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Homenagem a Isaías Ambrósio, o Senhor Maracanã

O funcionário mais antigo do Maracanã morreu ontem (11/1), aos 84 anos. Estava morando em Niterói, depois de uma temporada em Bauru, onde cresceu. Para homenageá-lo, republico reportagem que fiz com ele em 2008, para a 94FM Revista. A foto é de Luis Cardoso e está pipocando na internet sem o devido crédito.

Memória viva

Isaías Ambrósio cuidou da história do Maracanã por décadas e hoje goza merecido descanso em Bauru

A foto que todos os sites copiaram, muitos sem dar crédito ao fotógrafo Luis Cardoso, meu parceiro nesta reportagem

A denominação “Senhor Maracanã” estampou a edição de 17 de fevereiro de 1990 de La Gazzetta dello Sport, principal diário esportivo da Itália. A página, enquadrada e enviada pelos italianos, na ocasião, é apenas uma das lembranças do senhor Isaías Ambrósio. Ele é um importante capítulo da história do mais famoso estádio do mundo. Nascido em 6 de janeiro de 1927, em Pirajuí (veio ainda bebê para Bauru), hoje curte a aposentadoria em sua confortável casa no bairro Mary Dota [à época, antes de voltar para o estado do Rio]. Quando garoto, torcia para a Lusitana, que deu origem ao Bauru Atlético Clube. “Hoje, simpatizo com o Noroeste e gostaria de conhecer o Alfredo de Castilho”, revela.

A história de Isaías com o estádio começou em julho de 1948, quando teve a oportunidade de trabalhar na construção do que seria o principal palco da Copa do Mundo, dois anos depois. Atuou também como telefonista e segurança e morou lá alguns anos. Bom de prosa, ofereceu-se para ser guia turístico do local. Durante cinco décadas, recebeu visitantes, celebridades e chefes de Estado, tendo na ponta da língua várias histórias do “maior do mundo”, inclusive a mais triste delas. “Eu estava na final da Copa de 1950. Bigode [zagueiro da Seleção] era um carniceiro, batia em todo mundo, mas não fez nada no lance do gol. Gigghia passou por ele como quis. Foi triste mesmo!”, relembra.

Isaías voltou para Bauru em 2004, depois lutar contra problemas de saúde. Ele sofreu um acidente vascular cerebral em pleno Maracanã, diante de turistas, ao saber que o presidente da CBF, Ricardo Teixeira, havia sugerido em uma entrevista demolir o estádio. “Estava triste no Rio e achei por bem terminar meus dias aqui, onde começou a minha vida”, relata. Passados o susto e a desilusão, ele voltou a sorrir. O Maraca foi reformado para o Pan-Americano. Na reabertura, em janeiro de 2006 (um clássico entre Vasco e Botafogo), foi convidado para a festa. “Olhando o Maracanã do gramado, a lágrima escorreu”, conta. A paixão é tanta que ele sempre afirmou que gostaria de ser enterrado no meio do campo. Diante da negativa do chefe, ganhou em contrapartida outro presente: seu segundo casamento, com Zuma, foi celebrado nas dependências do estádio. Mesmo local onde seu nome está eternizado com uma placa, ao lado de feras como Zico e Didi.

O crachá que o Senhor Maracanã apresentava aos visitantes: poliglota

Funcionário vivo mais antigo da Suderj (Superintendência de Desportos do Estado do Rio de Janeiro, órgão que administra o estádio), Isaías orgulha-se do seu número de registro, 00009. Pai de seis filhos (“Todos bem de vida, graças a Deus”), recebeu duas importantes homenagens em 2000, ano do cinquentenário do Maracanã: o título de cidadão do Estado do Rio de Janeiro, por indicação do deputado Roberto Dinamite, e a medalha de mérito Pedro Ernesto (a mais importante comenda do município), requerimento do vereador Agnaldo Timóteo. Nenhuma delas, porém, mais significativa do que seu sorriso, o de um homem realizado.

