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Memória da Bola: o Carnaval acabou e a bola segue rolando

 

Por João Francisco Tidei de Lima

EM VEZ DA BOLA, PANDEIRO E CUÍCA
Bom de bola, mas ruim de cachola. Era o atacante Edmundo Alves de Souza Neto (foto acima), hoje com 44 anos. No campo, esbanjava talento e vontade de ganhar. Mas, fora dele, quantos problemas!

Na rápida passagem por Florença, um capítulo que não deixou saudades por lá. A Fiorentina, treinada por Giovani Trapattoni, liderava o campeonato italiano de 1998/99, de olho no terceiro título, com Edmundo decidindo, com gols e jogadas de craque. Até, claro, a chegada do nosso Carnaval. Edmundo mandou às favas seus companheiros de trabalho, a torcida de Florença e veio curtir o sol, o sal e o samba na orla carioca.

Enquanto isso, a Fiorentina despencava. Terminaria o campeonato em terceiro lugar. E por isso, não pensou duas vezes: devolveu a mercadoria para o Brasil, descarregada na rua São Januário, estádio do Vasco da Gama.

julinho-botelhoORFEU DO CARNAVAL
Na outra extremidade, em matéria de caráter e temperamento, o paulista Júlio Botelho, Julinho, escreveu história diferente quando passou pela bela Florença.

Começando a carreira no C.A.Juventus, em 1950, Julinho (1929-2003) logo foi contratado para formar no maior time da história da Portuguesa de Desportos, ao lado de Djalma Santos, Brandãozinho, etc. Em 1954, estava defendendo o Brasil na Copa do Mundo da Suíça.

Em 1955, o desembarque em Florença para ajudar a Fiorentina a conquistar seu primeiro título italiano. Saudoso do Brasil, não demorou para voltar, contratado pelo Palmeiras, onde festejou o título paulista de 1959. Até hoje, restaurante de Florença ostenta placa homenageando um de seus fregueses ilustres, o inesquecível Julinho.

joao-francisco-tideiJoão Francisco Tidei de Lima é historiador e professor universitário aposentado — passou pelos campi da Unesp de Assis e Bauru e pela USC. Possui especialização no Institut Européen des Hautes Études Internationales, da Universidade de Nice, na França. Organizou o arquivo do Museu Ferroviário de Bauru. Com experiência como  radialista, é autor do livro ‘Alô, Alô, ouvintes: uma história do rádio em Bauru’.

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Memória da Bola: jogo de futebol entre árbitros e jornalistas

 

Por João Francisco Tidei de Lima

JORNALISTAS CONTRA ÁRBITROS
Os árbitros da Liga Bauruense de Esportes, lá por 1956, também entravam em campo para judiar da bola. De preferência contra os cronistas do Rádio (PRG-8, Auri-Verde) e dos jornais diários (Diário de Bauru, Folha do Povo, Correio da Noroeste), que costumavam não perdoar os erros da arbitragem. Depois do pega, evidentemente, o papo em torno do barril de chope para regar aquele churrasco.

Antes, o registro fotográfico. Na foto acima, em pé, a partir da esquerda, vereador José Marques, dirigente da Liga, Nelson Miranda, Scarabotto, Jayme, Leovani, Belgo, Antoninho, Lourivetti e o árbitro Pedro de Campos; agachados, Valzinho, Hélio, Nair, Tentor e Nadyr Serra.

A quase totalidade do grupo já não está mais por aqui. Mas o Antonio Demerval Belgo (sexto em pé) perto dos 85 anos, continua jogando e ensinando tênis…

Campeão gaúcho Breno Mello no carnaval do Rio
Campeão gaúcho Breno Mello no carnaval do Rio

ORFEU DO CARNAVAL
Breno Higino de Melo (1931-2008), foi meia-direita daquele histórico Grêmio Esportivo Renner, fundado por funcionários de uma empresa e que em 1954 quebraria a hegemonia do Gre-Nal, ao festejar o título de campeão gaúcho.

Anos depois do título estadual, Breno deixaria o Sul, contratado pelo Fluminense do Rio. À altura de 1957/58, teve convite do diretor Marcel Camus para estrelar o filme Orfeu do Carnaval, projetado a partir de adaptação do texto do poeta Vinicius de Moraes, focando favelados do Rio de Janeiro.

Orfeu do Carnaval foi vencedor da Palma de Ouro do festival de Cannes, de 1959, e ganhou o Oscar de melhor filme estrangeiro em 1960 nos Estados Unidos.

joao-francisco-tideiJoão Francisco Tidei de Lima é historiador e professor universitário aposentado — passou pelos campi da Unesp de Assis e Bauru e pela USC. Possui especialização no Institut Européen des Hautes Études Internationales, da Universidade de Nice, na França. Organizou o arquivo do Museu Ferroviário de Bauru. Com experiência como  radialista, é autor do livro ‘Alô, Alô, ouvintes: uma história do rádio em Bauru’.

