ceará viriam bem. Surpreendentemente, algumas coisas se inverteram, o Paulistano e o Pinheiros fizeram playoffs maravilhosos — nós também —, mas falar que contava com a final? Óbvio que não. Mas nunca deixei de acreditar no time.”

Houve algum momento em que realmente a equipe ficou em risco? Não digo em relação a deixar de existir, mas de manter um alto nível. Acabou mantendo Alex, Hett, Jefferson, Meindl, mas houve algum momento tenso de negociação, de dúvida mesmo?
Muito! Ali pelo final de junho, chegamos a ter praticamente certeza de que não haveria time. Aí, na composição da nova diretoria, a Paschoalotto assumiu algumas rescisões, os jogadores foram ficando em Bauru e nos dando coragem. Os patrocinadores que estão sempre com a gente, como Mezzani, Cral, Unimed, Zopone — a Sendi entrou… — foram nos dando força para acreditar, mas por um período o medo foi grande.”

E aí a Gocil entrou para complementar esse orçamento.
A Gocil entrou em setembro, aí sim nos deu uma segurança para continuar.”

Em que pé está o assunto Gocil e a promessa de renovação com aporte maior?
O contrato atual é até a primeira semana de setembro e ele [Washington Cinel, presidente da Gocil] nos pediu para conversar um pouco mais pra frente. Acreditamos na promessa dele, levamos isso em conta, mas não podemos garantir. Somente quando estiver assinado e majorado… Está fora do tempo e isso atrapalha um pouco, mas prefiro assim do que não tê-lo conosco. O certo é que entregamos muito mais em visibilidade e valor de marca do que a Gocil investiu.”

Entrevista Vitinho: Gocil
Washington Cinel, da Gocil, entre o presidente Fornazari e o capitão Alex: todos na expectativa do cumprimento da promessa de renovação. Foto: Caio Casagrande/Bauru Basket

Fora a Gocil, há alguma outra conversa para patrocínio máster?
A gente não para, né? Tenho conversado com várias empresas. O título brasileiro pode nos ter aberto outros caminhos, talvez com empresas maiores… Estamos correndo atrás.”

E disputar a Liga das Américas também é um reforço de visibilidade.
Sem dúvida! Começa em janeiro e dá uma visibilidade enorme, é a Libertadores do basquete. Eu já estava me preparando para jogar a Sul-Americana, quando ficamos em quinto na classificação da primeira fase. Eu avisei o time: ‘No limite, temos que manter o quinto pra jogar a Sul-Americana, que é atalho para a Liga das Américas.’ Mas conseguimos ir até a final e ao título, o que já nos deu vaga direta na LDA.”

Ao contrário de edições anteriores de competições internacionais, este não parece o momento de tentar sediar alguma chave em Bauru. O time vai voar por aí na competição…
Acho que sim. As definições de sedes serão em outubro, novembro, mas hoje a chance é zero. Quem sabe?… Não sabemos como vai estar a Prefeitura e nosso patrocinador, é questão para ver mais para o fim do ano.”

Falando em Prefeitura, houve um encontro recente do Bauru Basket com o prefeito Gazzeta e o deputado Pedro Tobias. O que saiu dessa reunião?
Foi mais uma aproximação. Pincelamos alguns assuntos, mas nada que a gente possa botar fé. Em outros momentos, conversando com o Gazzetta, com o Roger [Barude, vereador], com o Garrincha [secretário de esportes], existe sim a vontade de construir a arena. Está todo mundo se mobilizando, diferentemente de outros tempos. Antigamente, havia dinheiro, mas não havia projeto. Aí a Paschoalotto, através da Assenag, deu o projeto para a cidade. Aí não havia mais dinheiro! Quem sabe um dia haja vai haver dinheiro e projeto juntos.”

Você acha viável a hipótese de trazer alguma arena olímpica pré-moldada?
Eu acho que sim, totalmente viável. Mais barato, mais fácil e a readequação de local é simples. Se houver essa possibilidade, acho fantástico.”

Foi provisória lá na Olimpíada, aqui passaria a ser fixa!
Ah, a gente amarra, põe um guarda à noite. Daqui não sai mais!” [risos]

Voltando para a última temporada: a disputa do Paulista foi alvo de críticas. Aparentemente os adultos voltaram antes do planejado para garantir vaga nos playoffs… Valeu a pena colocar a molecada na fogueira? Vocês viram evolução dos meninos? Como foi lidar com aquela situação?
Dentro da diretoria, a avaliação é que o planejamento foi perfeito. Não mudamos nada e deu tudo certo. Conseguimos ir pra final, mas, independentemente disso, o planejamento foi correto, mostrou que chegamos inteiros no fim do NBB. Não foi só uma estratégia: não havia outra opção. Shilton e Valtinho se apresentaram em agosto, até por questões financeiras. Demétrius, Alex e Rafael [Hettsheimeir] na Seleção [Olimpíada], Jefferson e Léo voltando do Sul-Americano. Tanto para a evolução dos meninos quanto como pré-temporada foi perfeito. Claro que na final do Paulista, por não ter feito o campeonato inteiro, nos custou o título. Mas era o risco e Mogi estava num momento melhor, focado, pois precisava ganhar um título. Eu não mudaria nada, apesar das críticas injustas e pesadas. Como em toda temporada, aliás… Nossa imprensa é muito torcedora e não consegue entender que temos que pensar a longo prazo, de agosto a junho. Poderia confiar mais no nosso trabalho, estamos aí há nove anos, não somos aventureiros.”

Entrevista Vitinho: vice Paulista
O controverso vice estadual: passo atrás rendeu. Foto: Caio Casagrande/Bauru Basket

Naquela virada de dezembro para janeiro, alguns torcedores chegaram a pedir a cabeça do Demétrius. É um hábito mais futebolístico e é óbvio que nem passou pela cabeça de vocês. Mas como foi lidar com aquele turbilhão?
Foi bem difícil. Eu chamei o Demétrius, disse que é assim que funciona aqui, mas que confiava no trabalho dele. E a diretoria deu todo o respaldo. Ele disse ‘Estou acostumado com a pressão, já fui jogador, sou técnico, vamos continuar trabalhando.’ Em nenhum momento ele esteve sob risco. Ouvimos críticas até nos playoffs, mas faz parte.”

Como foi a reinvenção depois que o Rafael saiu?
Havia acabado o prazo de inscrições. Mesmo se tivéssemos dinheiro, não dava pra repor. Até a gente brinca que o time melhorou depois que o Rafael saiu, mas a grande virada do time foi antes. Depois da parada do fim do ano, perdemos para Mogi e fomos para Campo Mourão. Tivemos uma reunião do time que foi fantástica. Ali começou nossa virada — e o Rafael estava junto. O time começou a marcar melhor. Acho que teríamos o mesmo êxito, e até mais tranquilo, com o Rafael.”

Houve essa dedução de que a defesa melhorou sem ele, mas ele terminou o campeoanto como segundo melhor reboteiro…
Um dia, conversando com o Shilton, ele me alertou: ‘Vitinho, depois daquele jogo em Salvador, quando o Rafael fez duzentos pontos, nós não ganhamos mais nenhum jogo no ataque, só na defesa.’ Aí comecei a me lembrar, era verdade. Geralmente, quando o outro time não passava de 80, nós ganhávamos. Ganhar no ataque era um ou outro jogo, aí sim dependíamos muito do Rafael. Então, tem todo o mérito do Demétrius, mas essa mudança já vinha acontecendo e começou a dar certo no momento certo. O Bruninho [Camargo, preparador físico] tem um planejamento de picos de treinamento e sabe que em algum momento um jogador não vai render. Mas vai render na hora certa. Então, é tudo planejado pela comissão técnica e a diretoria aposta junto. Gostaria de frisar isso: o time não melhorou com a saída do Rafael, já estava melhorando. Se o Rafael continuasse, o Demétrius lidaria tranquilamente com esse balanço defesa-ataque.”

