Começo neste post a série Inferno alvirrubro, que vai refletir sobre os motivos que levaram ao pior momento da história do Esporte Clube Noroeste. Vai também apontar equívocos, tentar desfazer lendas, discordar de posicionamentos repetitivos — tanto da parte diretiva, quanto de colegas de imprensa e também de torcedores. Tudo, claro, sob o meu ponto de vista, totalmente aberto a discordâncias e bom debate. O assunto vai longe, uma coisa de cada vez, e ataquemos hoje os motivos diretos da queda. No próximo post, os indiretos.
PISO SALARIAL, O TIRO PELA CULATRA
Por melhor que tenha sido a intenção de segurar os gastos, o teto salarial na casa dos R$ 1,5 mil por jogador só poderia resultar num elenco fraco. Se, de cara, a diretoria tivesse apostado em três jogadores com valor um pouquinho maior, não cairia. Com Yuri no gol, Marcos Aurélio na zaga e Márcio Luiz no meio, não cairia! Desses, o goleiro e o zagueiro queriam permanecer no clube e, certamente, dariam mais consistência à defesa, que foi o ponto mais fraco (vulnerável, permeável, lamentável) da equipe. E a matemática é simples: entraram em campo 38 jogadores. Trinta e oito! — sendo somente três, do São Paulo, a custo zero. Não fossem tantas tentativas inchando o orçamento, dava para pagar tranquilamente esses três atletas. O presidente chegou a falar numa folha salarial de R$ 33 mil mensais, mas não pode ter sido isso para 35. Seria menos de R$ 1 mil por atleta… Como alguns deles, garotos, poderiam receber do aporte da Tel Telecom (R$ 40 mil), dinheiro que também serviria para os custos administrativos, dava para sobrar algo para três veteranos de fato, principalmente se deixassem de contratar, no mínimo, meia dúzia de escolhas equivocadas. Além do dinheiro da Tel, especula-se que eram pelo menos outros R$ 40 mil mensais arrecadados entre Grupo Cidade, Tudor, Mezzani, Mariflex e Poty. Houve ainda um cantor sertanejo em algumas partidas.
ELENCO FRACO E REMENDOS
Pensando em gastar pouco e apostar num elenco modesto — até mesmo para render futuras negociações, caso jogassem bem –, a diretoria não apostou, de início, em jogadores mais experientes. Pagou logo por esse erro com os primeiros resultados ruins, tendo que sair ao mercado contratando atletas mais maduros, porém, de qualidade duvidosa, como o zagueiro Zé Ilton e o meia Jeffinho. E não vale o argumento de aposta na base: dos 38 jogadores que entraram em campo, apenas oito eram da base. Cada treinador que passou pelo Norusca trouxe seus “homens de confiança”. Logo foram embora e seus pupilos ficaram, inchando o elenco.
TROCAS DE TREINADORES
O clube começou com Sato, o gerente de futebol acumulando função de técnico, por contenção de despesas. Sua situação foi ficando insustentável, mas o pior foi ele não ser ouvido sobre seu substituto. Veio Ney Silva, bancado pelo presidente, e nada acrescentou além de desestabilizar o elenco. Jorge Saran, simplório e retranqueiro, tampouco ajudou. Por fim, Vitor Hugo foi quem conseguiu mais pontos (dez dos 13 conquistados, o único a vencer) e poderia ter assumido antes, já que, desde o início da Série A-3, assistia aos jogos do time em Bauru. Se teria sido diferente? Difícil saber. Com seu aproveitamento de 41%, o time teria feito 22 pontos em 19 rodadas…Mas ele mesmo não mostrou domínio total do grupo, pois já declarou publicamente que faltou vontade.
BASTIDORES TURBULENTOS
O desacordo na escolha de treinador foi o primeiro episódio do estremecimento da relação do presidente Emilio Brumati com o gestor Toninho Gimenez — a pessoa que montou o projeto de reerguer o Noroeste, após articular a saída de Anis Buzalaf, e que confiou a Brumati a missão de presidir sob seus conselhos. O jovem não o ouviu tanto assim. E, como se sabe, ainda foi protagonista de episódio de destempero, agredindo Leandro Ávila, treinador da base e homem de confiança de Gimenez. Impossível isso não se refletir nos vestiários. Comenta-se que, a partir desse racha, é que os bichos pelas (poucas) vitórias não vieram.
BASTIDORES TURBULENTOS 2
A suposta venda de Luiz Azevedo para Grêmio ou Vitória da Bahia acirrou ainda mais os ânimos. Fala-se nos bastidores de gente ligada ao clube correndo para comprar o jogador para lucrar na revenda. Mas, para isso, atravessando outro que já estava com a compra engatilhada… Enquanto isso, o time minguava em campo.
Esclarecimento
Vale ressaltar um dos motivos de não virem bons jogadores do São Paulo logo de cara. É preciso pagar uma tal taxa FAAP, de 1% do valor do contrato do atleta. Pegue um jovem são-paulino ganhando R$ 40 mil (vezes cinco meses de contrato, igual a R$ 200 mil), e são R$ 2.000 de taxa, no ato. Para quem não tem conseguido honrar todos os acordos trabalhistas (Bonfim, por exemplo, fez acordo verbal, não recebeu e aguarda audiência na justiça), é uma grana puxada. O clube tem conseguido pagar alguns acordos e, faça-se justiça, cumprido a prioridade de manter os salários dos funcionários em dia.
Enfim, o elenco fraco é a ponta do iceberg que afundou o Noroeste.