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Memória da Bola: Noroeste e Cruzeiro nos bons tempos da ferrovia

 

Por João Francisco Tidei de Lima

 

FUTEBOL NOS TRILHOS
O mundo civilizado, como se sabe, em grande parte se comunica pelos trilhos. Os países que têm as principais fábricas de automóveis (Estados Unidos, Alemanha, Japão, Itália, França, Coreia do Sul e China) também oferecem os trens mais rápidos e modernos.

Este subcontinente chamado Brasil, cerca de meio século atrás, em boa parte ainda caminhava pelos trilhos, 37 mil quilômetros de malha ferroviária, bem mais da metade servindo os estados de Minas, São Paulo e Rio de Janeiro.

São Paulo oferecia as composições mais modernas, mas a maior extensão cortava o território de Minas, em direção a Goiás, Bahia, Espírito Santo, Rio de Janeiro e São Paulo.

À altura de 1966, o melhor time da história do Cruzeiro ganhava títulos estaduais e nacionais viajando principalmente pelos trens da Rede Ferroviária Federal S.A. A foto mostra, em uma das estações, a partir da esquerda o meia Dirceu Lopes, o médio Wilson Piazza e o craque-artilheiro Tostão.

cruzeiro-tostao
Estrelas do campeão Cruzeiro no trem da Rede Ferroviária Federal

ESTAÇÃO DE LINS À VISTA
Maior entroncamento ferroviário do interior paulista, 25 trens de passageiros diários, meia dúzia de carga, cerca de mil pessoas circulando diariamente pela sua majestosa estação, eis Bauru, a maior cidade do centro-oeste paulista.

Naquele 1956, o E.C. Noroeste, na Primeirona, disputou a decisão do Torneio Início com o Guarani. Foi vice-campeão. Presidido por Waldemar de Almeida Vale e Silva, buscou reforços, a começar pelo novo técnico, Armando Renganeschi.

Contratou o goleiro Julião, ex-América e Bonsucesso do Rio de Janeiro, e o centroavante Marinho, ex-BAC, Fluminense e Genoa da Itália.

Disputa do Torneio de Classificação para a escolha dos “dez mais”. Embarquei, com mais 1.200 torcedores, no trem fretado junto à E.F. Noroeste, puxado por uma Maria-Fumaça. Cento e cinquenta quilômetros e algumas horas depois desembarcamos na estação de Lins. Rápida caminhada até o estádio. Norusca em campo, Julião e Marinho estreando, com os novos companheiros. Na foto do topo, em pé, a partir da esquerda; Fernando, Tomazzi, Mingão, Pierre, Julião e Vila; agachados, Nivaldo, Marinho, Wilson, Valeriano e Ismar.

Placar final, Linense 4 a 1. Apesar da vitória, assim como o Noroeste, ficou fora do Paulistão daquele ano. Disputaram a chamada Série B, por sinal vencida pelo Norusca.

 

joao-francisco-tideiJoão Francisco Tidei de Lima é historiador e professor universitário aposentado — passou pelos campi da Unesp de Assis e Bauru e pela USC. Possui especialização no Institut Européen des Hautes Études Internationales, da Universidade de Nice, na França. Organizou o arquivo do Museu Ferroviário de Bauru. Com experiência como  radialista, é autor do livro ‘Alô, Alô, ouvintes: uma história do rádio em Bauru’.

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Memória da Bola: Paulistão chegando, Botinha e Norusca

Por João Francisco Tidei de Lima

 

TORNEIO INÍCIO
Paulistão de 2015 à vista. Até algumas décadas atrás, tinha um grito de largada diferente. Era o chamado Torneio Início, um toque de reunir ou uma espécie de reunião fraterna antes da guerra começar.

Os times disputantes geralmente se apresentavam no Pacaembu, a partir das 12 horas, jogos eliminatórios de 20 minutos, em dois tempos, bastava um escanteio para eliminar, sobravam dois finalistas para a decisão do título em partida de 60 minutos, dois tempos de 30.

Caçula da Primeirona, o Botafogo de Ribeirão Preto estreou com brilho e competência. Venceu o Torneio Início de 1957, batendo na final o Guarani de Campinas por 2 a 1. Na foto abaixo, uma das suas formações: em pé, a partir da esquerda, Dicão, Tarciso, Tiri, Guina, Antonio Julião e o goleiro Machado; agachados, Laerte, Silva, Antoninho, Henrique e Géo.