O intervalo do jogo 3 contra o Pinheiros foi o momento-chave da temporada. Doze pontos atrás, o clima no ginásio era de jogar a toalha, todo mundo de cabeça baixa. E de repente o time voltou atropelando. O que aconteceu no vestiário?
Normalmente, eu tenho o hábito de correr para o vestiário, entrar antes dos jogadores e ficar num lugar separado para eu perceber se tem alguma coisa. A comissão demora mais um pouco, primeiro pegam as estatísticas e conversam entre eles. O Demétrius dá aqueles minutos para os atletas. Então, eu vou antes e sinto: se eles querem conversar sozinhos, saio. Mas naquele momento eu faço mais parte dos jogadores do que da comissão técnica e às vezes até entramos em discussão. Naquele dia, como você disse, eu entrei de cabeça baixa, jogando a toalha. Aí vi uma conversa acalorada entre Alex, Jefferson, Shilton, todos falando o que estava errado, um olhando na cara do outro. Pensei: eles estão no jogo. Veio o Demétrius, corrigiu duas coisas taticamente, um acerto simples na defesa, outro no ataque. Todos concordaram, veio a mudança de atitude e aquela maravilha que vimos.”

Vitinho com a taça do NBB 9
Com a tão desejada taça: ele já tinha a de bronze e a de prata… Foto: João Pires/LNB

Sobre as polêmicas da decisão, das arbitragens, de suposta predileção da Liga pelo Paulistano, o famoso “mal podemos esperar”… Eu não caí nessa, pois a Liga é dos clubes. Pode ter havido equívocos, na forma de se expressar, na escalação de arbitragem, mas não consigo ver má intenção. E você que é integrante da diretoria da Liga pode dar uma noção dos bastidores, da organização, esclarecer isso. Pois não há como querer favorecer um se todos estão ali dentro…
Exatamente. Essa é uma opinião minha, do Vitinho pessoa física: tenho clara certeza de que não existe má-fé nem da arbitragem, muito menos da Liga Nacional. Claro que existem erros, mas se um dia entender que existem cartas marcadas, estou fora. Saio da Liga, saio do basquete. Então, acredito cem por cento que a Liga é idônea. E a arbitragem também. Claro que existe birra com um atleta, com um treinador, com um time, mas você viu: tivemos problemas com o Maranho aqui e depois ele apitou dois jogos serenamente. Não consigo enxergar nada de armação, apesar dos erros graves. A escalação do Chiconato [árbitro pivô da bola presa no jogo 3 da decisão do NBB 8] foi um erro gravíssimo. Quebrei o pau lá dentro da Liga. Lá é assim: nas reuniões o pau come! Saiu da reunião, somos unidos, fechados. O que está decidido é em prol dos clubes. No dia da escalação, tivemos discussão brava com o Bassul, a Flávia, o Sérgio, o Kouros, o Rossi, todo mundo! O erro não foi a escalação dele ali, mas não ter sido escalado [em jogos do Bauru] a temporada toda. Ele apitou apenas um jogo nosso em 38, aí apita a final? Se tivesse apitado cinco, seis jogos, estaria diluído, não teria problema. Ele apitou um jogo no Rio, contra o Vasco, todo mundo respeitou, apitou normalmente. Por que pouparam tanto? Deixei claro que não gostamos, que foi desnecessário. E depois eles concordaram. Sobre as redes sociais, foi uma besteira absurda, mas foi bom pra nós. Provavelmente quem escreveu quis dizer mal podemos esperar…”

… pelo jogo!
É óbvio! Eu entendi isso na hora. Mas como as pessoas não entenderam, pusemos lenha na fogueira, nos deu o combustível que a gente precisava. Aí na outra semana teve o #goCAP… Eles punham também #fogoneles! Mas se as pessoas só viam o #goCAP, deixa o pau torar! Enquanto foi combustível pra nós, valeu a pena.”

No que a Liga avançou em relação à organização do NBB e o que pode melhorar?
A Liga está crescendo passo a passo, muito bem. Agora que começou a ter independência financeira. Antes, dependia do Ministério do Esporte, depois da NBA. O próximo passo é aproximar a estrutura dos clubes da estrutura da Liga. Não acho que a Liga deva dar dinheiro para os clubes, mas tem que pagar transporte, alimentação, arbitragem, todas as despesas para jogar o campeonato — e os clubes ficam com suas folhas salariais. Esse é o intuito da Liga, quando tiver orçamento pra isso.”

A Avianca (parceira do NBB) dá passagens?
Deu cerca de 70 passagens para os clubes usarem durante a temporada. Com algumas particularidades, porque não temos Avianca em Bauru. Alguns times nem aproveitaram… Nós aproveitamos todas! Principalmente para os jogos no Nordeste. Usamos em Brasília também. O caminho é esse, aliviar as despesas dos clubes e deixá-los focados em sua estrutura interna. Esse é um sonho do Kouros [Monadjemi, primeiro presidente da LNB] desde o início: pagar as despesas dos clubes e ter dinheiro pra distribuir no fim da temporada, além das premiações. São coisas que ainda não aconteceram. Já está no momento de decidir. Se não houver dinheiro no orçamento para pagar arbitragem, temos que tirar de outro lugar. Mas a Liga tem que pagar a arbitragem. Teremos reunião de orçamento em agosto e os clubes estão fechados nisso. Tem que começar o orçamento a partir daí.”

Amistosos contra times da NBA é um assunto que está parado?
Não tem nada ainda, mas já comecei a cavucar. Vamos ver se a gente consegue alguma coisa.”

Há alguma regra? A vez de algum clube?
Não. Estão pensando em criar o critério, agora que estão criando uma nova empresa para a parceria NBA-NBB. Mas ainda não existe. Então, se conseguirmos alguma coisa para esta temporada, será por relacionamento. Existem ainda algumas conversas de fazer amistosos contra times da D-League [Liga de Desenvolvimento da NBA], contra times da Argentina e do Uruguai. Acho interessante aumentar esse intercâmbio com times fora do Brasil.”

Até porque aquele passeio na China não serve pra nada tecnicamente…
Tecnicamente, não. Fisicamente, não… É cansativo, há opções melhores.”

Vamos falar de futuro agora. Campeonato Paulista com molecada? Mesclado? A Seleção pode desfalcar o time…
Para as eliminatórias do Mundial serão ‘datas Fiba’ em novembro e fevereiro e o NBB vai parar nessas datas. Para o Paulista, temos o mesmo problema do ano passado. O time jogou até 17 de junho, teve compromissos até dia 20. Trinta dias de férias e agora precisam de pré-temporada. Anthony, Shilton e Alex só chegam em agosto, não dá para colocar os caras pra jogar! Eu vejo o time pronto no começo de setembro. Vamos ter um mês todo de Paulista até esse ponto. Um agravante é que nós não temos o número de jovens que tínhamos ano passado. Hoje temos cinco: Stefano, Gui Santos, Henrique, Jaú e Maikão. E só. Temos os meninos do sub-19, mas poucos têm condições de jogar um campeonato adulto. Estou com muito receio. Não há muito o que fazer.”