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O Teorema do Barcelona

Por Deivide Sartori

Nos últimos três anos, o Barcelona não terminou um jogo sequer com menos posse de bola que seus adversários. Tal fato já demonstra a superioridade do futebol praticado pelo time da Catalunha. Posse de bola, porém, não implica vitória certa. O que se faz durante essa posse, sim. E aí está um aspecto que revela a unicidade do Barça atual. Com o domínio da bola, Messi e companhia jogam em triângulos e deixam as parábolas como as opções únicas para o jogo dos adversários. Mas o que esse papo geométrico tem a ver com futebol?

Resposta: amigos(as), os triângulos são inabaláveis. No caso do Barcelona, são onze vértices em movimento e revezamento contínuo na criação de jogadas triangulares. Para os comandados de Pep Guardiola, a distância mais curta entre as duas áreas não é o chutão parabólico e a esmo da zaga em direção ao ataque. Evita-se isso a todo custo. Basta ver como a equipe cobra suas faltas e tiros de meta – nada de parábolas. Sua aula de futebol é sobre triângulos: equiláteros, isósceles, escalenos, com ângulos agudos, retos, obtusos, enfim, versatilidade absoluta sob a regência dos mestres Xavi, Iniesta e Messi. Este, aliás, é aquele que possui autonomia e, sobretudo, qualidade para traçar linhas que fogem de qualquer lógica.

Na final do Mundial de Clubes, o Santos teve sua aula particular. Com todo o rigor euclidiano, a demonstração azul-grená fez com que os jogadores santistas parecessem pontos dispersos no retângulo verde da sala de aula. Mais uma vez, o teorema que afirma que, para se chegar aos gols, os pequenos triângulos são mais eficientes do que as grandes parábolas foi demonstrado. Mas nada de lamentação, torcedor(a) santista. O Santos, logicamente, tem bom futebol e não vive somente de parábolas. O fato é que, nos últimos três anos letivos, a lição do Barça acontece invariavelmente e seja qual for o oponente. E foi bonito o reconhecimento da derrota pelo melhor aluno alvinegro: Neymar disse “tomamos uma aula de futebol”.

Finalmente, eis o óbvio: é necessário algo de outro mundo para vencer a melhor equipe do mundo. Nesse caso, Pelé e Coutinho, os pais da matéria triangulação, seriam ideais.

Deivide Sartori é estudante de Jornalismo da Unesp/Bauru

Se você estuda Jornalismo é quer publicar textos nesta seção ‘Fala, universitário!’, entre em contato: fernandobh@canhota10.com

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Eu, corredor

No último domingo (11/12), tive uma importante conquista. Completei uma prova de 5km (quarta etapa da Eco Runner, em Bauru). Foi o resultado de dois meses de academia depois de looongo – bota longo nisso – período de sedentarismo. Nesse tempo (com algumas faltas por causa da correria, confesso), meu objetivo era o condicionamento físico. Fôlego, saúde, nada de vaidade, busca de corpo marombado. Por isso mesmo escolhi uma clínica de fisioterapia, não uma academia convencional. Em meu horário, apenas eu, então meu professor Plínio se tornou um personal e me preparou para correr, com treinamento bastante específico.

A semana que antecedeu a prova foi meu teste de fogo: finalmente fiz 30 minutos de corrida na esteira. Numa velocidade baixa, é verdade, mas compatível com minha condição de “iniciante”. Assim, meu objetivo na corrida era completar, mantendo um ritmo e sem caminhar. Caminhar jamais! Fui no que considero “trote constante”, lá no fundão, e completei a prova em tempo alto: 37min44s. O ideal para um amador bem preparado é correr abaixo dos 30min – minha irmã, que corre há mais de dois anos, completa na casa dos 27min. Ainda vamos correr juntos! Ela e meu irmão que caminha diariamente me inspiraram a sair do sedentarismo.

Detalhe: foi a primeira vez que corri na rua! Havia treinado apenas na esteira. Portanto, tudo era novidade: o asfalto, o sol, o vento contra, a paisagem… Como era de se esperar, a perna pesou no início, senti o trecho de subida, mas conduzi bem a respiração. Quando completei 4km, estava inteiro e pintou a tentação de apertar o ritmo, alargar a passada, mas não era meu propósito. Uma coisa de cada vez. Por ora, está muito bom. Em 2012, vou encher o calendário de provas (em Bauru, há pelo menos uma dezena). De carona, espero emagrecer um pouquinho (secar a “pochete” e diminuir o percentual de gordura). Para os que gostam de correr, eventualmente usarei esse espaço para compartilhar minha experiência – na verdade, minhas descobertas nesse novo hábito.