Botafogo de Ribeirão Preto, campeão do Torneio Início de 1957
Botafogo de Ribeirão Preto, campeão do Torneio Início de 1957

 

AMARGO REGRESSO
Ano de 1957, Torneio de Classificação entre os 19 clubes da Primeirona para escolher os “dez mais” que disputariam o Paulistão daquele ano. Última vaga decidida no Pacaembu, entre Botafogo e Noroeste. Mais de mil bauruenses, eu incluído, viajando pelo trem rápido da Companhia Paulista, um primor de conforto e segurança.

Aos 18 segundos de jogo, o ponta noroestino Ismar — na foto do topo, ao lado do irmão, o palmeirense Aldemar — cobrou uma falta e fez Noroeste 1 a 0. Começamos a comemorar a classificação. De repente, e estranhamente, o Norusca travou e o Botafogo deslanchou, fazendo 4 a 1. Entre nós, torcedores, perplexidade, inconformismo, indignação e revolta. Na cabine de rádio, o saudoso  locutor José Fernando do Amaral, da PRG-8 Bauru Rádio Clube, reagiu, abandonando a transmissão; entregou o microfone ao plantonista Sylvio Carlos Simonetti, o Syca (1939-2013), ao seu lado,  para a conclusão da narração e dos trabalhos.

Jogo terminado, em clima de velório a nossa massa torcedora se arrastou  para o embarque, na  Estação da Luz. E só na majestosa estação de Bauru,  horas depois, em plena madrugada, chegou ao  fim aquele amargo regresso…

 

joao-francisco-tideiJoão Francisco Tidei de Lima é historiador e professor universitário aposentado — passou pelos campi da Unesp de Assis e Bauru e pela USC. Possui especialização no Institut Européen des Hautes Études Internationales, da Universidade de Nice, na França. Organizou o arquivo do Museu Ferroviário de Bauru. Com experiência como  radialista, é autor do livro ‘Alô, Alô, ouvintes: uma história do rádio em Bauru’.

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Memória da Bola: o primeiro e grande Dudu, do Palmeiras

Por João Francisco Tidei de Lima

 

O OUTRO DUDU
O Palmeiras, como se viu, peitou São Paulo e Corinthians e ganhou a parada para trazer um tal de Dudu, com passagens pela Ucrânia, Grêmio de Porto Alegre, etc. Se esse cara jogar pelo menos a metade do que jogava o outro Dudu, cerca de  50 anos atrás, o Verdão terá fechado um grande negócio.

Olegário Toloi de Oliveira, apelido de Dudu, saiu de Araraquara para  desembarcar no Parque Antarctica, aos 25 anos, em 1964. Escalado como volante, formou dupla com o meia Ademir da Guia durante dez anos. Como aparece na foto acima, em pé, a partir da esquerda, Eurico, Leão, Luís Pereira, Alfredo, Dudu e Zeca; agachados, Edu, Leivinha, César, Ademir da Guia e Ney. Formação de 1973.

Colecionou títulos regionais e nacionais, além de representar, com o seu Palmeiras, a Seleção Brasileira na inauguração do Mineirão em 1965, vitória de 3 a 0 contra o velho rival, o Uruguai.

INÍCIO NA FERROVIÁRIA
Aquele Dudu, do imortal Palmeiras começou a carreira na inigualada Ferroviária, de Araraquara. Cidade-sede da saudosa Estrada de Ferro Araraquarense. Seguindo o exemplo dos colegas de Bauru, Campinas, Sorocaba, Botucatu e Assis, os ferroviários de Araraquara, à altura de 1950, resolveram fundar um clube de futebol, a Associação Ferroviária de Esportes. Hoje, nas divisões de baixo, como o E.C. Noroeste, a Ferroviária chegou à Primeirona em 1955, logo impôs respeito revelando jogadores e desafiando os grandes na classificação geral.

Conquistou um honroso terceiro lugar no Paulistão de 1959, vencido pelo Palmeiras. Quando também enfrentou o Corinthians, diante do maior público da história do extinto Parque São Jorge. Os 32.419 pagantes  presenciaram  a vitória – 2 a 0 – do Alvinegro, com lances como o da foto abaixo: defesa do goleiro Rosan, assediado pelo corintiano  Joaquinzinho e protegido pelo médio Dudu. Apitou o jogo Stephan Walter Glanz, da Federação Paulista de Futebol.

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joao-francisco-tideiJoão Francisco Tidei de Lima é historiador e professor universitário aposentado — passou pelos campi da Unesp de Assis e Bauru e pela USC. Possui especialização no Institut Européen des Hautes Études Internationales, da Universidade de Nice, na França. Organizou o arquivo do Museu Ferroviário de Bauru. Com experiência como  radialista, é autor do livro ‘Alô, Alô, ouvintes: uma história do rádio em Bauru’.