Como foi encarar a montagem do elenco depois do título?
Quando você fica para a final, já está fora do mercado. Eu tinha o costume de negociar em abril, maio, quando acabava o campeonato nosso time estava praticamente pronto. Nos últimos anos foi diferente. Agora, com o time campeão, tivemos o ônus do título, com a valorização dos jogadores e o assédio. Praticamente todos tiveram propostas de outros times e com valores bem acima. E a nossa receita não aumentou. Sinceramente, temos nossas prioridades. Não é possível renovar com todo o elenco. São os cinco meninos já garantidos e precisamos de sete adultos. Teremos todos no momento em que tivermos receita. As decisões passam por mim, pelo Demétrius, pelo Cássio e pelo Beto [Fornazari, presidente], que está à frente das negociações. Diferentemente de anos anteriores, este ano não estou negociando com atletas e agentes. Converso, tento ajudar, mas a parte financeira e a negociação dos contratos é o Beto quem cuida. Uma coisa é certa: não vamos fazer loucura, vamos trabalhar estritamente dentro do orçamento. O Anthony, por exemplo, foi uma oportunidade que o Beto teve de fechar antes, é um jogador diferenciado que vale a pena apostar.”

O título de alguma forma criou uma euforia fora da realidade financeira do clube? A ponto de o torcedor se surpreender de perder jogadores importantes…
Totalmente, cria sim essa euforia. Mas os jogadores se valorizaram, há times com apetite no mercado. O que temos a oferecer como diferencial é que jogaremos a Liga das Américas, temos uma estrutura boa, um grupo com relacionamento fantástico. Há dois pontos: o time melhorar a receita e os jogadores entenderem a realidade financeira.”

Entrevista Vitinho: Hettsheimeir
O cobiçado Hettsheimeir: predileção por Bauru. Foto: Caio Casagrande/Bauru Basket

Dos nomes que já circularam, o próprio Hettsheimeir faz campanha pra voltar, né?
O Hett é sempre bem-vindo! No momento que ele quiser. É da casa. O problema é que ele é caro, não temos orçamento para ele hoje, não conseguimos nem fazer proposta. No dia que tivermos, não tenha dúvidas: as portas estarão escancaradas pra ele. Existe o interesse eterno. Você viu como foi lá em Araraquara, a festa que ele fez com a gente.”

Em casos como o dele, há sempre aquela cláusula de não segurar o jogador quando há proposta do exterior?
Isso é caso a caso. Mas a minha opinião é que tem que vir e ficar. Não dá pra acontecer de novo o que aconteceu com o Rafael. Na época, foi uma condição para ele renovar e nós precisávamos dele. Mas não dá… É melhor já ter o time seguro, o treinador saber com quem vai contar. Claro que podemos começar o Paulista com um time e, com a renovação da Gocil e a entrada de outro máster, ir melhorando. Pode surgir uma opção estrangeira, uma questão de momento.”

O Jaú, depois de ter estourado, chegou a ser especulado fora. Está garantido?
Totalmente. Ele tem contrato até o final de 2018, com multa rescisória. E o Jaú é um moleque cabeça boa demais. Sabe que ainda não está pronto.”

Tomou muita bronca nos playoffs!
Você não imagina nos treinos!”

E assim aprendeu muito. Quem vê de fora pode ficar com dó do garoto, eram Shilton, Alex, Jefferson na orelha dele, depois o Dema…
Só porrada. [risos] Com todos eles. O Alex e o Shilton conversam com os meninos, dão dura. É uma escola pra eles. São privilegiados de treinar todos os dias com esses caras. Estão evoluindo muito.”

Depois do bom começo no Paulista, o Maikão não teve uma temporada tímida? Ou cada um tem o seu jeito de amadurecer?
Acho que cada um vai ter sua oportunidade no momento certo. Pensando friamente, com a saída do Rafael, o espaço era do Michael. Mas o Jaú aproveitou lá em Brasília e o treinador também observou nos treinos. Existem algumas dificuldades do Michael que estão sendo trabalhadas pontualmente e o Demétrius conta com ele. Ele jogou muito contra o Pinheiros no jogo 2, mas o Demétrius conhece o time, o dia a dia e sabe que tem que tirar depois para não queimar o garoto. Em playoffs não dá pra fazer experiência. Agora, esses meninos vão ter de novo um Paulista pra jogar e a Liga de Desenvolvimento sub-20.”

Falando em LDB, pra finalizar: em que pé está essa queda de braço da Liga com a CBB? Tudo o que não precisamos agora é de problema interno no basquete brasileiro…
A CBB fez várias solicitações à Liga, que abriu mão de campeonatos sub-15 e sub-17 que já estavam organizados. Ela pediu a última instância do Superior Tribunal de Justiça Desportiva e a Liga cedeu. A Liga Ouro… Posso falar pela intenção da Liga: zero de conflito, temos que trabalhar de mãos dadas. A essência é a Liga realizar o campeonato nacional e a CBB cuidar de seleções e formação. Perfeito. Por que a Liga começou a fazer a base? Porque a CBB não fazia. Alguém tinha que fazer. A base não está no escopo da Liga, que foi criada pra fazer o campeonato adulto. Mas a LDB deu tão certo — e faz parte do adulto — que a Liga tem um pouco de receio sobre como vai ser conduzido. Minha opinião é que seja conduzida a quatro mãos nos dois primeiros anos e depois a CBB assumir, sem problema nenhum. A ideia dos clubes é trabalhar em prol do basquete, até porque, com a punição, os únicos prejudicados foram os clubes. Bauru, Flamengo e Mogi proibidos de disputar a Liga das Américas… E uma geração de ouro do sub-19, com Jaú, Michael, Yago e os meninos do Pinheiros, não pôde disputar o Mundial.”

 

Dias depois, Vitinho foi anunciado como diretor de patrimônio do Noroeste, uma estratégia de aproximação das principais modalidades do esporte bauruense. Pedi a ele, via Whatsapp, para comentar essa novidade e o como ele atuará:
É uma primeira aproximação das modalidades buscando o bem comum. Já existe um relacionamento muito bom, de longa data, somos todos amigos. Já conversamos e trocamos ideias toda semana. Agora vamos buscar caminhos que possam beneficiar todos. Óbvio que não é fácil, cada um tem seus interesses. Particularmente, meu tempo é cem por cento focado no Bauru Basket, mas vou participar do Noroeste em discussões de ideias, planejamentos. O Reinaldo [Mandaliti, vice de futebol] vai estar mais à frente, no dia a dia, e eu vou tentar colaborar no que puder.”

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Robert Day: “Amo Bauru. Foi uma decisão difícil”

retranca-bauru-basketConforme prometido no texto da vitória do Gocil Bauru sobre o Pinheiros, aqui está o papo exclusivo que tive com Robert Day, agora ex-jogador de basquete. Foi rápido, afinal ele estava rodeado de gente querendo tirar uma foto e dar um último abraço, mas foi significativo. Sobretudo a longa resposta da primeira pergunta: ele decidiu parar em meio à incerteza. Num golpe do destino, o Dragão reuniu condições de fazer uma proposta a ele somente depois que já havia voltado de mala e cuia para os Estados Unidos — confirmando o que este Canhota 10 vinha dizendo há semanas (aqui e aqui), que a questão familiar pesava e muito e os Day já estavam restabelecidos no estado ianque de Oregon. Enfim, está feito, agora Robert vai jogar basquete somente por lazer, engajar-se em uma nova profissão e ter mais tempo para acompanhar o desenvolvimento dos filhos, a ginasta Lainey e futebolista Cooper. Fala, Roberdei:

