Por João Francisco Tidei de Lima
FUTEBOL NOS TRILHOS
O mundo civilizado, como se sabe, em grande parte se comunica pelos trilhos. Os países que têm as principais fábricas de automóveis (Estados Unidos, Alemanha, Japão, Itália, França, Coreia do Sul e China) também oferecem os trens mais rápidos e modernos.
Este subcontinente chamado Brasil, cerca de meio século atrás, em boa parte ainda caminhava pelos trilhos, 37 mil quilômetros de malha ferroviária, bem mais da metade servindo os estados de Minas, São Paulo e Rio de Janeiro.
São Paulo oferecia as composições mais modernas, mas a maior extensão cortava o território de Minas, em direção a Goiás, Bahia, Espírito Santo, Rio de Janeiro e São Paulo.
À altura de 1966, o melhor time da história do Cruzeiro ganhava títulos estaduais e nacionais viajando principalmente pelos trens da Rede Ferroviária Federal S.A. A foto mostra, em uma das estações, a partir da esquerda o meia Dirceu Lopes, o médio Wilson Piazza e o craque-artilheiro Tostão.
ESTAÇÃO DE LINS À VISTA
Maior entroncamento ferroviário do interior paulista, 25 trens de passageiros diários, meia dúzia de carga, cerca de mil pessoas circulando diariamente pela sua majestosa estação, eis Bauru, a maior cidade do centro-oeste paulista.
Naquele 1956, o E.C. Noroeste, na Primeirona, disputou a decisão do Torneio Início com o Guarani. Foi vice-campeão. Presidido por Waldemar de Almeida Vale e Silva, buscou reforços, a começar pelo novo técnico, Armando Renganeschi.
Contratou o goleiro Julião, ex-América e Bonsucesso do Rio de Janeiro, e o centroavante Marinho, ex-BAC, Fluminense e Genoa da Itália.
Disputa do Torneio de Classificação para a escolha dos “dez mais”. Embarquei, com mais 1.200 torcedores, no trem fretado junto à E.F. Noroeste, puxado por uma Maria-Fumaça. Cento e cinquenta quilômetros e algumas horas depois desembarcamos na estação de Lins. Rápida caminhada até o estádio. Norusca em campo, Julião e Marinho estreando, com os novos companheiros. Na foto do topo, em pé, a partir da esquerda; Fernando, Tomazzi, Mingão, Pierre, Julião e Vila; agachados, Nivaldo, Marinho, Wilson, Valeriano e Ismar.
Placar final, Linense 4 a 1. Apesar da vitória, assim como o Noroeste, ficou fora do Paulistão daquele ano. Disputaram a chamada Série B, por sinal vencida pelo Norusca.
João Francisco Tidei de Lima é historiador e professor universitário aposentado — passou pelos campi da Unesp de Assis e Bauru e pela USC. Possui especialização no Institut Européen des Hautes Études Internationales, da Universidade de Nice, na França. Organizou o arquivo do Museu Ferroviário de Bauru. Com experiência como radialista, é autor do livro ‘Alô, Alô, ouvintes: uma história do rádio em Bauru’.