Na corrida, não é clichê: todos são vencedores
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Fórmula 1: situação complicada para os brasileiros

Por RENATO DINIZ

A corrida monótona em Interlagos encerrou uma das piores temporadas de Fórmula 1 para os pilotos brasileiros. Embora os primeiros pontos de Bruno Senna façam reacender a esperança de um novo talento nacional na categoria, o ano termina sem que um brasileiro subisse no pódio. Algo que não aconteceu, por exemplo, em 1997 ou 1999, quando o único brasileiro com reais chances de pontuar era Rubinho numa modesta Stewart. Nada que se compare a oportunidade que Felipe Massa teve com uma Ferrari.

A Ferrari não teve qualquer chance de bater a Red Bull, ou mesmo de superar a McLaren, mas seu piloto número um Fernando Alonso subiu no pódio dez vezes, em uma delas no lugar mais alto. Massa, por pouco, não foi superado pelo alemão Nico Rosberg, da Mercedes.

Diga-se de passagem, esta foi uma temporada de muitas ultrapassagens, mas de pouca rotatividade nas três primeiras posições. Apenas sete pilotos receberam troféus em toda a temporada (Vettel, Button, Alonso, Webber, Hamilton, Petrov e Heidfeld).

E de nada adiantou Vitaly Petrov e Nick Heidfeld subirem ao pódio. O russo ainda é dúvida para seguir na Lotus Renault e o alemão sequer correu até o fim do ano, tendo sido substituído por Senna. Agora, o brasileiro corre por fora na disputa por uma vaga na equipe. Kimi Raikkonen foi confirmado para 2012, Kubica em breve retorna às pistas, Petrov deve fazer de tudo para continuar e Adrian Sutil já foi cotado para vaga.

Está sobrando piloto para poucos carros. Até por isso, Rubens Barrichello tem um caminho complicado para seguir na categoria em 2012. São grandes as chances de que o GP do Brasil tenha sido o último de sua carreira.

RENATO DINIZ colaborou com o Canhota 10 na seção Fala, universitário! com brilhantes textos sobre a Fórmula 1. Agora, é jornalista graduado pela Unesp e segue seu rumo – certamente brilhante. Agradeço a disponibilidade, o capricho e desejo sucesso ano novo colega. Valeu, Renato!

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Quem é quem no futebol brasileiro: balanço dos pontos corridos

Por Arthur Sales

A era dos pontos corridos modificou a organização dos clubes no Brasil. Melhor planejamento e regularidade passaram a ser premiados e, enquanto antes da nova fórmula era muito difícil fazer prognósticos, agora podemos tentar escolher os cinco, seis candidatos sem dar um total tiro no escuro. No Brasil, existem no mínimo 12 grandes equipes (quatro paulistas, quatro cariocas, duas mineiras e duas gaúchas) que em uma fórmula de mata-mata podem crescer e faturar o caneco. Nos pontos corridos, a situação é outra e o que já se pode enxergar nesses oito anos de disputa (estamos prestes a conhecer o nono campeão dos pontos corridos) é que alguns desses grandes se consolidaram entre a real elite do futebol brasileiro:

Os seis melhores ano a ano desde os primeiros pontos corridos

2003 2004 2005 2006
1º Cruzeiro  Santos Corinthians São Paulo
2º Santos Atlético Paranaesnse Internacional Internacional
3º São Paulo São Paulo Goiás Grêmio
4º São Caetano Palmeiras Palmeiras Santos
5º Coritiba Corinthians Fluminense Paraná
6º Internacional Goiás Atlético Paranaense Vasco
2007 2008 2009 2010
1º São Paulo São Paulo Flamengo Fluminense
2º Santos Grêmio Internacional Cruzeiro
3º Flamengo Cruzeiro São Paulo Corinthians
4º Fluminense Palmeiras Cruzeiro Grêmio
5º Cruzeiro Flamengo Palmeiras Atlético Paranaense
6º Grêmio Internacional Avaí Botafogo

São Paulo, Internacional e Cruzeiro são os mais regulares desde 2003. O Tricolor tem seis aparições no top 6, ficou de fora em 2005 (ano do título da Libertadores) e no ano passado. Inter e Cruzeiro têm cinco aparições, ficaram apenas três vezes fora do top 6. Nesse período, além da regularidade no Brasileirão, o Inter trouxe duas Libertadores para casa.