No meio tempo entre a impossibilidade da renovação e o surgimento de um novo patrocinador, você já havia tomado a decisão: estabeleceu-se de novo em casa. Aí não tinha como voltar, né?
Eu saí de férias achando que ia voltar. Deixei tudo aqui, até o cachorro. Pra mim, era cem por cento que voltaria no começo de agosto. Até o meio de agosto, não chegou proposta. Eu sei que a Paschoalotto saiu e estavam procurando outros patrocinadores, mas chegou um momento em que eu não poderia esperar mais. Estava sem salário [por não ter mais contrato], meus filhos fora da escola há três meses. Eu tinha que tomar uma decisão difícil, tinha que colocá-los na escola. Tive outras propostas, da Argentina, mas não queria arrancar minha família daqui e colocá-los em outra cultura. Eles já falam fluentemente o português e essa é a segunda casa deles. Para mim, era aqui ou nenhum lugar. Aí, não apareceu outra proposta no Brasil e tive que tomar a decisão. Eles já começaram escola lá há três semanas, estão jogando futebol, softbol, praticando ginástica, estão cuidando da vida lá. Acho errado eu arrancá-los de lá e voltar. No meio de agosto, eu já tinha vendido tudo, levado cachorro de volta… É muito difícil remontar tudo e fazer um contrato que, nessa crise do Brasil, não me daria muito. Foi difícil aceitar, porque amo aqui, acredito no time, na cidade, no projeto. Mas foi a decisão certa, porque tenho uma família que precisa de mim lá, da minha ajuda. Estou fora do meu país há doze anos. Minha avó está com 91, não sei quanto tempo mais ela tem no mundo, quero passar um tempo com ela também. Não tenho nada pessoal contra as pessoas daqui, amo aqui, queria voltar, mas no fim não deu certo.”

A aliança presa ao cadarço: nos rachões, não vai mais precisar. Foto topo: Caio Casagrande/Bauru Basket
A aliança presa ao cadarço: nos rachões, não vai mais precisar. Foto topo: Caio Casagrande/Bauru Basket

Você está em forma. Tem alguma perspectiva de atuar por alguma liga local ou só vai brincar de basquete mesmo?
Até agora, não vi oportunidade lá de jogar de forma competitiva, que valha a pena treinar todo dia… Eu quero apoiar minha família, os esportes dos meus filhos. Se eu fosse técnico deles, seria legal… Acho que vou brincar duas vezes por semana, depois que pegar o ritmo da vida nova. Mas, agora, estou pensando neles.”

Nessa despedida, apesar da festa, era jogo decisivo. Você deu sua contribuição, lutou, pontuou, também errou lance livre…
Errei quatro!”

Mas pela falta de ritmo, está valendo. Como foi se esforçar num jogo decisivo nessa mistura de emoções?
Joguei várias partidas na minha vida que pesavam bastante. Sempre jogo do mesmo jeito. Essa foi um pouco diferente porque não vai acontecer de novo. Sempre entro na quadra pensando em ajudar meu time de qualquer jeito, com rebote, defendendo, metendo bola, não importa… Vejo do que o time está precisando e quero dar isso a eles, para ajudar a ganhar. Sobre o ritmo, não via uma bola há seis semanas! Fora de ritmo mesmo… Não sei se foi energia, se Deus me levou, mas foi tranquilo. Se tivesse outro jogo amanhã, não sei se conseguiria…[risos]

Nesse improviso, ajudou estar com o amigo Valtinho? Matou a saudade?
Vixi! Eu falei pra ele me dar pelo menos uma assistência.”

Você não está se despedindo só de Bauru, mas do Brasil. E, falando em Valtinho, tem Uberlândia nessa história também. Vai levar essas duas cidades com você…
Vão embora comigo pra sempre. Tenho amigos que vão me visitar, até da comissão técnica. Não marquei dia, mas já convidei todo mundo. Fiz amizades que já se tornaram família. O Brabo já foi em casa, Valtinho, a esposa do Jefferson… Então, essas amizades não acabam aqui, não.”

 

Day foi personagem de um dos textos que eu mais gosto de recordar, o do vice-campeonato do NBB 7. Fica a dica de leitura.
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Noroeste

Confira principais pontos da entrevista do presidente do Noroeste à Auri-Verde

retranca-ECNNa noite dessa terça-feira, 30/ago, o novo presidente do Noroeste, Estevan Pegoraro (no cargo há 45 dias), concedeu relevante entrevista à rádio Auri-Verde, no programa Jornada Esportiva. Em conversa com Rafa Antonio, Lucas Rocha e Luiz Lanzoni, o mandatário alvirrubro respondeu aos principais pontos que afligem os torcedores no momento. A seguir, transcrevo os principais trechos da conversa. Sou ouvinte assíduo dos colegas e tomei a liberdade dessa reprodução para levar ao conhecimento daqueles que não puderam ouvir, além de deixar registrado esse bom trabalho nesse mundão que é a internet.

Início do mandato
Não é fácil, já assumi já sabendo das dificuldades. Passei um tempo como tesoureiro para entender e não cair de paraquedas. Mas as surpresas continuam surgindo. As dívidas com governos federal, municipal e as trabalhistas são as mais significativas. Fizemos uma audiência na Justiça Trabalhista com todos os credores e chegou-se a quase 15 acordos, falta apenas chegar a um acordo com os clientes dos advogados Filipe e Thiago Rino. Não é por causa deles, mas pelo grande volume. Estamos dialogando e acredito que vamos chegar a um denominador comum com eles. O débito federal estamos acertando via Profut.

Importância da base
O projeto da Tel [Telecomunicações, que investe R$ 60 mil mensais no clube via incentivo fiscal] é destinado via prefeitura e específico para a base. Hoje, atende mais de 500 crianças, é bom que as pessoas tenham consciência disso. O trabalho com a base, tocado pelo Emerson Carvalho, tem ainda o apoio dos irmãos Mandaliti. É um trabalho muito importante. Eu vejo como futuro do Noroeste o fortalecimento na base. Hoje, não temos como disputar a A-3 com a base. Mas o Noroeste tem condições de dar estrutura a escolinhas da cidade e da região. Há jogadores de Bauru espalhados pelo Brasil e pelo mundo que nunca jogaram no Noroeste. Num curto espaço de tempo, a médio prazo, poderemos disputar competições com frutos da base.

A polêmica saída do zagueiro Foguinho
O Foguinho, como todos os jogadores da base, não tem contrato. Estão apenas inscritos. Porque o Noroeste ainda não tem o selo de clube formador, regularizado na Federação. A única forma de vincular os jogadores com o clube é fazer contrato profissional de no mínimo três anos, o que é totalmente inviável. Assim, é claro que ficamos expostos ao interesse de clubes grandes. O Foguinho foi esse caso. Ainda bem que o Palmeiras teve uma atitude louvável. E fizemos um acordo de que o Noroeste tem direito a 30% numa negociação que ocorrer nos próximos dois anos, além de R$ 300 mil pelos 70% do Palmeiras. Se o Palmeiras não tivesse essa decência, teríamos saído de mãos abanando nesse negócio.

O sonho da elite
Falando com muita sinceridade ao torcedor, não sei se o patamar do Noroeste hoje é a primeira divisão. Não é a nossa realidade. A meta tem que existir, mas se disputar segunda do paulista e pensar numa Série D do Brasileiro, o calendário é muito mais interessante. A gente sabe que a gestão do futebol, por mais que demande profissionalismo, não dá pra desvincular da paixão. Meu sonho é daqui três anos entregar o Noroeste a um novo presidente na primeira divisão paulista e sem dívidas. Vou trabalhar pra isso, mas vai ser difícil.

O imbróglio do aluguel da Panela de Pressão
Falta a grana [para resolver o assunto]. Estamos negociando. A Semel [Secretaria de Esportes e Lazer] já fez uma avaliação, mas com retração do valor do aluguel. A Panela estava alugada por quase R$ 20 mil e a proposta foi de R$ 15 mil, que considero insuficiente, pois está abaixo do valor de mercado, não há outro ginásio desse porte na cidade e porque não ajuda o Noroeste a pagar as contas.

Noroeste e Prefeitura
Não há impasse algum entre Estevan e Rodrigo Agostinho. A conversa está no mais alto nível, o Rodrigo tem se mostrado um grande noroestino. Mas o prefeito não pode pagar mais do que a avaliacão da Seplan [Secretaria de Planejamento] diz. Quando o torcedor do Noroeste me cobra que tem que fechar a Panela, gostaria de dizer que isso só não foi feito em respeito aos torcedores do basquete e do vôlei, porque muitos deles são noroestinos também. Vamos tentar esgotar todas as possibilidades nesse assunto para fazer dar certo.

Cessão do Complexo Damião Garcia
Existem mecanismos para tentar viabilizar um acordo com a Prefeitura. Alguns noroestinos rechaçam, mas não podemos desconsiderar. Até porque, por conta das ações trabalhistas, se um juiz decidir penhorar a Panela, ela pode cair nas mãos de uma construtora… É isso que estamos tentando evitar. Se o Noroeste tiver que dispor do seu patrimônio para quitar dívidas, que seja para as mãos da Prefeitura, que vai priorizar o esporte. Muito melhor do que cair nas mãos da iniciativa privada.

Parceria com o Talentos 10
Nós alugamos o Alfredo de Castilho para o Talentos 10 mandar seus jogos em Bauru. É um time da cidade e entendo que podemos proporcionar esse lazer para os torcedores locais. O aluguel tem uma taxa simbólica de R$ 1 mil e eles bancam as despesas dos jogos. E o Talentos 10 pode ser um celeiro para o próprio Noroeste. O torcedor não precisa se preocupar, nem comparar. Nem nos próximos duzentos anos, com todo o receito, o Talentos 10 vai ter a grandeza do Noroeste. Tem espaço e estendemos a mão para um clube da cidade. Foi feito com o mesmo princípio que cedemos hoje para o basquete e o vôlei.

Projeto para a Série A-3
Eu tenho sido persistente na questão dos patrocínios. Não tenho nada para oferecer no momento. Não existe pedir ajuda. O investimento exige retorno, que hoje é zero porque o Noroeste não disputa nada. Somente a partir de janeiro. A gente tem conversado com muitas empresas, mas nada de concreto. Há boas perspectivas, mas não há nada de concreto para a Série A-3 ainda. O que mais recebo é ligação de jogador, treinador e empresário se oferecendo… Mas empresa oferecendo dinheiro, nada…

Formação do time
Temos conversas com profissionais da área, não descartamos parcerias com grandes clubes, foi falado do Alecsandro, que é meu amigo pessoal e conhece muita gente no mundo da bola, posso ouvi-lo também… Vai ser feito o trabalho, mas estou deixando mais pra frente. Estou pensando primeiro em colocar a casa em ordem.

Marketing e sócio-torcedor
Vamos ter um trabalho de sócio-torcedor. Minha função é proporcionar ao bauruense, ao noroestino, a possibilidade de ajudar. Vamos soltar o programa de sócio-torcedor, além do projeto ‘Trave de Ouro’, uma trave que sobrou da época do incêndio do estádio [em 1958, no antigo estádio na rua Quintino Bocaiúva]. Ela está lá em Alfredo de Castilho, queremos fazer um memorial em homenagem a quem apagou aquele incêndio e buscar empresas que colaborem com R$ 1 mil por mês para colocar essa trave na entrada do estádio.

Parceria com Associação Avante, Rubro!
Eu não tive tempo de adentrar na situação da parceria com a Associação. No dia 3, vamos ter uma oportunidade, a exposição das camisas, iniciativa dos torcedores.Temos que ter sim um elo de proximidade. Concordo que a família Garcia errou nessa relação. Seo Damião merece um busto, pelo grande noroestino que foi, mas ficou essa rusga de ele ter se isolado. Temos que nos aproximar dos bauruenses para fatiar a receita, porque não vamos conseguir R$ 200 mil de nenhuma empresa. Mas podemos conseguir 200 apoios de R$ 1 mil.

 

Foto topo: Bruno Freitas/EC Noroeste

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Bauru Basket

Rodrigo Paschoalotto: “Deveríamos unir todos os esportes de Bauru”

Não vou demorar nessa abertura, porque o papo é longo — mas obrigatório para bauruenses que gostam de esporte. Rodrigo Paschoalotto, presidente da patrocinadora máster do Bauru Basket, conversou com o Canhota 10 por uma hora com sua habitual sinceridade, sem rodeios. Segue crítico da CBB, enquadrou a Federação Paulista e a sede de títulos continua grande. De quebra, tornou pública uma ideia revolucionária para o esporte bauruense e deixou seu lado noroestino falar alto nessa ótima conversa. Leia até o fim, você não vai se arrepender.

Pra começar, você já falou publicamente sobre o assunto, mas acho que ainda vale registro, pois foi algo que o aborreceu muito: a repercussão da saída do Larry, apesar de estar claro que havia sido uma escolha dele.
Ele quis sair. Eu até achei estranho, pois com Mundial, NBA, sair agora… Eu não sairia. Nem acho que foi a questão financeira, porque eu disse a ele ‘Larry, eu cubro e faço contrato vitalício’. Até guardei as mensagens que troquei com ele, caso alguém duvide. Foi a proposta que eu fiz para o Alex, quando perguntei quanto tempo ele ainda jogaria em alto nível. Ele me respondeu quatro, pelo menos. Então fizemos um contrato de quatro anos. Eu acho normal o Larry querer sair, mudar de time. É saudável. E deveremos ter uma surpresa agradável com o Paulinho Boracini. Era vontade minha e do Vitinho ter trazido antes. Mas o Ricardo veio menino e despontou. E tínhamos o Larry e não íamos dispensá-lo nunca! Mas todo ano lembrávamos do Paulinho, pois ele encaixa no nosso time. Faz infiltração, tem passe bom e arremesso de três melhor do que o do Larry. Perde um pouco na questão defensiva, mas vai surpreender. A outra mudança, o Léo Meindl: é mais completo que o Gui, na minha opinião. Então, o time hoje é mais forte do que o da temporada passada.”

Sem entrar nos méritos da decisão de Mogi, mas Bauru nunca forçaria o Larry a voltar da Seleção, certo? Tanto que o próprio Hettsheimeir fez questão de enfatizar que o time não influenciou no pedido de dispensa dele.
Isso. Mas eu parto do princípio da igualdade. Se jogador da NBA pede dispensa e a CBB aceita, por que não um clube brasileiro fazer isso, que é quem investe no jogador? A Seleção é uma grande vitrine para o jogador, mas não é uma grande vitrine para o clube. Se a NBA pode fazer, os clubes brasileiros podem! Eu não acho legal, não faria, pois é a grande oportunidade que um jogador tem para aparecer para o mundo inteiro. Então, seria errado da nossa parte dizer ‘não vai’. Foram nesses jogos do Pan que o Hettsheimeir chamou a atenção da NBA. Ele vai acertar a vida dele, se for.”

É o tipo de situação que tem que deixar ir… Se o Rafael entrar num time da NBA, como fica a reposição?
Até eu, se jogasse basquete, iria. Você, jornalista: o pessoal do The New York Times te faz uma proposta. Você não vai?”