No segundo pelotão do futebol brasileiro, na era dos pontos corridos, aparecem Santos, Grêmio e Palmeiras. Destaque para o Alvinegro praiano, que além de ter quatro presenças no topo da tabela, conquistou uma Copa do Brasil e uma Libertadores.

Flamengo, Corinthians e Fluminense estiveram entre os seis melhores em três ocasiões e foram campeões da Copa do Brasil. Outro que esteve três vezes na parte de cima da tabela foi o Atlético Paranaense.

O Goiás, que está na Segundona, apareceu em 2004 e em 2005, enquanto Paraná, Avaí, São Caetano e Coritiba tiveram seus 15 minutos de fama com uma aparição. Vasco e Botafogo que ressurgem de dois anos para cá, também chegaram no top 6 uma vez nos últimos oito Brasileiros.

Número de presenças no top 6:
6  São Paulo (+ 1 Libertadores)
5  Internacional  (+ 2 Libertadores) e Cruzeiro (+ 1 Copa do Brasil)
4  Santos (+ 1 Libertadores + 1 Copa do Brasil), Grêmio e Palmeiras
3  Fluminense (+ 1 Copa do Brasil), Flamengo  (+ 1 Copa do Brasil), Corinthians  (+ 1 Copa do Brasil), Atlético-PR
2  Goiás
1  Vasco (+ 1 Copa do Brasil), Botafogo,Paraná, Avaí,São Caetano e Coritiba

São Paulo, incontestável
O São Paulo é o grande clube brasileiro da era dos pontos corridos, quando não ganhou estava ali e, quando não esteve ali, é porque estava lá, em Yokohama, conquistando o mundo. Nunca terminou um Brasileiro, desde 2003, na metade de baixo da tabela.

Internacional, o segundo
O Inter segue a mesma linha do São Paulo, sempre com bons times, com um pequeno desvio de rota em 2007, quando foi o 11º. Lembrando que o Inter foi o único brasileiro duas vezes campeão da Libertadores nesse período.

Palmeiras e o jejum de títulos
Santos, Grêmio, Palmeiras, Corinthians, Flamengo e Fluminense são os outros grandes que fazem bem o seu papel, nem sempre estão por lá, o que é absolutamente normal em um cenário com muitos outros fortes adversários – a oscilação é inevitável. Se analisarmos que o Palmeiras esteve tantas vezes entre os seis melhores quanto Santos, mais do que Corinthians, Flamengo e Fluminense e MUITO mais do que o Vasco (esses todos já puderam gritar É CAMPEÃO de 2003 para cá), é de se estranhar que o Alviverde esteja tanto tempo sem ganhar nada. Estar entre os seis melhores do Brasil significa ter uma equipe de respeito que faz frente a qualquer outra do país e da América do Sul. Ou falta sorte e competência na hora de decidir ou o extracampo atrapalha muito os jogadores do Palestra. Se tiver que escolher uma, fico com a segunda.

A verdade sobre os Atléticos
O maior Clube Atlético do Brasil é o Paranaense, não o Mineiro. O Furacão vira e mexe esta aí, foi vice em 2004, chegou à final da Libertadores em 2005 e foi quinto colocado no brasileiro do ano passado. Tudo bem que briga diretamente com o Galo para não cair em 2011, mas isso não é nenhum absurdo, e diga-se de passagem já aconteceu com o Alvinegro em 2005. Além do rebaixamento em 2005, o Alético Mineiro não tem sequer uma presença entre os seis melhores do país desde que a era dos pontos corridos começou. É um time que se consolida ano a ano como não-força do futebol brasileiro, apesar da apaixonante torcida.

Arthur Sales é estudante de Jornalismo da Unesp/Bauru, colaborador da webrádio Jornada Esportiva e edita o blog Doente 91