Na hora!
Claro que você vai! Tem que ir. E pra gente é bom. Vão falar do Bauru Basket no mundo inteiro. É melhor sair de Bauru do que de Franca ou de outro time… ‘Hettsheimeir, ex-jogador de Bauru’. Lógico que eu queria que ele ficasse, gosto demais do Hettsheimeir, mas, para a vida dele, é melhor ir. Quanto a reposição, temos diversas alternativas. Temos planos A e B. Trazer alguém do mesmo nível ou trazer um cara mais jovem para colher o fruto daqui um ou dois anos. Estamos pensando, mas não sofro por antecedência. Se o cara vai morrer daqui um mês, deixa ele morrer primeiro. Vou chorar no enterro, não agora.”

Título da Sul-Americana. Foto: Henrique Costa/Bauru Basket
Título da Sul-Americana. Foto: Henrique Costa/Bauru Basket

Falamos de CBB… Hoje ela não tem nenhum tipo de influência no calendário, mas acaba atrapalhando…
Ano passado foi ridículo! Paulista, Sul-Americana, NBB, tudo encavalado, só acontece aqui. Se a gente parte do princípio de que deveremos chegar na reta final de todos os campeonatos… Tanto que este ano começamos com um pensamento diferente. Nós não abrimos mão do Paulista, vamos ser campeões. Apenas abrimos mão de começar full time como na temporada passada, o que foi ruim, pois sobrecarregamos alguns jogadores. Estamos fazendo um planejamento para chegar num primeiro pico depois do Mundial, aí dar uma leve caída e chegarmos muito fortes nos playoffs do NBB.”

Na última entrevista que fizemos, você deu uma declaração forte sobre a CBB. Desanima colocar o basquete de Bauru no patamar que está e ver a CBB mendigando vaga em campeonato e fazendo pouco pela base?
Vamos dividir o basquete em três partes. Organização estadual do basquete: péssima. CBB, que cuida das seleções: péssima. Liga: muito bem, no caminho certo. Se não fosse a criação da Liga e das pessoas que estão lá, como o Sergio [Domenici, gerente da LNB], o basquete já teria acabado. É um pessoal muito sério, que trabalha demais. A Liga está fazendo o trabalho dela, bonito, trouxe parceria da NBA… Só que entra o lado da CBB e desanima. O Magnano, por exemplo. É um baita treinador, não tenho dúvidas. Mas tem técnico aqui no Brasil. Sou muito bairrista em algumas questões. Tem que fazer intercâmbio, mas de outras formas. A CBB tem um centro de treinamento em São Sebastião do Paraíso! É fora de logística! Onde tem que montar? Ou São Paulo ou Rio. A iniciativa é legal, mas a Seleção principal treina em São Paulo por causa de logística! Esse negócio de implorar vaga, pagar por vaga, não acho legal.”

Os playoffs do Paulista vão bater com os amistosos da NBA. Já existe uma sinalização de que a Federação vai ceder e ajustar a agenda? Estão conversando?
Eu acredito que o bom senso é mudar as datas. Nossa ida pra lá é importante para o basquete paulista e brasileiro. É o primeiro time paulista. Isso já justifica. E se os caras não mudarem? Vamos abrir mão do Campeonato Paulista. Pensando como produto: todo o mundo vai nos ver. O Paulista mal tem tevê… É um fato histórico. Vamos ter mais mídia do que o Flamengo. Quem sabe no ano que vem não vem um time da NBA jogar aqui no Brasil com a gente? Mas não temos ginásio… Não seria aqui.”

Mas no padrão deles, hoje, só a Arena da Barra…
Na melhor das intenções, talvez o Ibirapuera. Aliás, no padrão que o time está ficando, logo Bauru não comporta mais. É como o preço do ingresso. Por que vai aumentar? Porque é outro produto. Melhor. A renda ajuda na composição dos custos. Quem quer pagar pouco vai ver um time que não ganha nada. Colocamos o basquete de Bauru num patamar que nenhum esporte coletivo da cidade teve. Destaque mundial!”

O que você poderia fazer pela Arena Bauru, viabilizar o projeto, já fez. O Ministério do Esporte recuou, por causa da crise. Você acha que essa tentativa via iniciativa privada, com isenção fiscal, pode dar certo?
O momento econômico do país é ruim, fica difícil embarcar num projeto desses. Quando há crise, ninguém ganha, todos perdem. Uns mais, outro menos. A conta que qualquer investidor vai fazer é de viabilidade. Quanto vai investir e quanto vai ter de retorno, com estacionamento, participação na bilheteria… Fazer essa conta pra ver se compensa. Eu acho que compensa. Mas não pode ser uma arena só voltada para esportes. Tem que locar eventos, exposições, shows. Bauru merece, tem que viabilizar.”

Como não há perspectiva próxima de ginásio para decisões, Marília está aprovada?
Sim, foi muito legal.”

Confesso que fui contra pela rivalidade. Mas me espantei com a receptividade dos marilienses.
Isso mudou. Há 25 anos, tinha muita rivalidade. Eu ia ver jogo do Noroeste e saía briga pesada. Já entrei em briga. A molecada de hoje não sabe metade do samba da minha vida! Já briguei, tomei pedrada lá em Marília, em Campinas. Outra grande rivalidade era com a torcida da Ponte. Tanto que mudou o lugar de visitante aqui por conta de uma briga. A gente acuou os caras da Ponte, que tiveram que sair.”

Ainda vejo muitas discussões nas redes sociais entre maqueanos e noroestinos, mas, vias de fato, felizmente, não… E a rixa entre as cidades diminuiu, porque tem empresários de lá com negócios aqui e vice-versa.
Eu tenho negócio grande lá. Não tem mais isso. E o ginásio encheu! Temos que ser práticos. É perto, fácil de ir. É melhor lá. Achei que a torcida de Bauru foi bem recebida, não soube de nenhum incidente.”

Te surpreendeu o ginásio cheio?
Eu tinha certeza que ia encher. Se tivesse dez mil lugares, lotava. Você não sabe o tanto de gente que me pediu ingressos…”

Com as obras da Arena Bauru, na melhor das hipóteses, começando em 2016, Bauru perde sede de várias finais até 2018…
Mas é difícil prever se vamos continuar fortes. Bauru continua top este ano e deve continuar forte no seguinte. Depois, é difícil prever. Pois há lesões, atletas que querem sair, alguns estarão mais velhos. Como Paschoalotto, tudo tem um ciclo. Uma hora a Paschoalotto vai sair do basquete. Logicamente, nossa vontade é ficar, mas é saudável virem outros investidores. Quem sabe saímos num momento, retornamos no futuro. Se você perguntar quando vamos sair, posso te dizer que já passamos da metade do tempo que pretendemos ficar. Se tivéssemos mais ajuda, seria melhor, teríamos um time mais qualificado. Crise econômica afeta todo mundo e a Paschoalotto está no meio de todo mundo. Hoje, é um investimento pesado. Logicamente a empresa tem vida financeira saudável e isso não vai mudar: tudo o que assumimos, cumprimos e iremos cumprir nos próximos anos. Mas, se houvesse mais gente, melhor. Tem algumas coisas em Bauru que precisam mudar. Penso que deveríamos unir tudo debaixo do mesmo chapéu: Noroeste, futsal, vôlei e basquete. Isso teria que se chamar ‘Bauru alguma coisa’. Lembrando do BAC: Bauru Atlético Clube. Um comitê gestor para tocar tudo isso, todas as verbas de patrocínio e incentivo fiscal vão para essa organização, mas logicamente pode haver um patrocinador em cada camisa. Ficaria mais fácil. Às vezes, R$ 20 mil não fazem falta ao vôlei, R$ 40 mil não fazem falta ao basquete, mas R$ 60 mil fazem diferença no Noroeste! Aliás, se o Noroeste subir, ferrou… Na A-3 é mais caro, não é mais com molecada, aí vão montar um time que vai cair de novo? Seria muito mais fácil unir esforços, pedir patrocínio para o esporte bauruense. Mas nesse comitê tem que ter empresário com visão de negócio. E Poder Público. Precisa dessa ajuda também, para direcionar verbas públicas corretamente. E ter especialistas em cada área. No esporte de Bauru dá pra fazer muita coisa. Mas tem que ter investimento público e privado. E mudar um pouco as estruturas. Hoje, cada time paga um fisioterapeuta. Poderia ter dois para atender a todos os times. Teria um departamento médico só. É uma coisa para se pensar.”

Dando certo, abrir para outras modalidades. Hoje Bauru é figurante nos Jogos Abertos…
E aproveitar as entressafras. Fazer contratos mais inteligentes de patrocínio explorando que esporte está mais forte, momentos do calendário. É difícil montar isso? É. Mas eu acho que é o único caminho para perpetuar o esporte coletivo de Bauru. Senão, fica vivendo de momentos de investimento. O Noroeste teve o Damião Garcia, o basquete teve a Tilibra lá atrás, a Itabom, agora a gente. O vôlei tem o Mandaliti, a FIB no futsal. Se esse pessoal sai, acaba? Logicamente, não é possível ter todos os times na elite. Mas todos os esportes coletivos competindo em alto nível. Pra cidade, seria maravilhoso.”

Será que a experiência positiva da Paschoalotto influenciou a Concilig a investir no vôlei? Percebo que vocês têm uma convivência amistosa, sobretudo dividindo a Panela.
Não… Sou amigo do Reinaldo e do Rodrigo [Mandaliti]. Concorrência só existe na cabeça dos outros. O mercado é pra todo mundo. Ser concorrente é uma coisa, ser inimigo é outra. O pai deles sempre foi ligado a esporte. Já ajudaram o Noroeste. Já bati um papo com o Reinaldo a respeito dessa ideia de colocar todos os esportes debaixo do mesmo chapéu. Ele é apaixonado pelo Noroeste. Ele já me disse ‘Vamos assumir aquele negócio!’. Eu disse que não dá, porque pra administrar tem que encarar, parar o trabalho. Se for pra fazer mais ou menos, melhor não fazer. Quem sabe um dia…

Existe entre os noroestinos esse lamento de o clube estar esquecido por grandes apoiadores.
Não está esquecido. Se você tivesse uma empresa, iria investir no Noroeste?”

Não… Apesar de que hoje estão até arrumando a casa, mas a política do clube é arcaica…
As pessoas que estão lá são todas sérias, não tenho dúvida nenhuma. Conheço o Toninho Gimenez. Mas a estrutura montada inibe investimentos. Não é patrimônio, é massa falida. Eu já teria passado o complexo, estádio e ginásio, há muito tempo para a Prefeitura e sair daquele custo. Os demais espaços, eu pegaria toda aquela área ociosa e faria permuta com uma construtora. Não é vender o patrimônio, é permutar. A troco de apartamentos. Em 400 apartamentos, o Noroeste teria direito a 40. Num aluguel de milão, seria uma receita de R$ 40 mil por mês para o clube. O que gera hoje? Só cobra, escorpião e uma paisagem horrível. E ainda iria povoar mais o estádio. Há quem vai reclamar sobre o patrimônio, mas não é doação, é permuta. Ao invés de mato, vai ter apartamentos. E tem que ter transparência. Em 2006, patrocinamos o calção do Noroeste. Nessa época, até figurei como tesoureiro no estatuto do clube. Uma vez eu falei para o seo Damião: ‘Tem que esclarecer esses milhões que o senhor deu e que constam no balanço, esclarecer onde foi investido’. Não ficou legado no Noroeste, da época do seo Damião, porque usaram mal o dinheiro. Ele estava cercado de pessoas ruins em administração. A gente quer fazer diferente no basquete para que, quando sairmos, continue com vida própria.”

Exatamente para não criar aquele pânico de que, se sair, o time vai acabar!
Por três vezes estive com o seo Damião. Numa delas, numa estreia contra o Paulista, em Jundiaí. Ele me disse ‘Rodrigo, estou velho, cansado. Eu gosto do Noroeste. Você não quer assumir?’. Eu disse que pra mim não dava. ‘Eu continuo pondo dinheiro e você administra’. Respondi ‘Infelizmente, ainda não dá!’. Não que eu fosse fazer certo ou melhor, posso estar falando bobagem. Não gosto de ser engenheiro de obra feita, o cara que fala que o prédio está construído errado. Por que não falou antes de construir? É a mesma coisa eu, agora, estar analisando o trabalho de outros, posso estar sendo injusto. Mas algumas coisas eu faria diferente. Se ia dar certo ou errado… Mas trabalho num mercado competitivo e nossa empresa é a maior do segmento. Administrar eu sei, a característica de um jogador de futebol, eu não sei. Só que aí posso ter alguém especialista para orientar. Se você me perguntar sobre uma jogada específica de basquete, eu não sei. O Guerrinha está lá pra fazer isso. Mas tratar o esporte como negócio, como marca, eu sei fazer. Hoje, o Dragão tem um valor. Estou pra falar que, hoje, se você pegar o Dragão e o escudo do Noroeste e sair no Brasil perguntando para um público jovem, até 25 anos, que é mais ligado no esporte, talvez o Dragão seja mais conhecido. Não era pra ser. Mas, quem sabe um dia, seja um escudo só.”

Mas nesse arranjo não dá pra mudar o escudo do Noroeste, por conta da tradição…
Mas dá para reestilizar. Os grandes clubes reestilizaram seus escudos. O Noroeste é maior do que Bauru? Bauru é maior do que o Noroeste. Só existe o Noroeste porque existe Bauru. Mesma coisa com o basquete, o vôlei. Bauru é maior do que tudo. Pode ser Bauru Noroeste. A arte em si é o que menos importa, como vai ser o escudo. Mas a gestão unificada. Isso pode virar um reboliço entre torcedores, mas a gente só colhe resultados diferentes se plantar coisas diferentes. Se o formato da gestão continuar do jeito que está, vai ser isso que está aí. Talvez se fizesse essa unificação, ficaria mais fácil. O empresário não investe porque há muita desorganização administrativa, fiscal… Ninguém vai pôr dinheiro. Por exemplo: quando chegamos no basquete, o Guerrinha não tinha contrato assinado. Era de palavra. Isso não existe, tem que estar preto no branco.”

Essa unificação é uma empreitada que você gostaria de tocar?
Hoje, eu não posso, não tenho a mínima condição de assumir. No futuro, não sei. Mas que é uma coisa que faz sentido… Talvez a gente tenha um time em todas as segundas divisões, mas em todos os esportes. Eu sou noroestino. Tenho umas vinte camisas do Noroeste em casa. O que mata é não ter competitividade. Se fôssemos disputar Série C do Brasileiro e Série A-2 já seria bacana, se fosse competitivo. Não estou querendo ser campeão todo ano, mas estar na briga, beliscando. Mas e o endividamento do Noroeste, as dívidas? Isso é passado. Ou paga ou deixa pra lá e começa uma vida nova. Enquanto ficar arrastando caixão…”

Você, como investidor no esporte, pode dar um testemunho de que é um excelente negócio?
Sim. O basquete não trouxe um real a mais para a Paschoalotto. Nenhum banqueiro vai me passar um trabalho a mais porque viu nossa marca na camisa do time. Mas quem trabalha aqui, na maioria, são os bauruenses. Uma das poucas coisas que a Paschoalotto pode fazer pela cidade é dar alegria. Tudo o que pudermos fazer pela comunidade, vamos fazer. Sem os bauruenses a gente não existiria. Muitas vezes a pessoa confunde investimento no esporte com venda. Pensa ‘Patrocinei um time, mas minhas vendas não aumentaram’. Mas e o respeito pela sua marca, pela cidade que mantém a sua empresa? Bauru tem empresas que estão aqui há décadas. Será que elas não têm que fazer alguma coisa pela cidade? Tudo o que eu e a minha família temos, vem de Bauru. Esse patrocínio é uma pequena retribuição do que Bauru já deu pra gente. Dinheiro ninguém leva para o caixão. Que fique aqui bem gasto, então.”

Com o amigo Jorge Guerra. Foto: Thiago Navarro/Jornal da Cidade
Com o amigo Jorge Guerra. Foto: Thiago Navarro/Jornal da Cidade

Voltando para o basquete, recordo-me que, no anúncio da renovação até 2016, disseram que a permanência estava condicionada à do Guerrinha. Isso de fato está no papel?
Não só ao Guerrinha, estava vinculado às pessoas. Talvez tenha me expressado mal na época. É também o Vitinho, o Joaquim, o Beto Fornazari. Com esse pessoal, estamos juntos. Se mudar, eu tenho que ter o direito de pensar se quero continuar. O Guerrinha é meu amigo pessoal. Eu disse a ele ‘Guerra, enquanto você estiver, a gente está’. Se sair, não quer dizer que a gente vai sair, mas temos que nos reservar o direito de pensar. A mesma coisa o Guerrinha. Ele não vai ficar a vida inteira técnico de Bauru. Vai querer ser um gestor, por exemplo.”

Sobre o Rodrigo imerso no Bauru Basket: você negocia contratações pessoalmente, participa do conselho gestor. E já foi ao vestiário cobrar jogadores? Como é sua relação com o time?
Quando a gente decidiu patrocinar, eu sabia que ia acabar entrando no meio. Eu não consigo fazer um negócio à distância, sem me envolver. Sou muito passional. No nosso primeiro Paulista, a gente foi eliminado por São José no quinto jogo, quando o Jefferson fez 25 pontos, com a Panela bufando de gente. Naquele dia eu prometi que ia ser a última vez que sofreríamos por causa de São José. Aí trouxemos o Murilo, mas não conseguimos trazer outros por questão de verba ou de contratos em vigor. Já na última temporada, escolhemos a dedo. Se não conseguíssemos o jogador desejado, não seria outro, continuaríamos com o que tínhamos. Só não ganhamos o NBB porque o Flamengo, que tinha perdido a Liga das Américas, veio com mais apetite e nós estávamos fisicamente e psicologicamente desgastados. E o Jefferson fez muita falta na rotação. Este ano eu quero ver! Então, acabei me envolvendo. Já teve vezes que fui ao vestiário pra conversar. Umas conversas mais legais, outras mais ásperas, como é normal em qualquer negócio. Mas a minha intenção é ajudar com a minha visão de gestão de pessoas e empresarial, tratando o basquete como negócio. É onde posso colaborar muito. Este ano me afastei um pouco, porque o momento da economia é atribulado, então tenho que cuidar mais dentro de casa. Mas hoje temos o comitê gestor para tomar decisões em colegiado e minimizar erros. Quanto mais gente pensando junto, menos erros. E essa decisão se torna menos pessoal. Se dispensar um jogador, foi o Bauru Basket, não foi o Vitinho, não foi o Guerrinha. Foi a instituição. Você começa a despersonalizar e coloca a pessoa jurídica na frente.”

Entregando o dolorido (porém honroso) troféu de vice-campeão. Foto: Henrique Costa/Bauru Basket
Entregando o dolorido (porém honroso) troféu de vice-campeão. Foto: Henrique Costa/Bauru Basket

Voltando ao Flamengo…
“Este ano a gente não perde para o Flamengo!”

Pois é… Você sempre comenta em suas entrevistas, apesar do tom descontraído, que quer ganhar tudo. Mas é muito difícil fazer duas temporadas perfeitas…
Eu acho que o nosso ápice é nesta temporada. Talvez a de 2016/2017 seja menor do que a de 2014/2015.”

Então a meta é de novo chegar a todas as finais?
Este ano, se passamos para os playoffs do Paulista, vamos ser campeões. O foco é o NBB. Temos que ser campeões brasileiros. Segundo foco: Liga das Américas, pra ser campeões de novo e continuar no topo, disputar o Mundial de novo.”

No Mundial, dá pra jogar de igual pra igual, mas o Real Madrid é mais forte…
Eu penso o seguinte: conseguimos vencer os times da NBA? Ano passado, o Flamengo conseguiu levar pau a pau enquanto os caras estavam moles. Depois, deram uma apressadinha e aí a diferença de nível é muito grande. É muito difícil de ganhar, mas vamos jogar pra ganhar. A gente pode se tornar o primeiro time brasileiro a ganhar de uma equipe da NBA em solo americano. Do meu ponto de vista, é mais uma celebração por tudo o que a gente tem feito. Mas do ponto de vista do jogador, eu tenho certeza que os caras vão entrar pra rachar, vão quebrar a perna se for preciso, porque é a vitrine deles. Para consagrar os mais experientes e ser vitrine para os mais jovens. Ganhar vai ser muito bom, mas até comentei com o Guerrinha que serão dois jogos, um para jogar sério e outro pra brincar. Aí pode passear e tomar cerveja. Mas em um tem que chegar firme. Sobre o Intercontinental, o título é o mesmo, mas o de Bauru vai ter muito mais valor do que o do Flamengo. Apesar de o Maccabi ser um time conhecido na Europa, Real Madrid é Real Madrid! Eu sempre sonhei que se a gente ganhasse a Liga das Américas, queria pegar Real Madrid ou Barcelona.”

Campeão das Américas, um dos maiores times da história do basquete brasileiro. Ponto. Foto: Henrique Costa/Bauru Basket
Campeão das Américas, um dos maiores times da história do basquete brasileiro. Ponto. Foto: Henrique Costa/Bauru Basket

Na temporada passada, por conta de rivalidade, provocação, lembro-me de ter lido nas redes sociais, de torcedores — sobretudo de Flamengo e Franca — que Bauru só estava nessa fase porque tinha a grana da Paschoalotto. Mas você já falou dessa relação forte com a cidade. Então, tá tudo certo…
Lógico! O trabalho que a gente faz investindo na base é para tentar perpetuar o basquete. No futuro, teremos jogadores mais baratos. E mesmo se a Paschoalotto sair no futuro, você pode ter um time bacana com pouco dinheiro. Esse vai ser o grande legado. O mais importante é o basquete não acabar, e pra isso tem que ter um time com custo menor. Vai chegar um ano em que vamos ter que fazer uma ruptura, com apenas dois experientes com molecada, num ano em que não vamos ser campeões. Mas é o caminho. A gente tem uma molecada boa. E esse negócio de o pessoal falar… Já ouvi um monte de coisa. Já disseram tantas vezes que a Paschoalotto está quebrando… E, cara, tô aqui. Divulgamos recentemente que hoje temos um grande parceiro, a Gávea Investimentos, com o Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central, como um dos principais acionistas. Eu posso te garantir que no nosso segmento, hoje, somos a empresa mais sólida do mercado. E ficam falando de fase no basquete? Estamos indo para o quarto ano. Daqui a pouco a desculpa vai acabar. Não é possível que daqui dez anos, com o time firme, vão continuar falando de fase! Ninguém, na história do esporte coletivo em Bauru, investiu tanto. A gente põe alguns milhões de reais no basquete. E temos outros tantos que nos acompanham por causa do nosso trabalho sério. Claro que não temos a história de Franca, precisaríamos de uns 50 anos pra igualar, mas vamos colocar Bauru na história como uma das maiores equipes que o basquete brasileiro já teve. Ponto.”