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Legítimo camisa 8

Marco Antônio Boiadeiro era meia-direita, posição que não existe mais em sua essência

Toda vez que visito um craque do passado na memória, volto na lembrança mais antiga que tenho dele. No caso de Marco Antônio Boiadeiro, é com a camisa 8 do Vasco da Gama campeão brasileiro de 1989 (o time da foto abaixo) — armava o jogo ao lado de Bismarck e William e, lá na frente, Bebeto conferia.

Essa data exclui, portanto, a melhor fase de sua carreira, no Guarani, quando jogou ao lado de Evair, João Paulo e Ricardo Rocha — na inesquecível final do Brasileirão de 1986, por exemplo (eu tinha só sete anos…). Depois, li e vi muito a respeito. Ele é uma das jóias do Brinco de Ouro.

Lembro-me de ser um jogador baixinho, de meias arriadas e de muito fôlego. Camisa 8 legítimo. Pelo menos no meu entender de como jogava esse número naquela época. Explico: é o meio termo entre o cabeça de área limitado e o armador habilidoso. O meia-direita, enfim. Hoje, todo mundo na faixa central do campo é “apoiador”.

Chutava bem, mas não era de fazer muitos gols. O mais lindo deles, que me recordo, é pela partida de ida da final da Supercopa da Libertadores de 1992, contra o Racing-ARG, no Mineirão. “Boi, boi, boi, boi, Boiadeiro, faz mais um gol pra torcida do Cruzeiro!”, gritava a galera. Pelo time azul, seus colegas de meio eram Ademir ou Douglas, Betinho e Luiz Fernando Flores. Municiou ataques distintos. Na primeira Supercopa azul, em 1991, eram Mário Tilico e Charles Baiano. No ano seguinte, os Gaúchos: Renato (ele mesmo, o atual treinador do Grêmio) e Roberto. Ainda teve a honra de, em 1993, atuar com Éder Aleixo na conquista da Copa do Brasil. No mesmo ano, ficou marcado por perder pênalti contra a Argentina, na Copa América em que Parreira convocou predominantemente jogadores que atuavam no Brasil.

Depois, disputou o Carioca de 1994 pelo Flamengo. Lá vestiu a 7 (a 8 era de Marquinhos). Dividia o meio ainda com Fabinho e Nélio. Sávio surgia como titular ao lado de Charles Baiano. Carlos Alberto Dias e Valdeir The Flash eram banco. Muitas feras juntas que viram o Vasco chegar ao tri estadual.

Veio o Timão na vida de Boiadeiro, o último grande ato. Títulos paulista e da Copa do Brasil, mas sem a titularidade garantida. Aí, começou a costumeira peregrinação até encerrar a carreira, em 1998, e ser, de fato, um criador de gado. Era um jogador simples, daqueles que treinam muito e cumprem seu papel. Segundo o Futpedia, fez sete gols em 143 partidas no Brasileirão.

Vasco Boiadeiro Cruzeiro Flamengo Seleção Guarani
O Vasco de 1989. Em pé: Mazinho, Luiz Carlos Winck, Zé do Carmo, Quiñonez, Marco Aurélio e Acácio. Agachados: William, Sorato, Boiadeiro, Bebeto e Bismarck

Por Fernando Beagá

Mineiro de Ituiutaba, bauruense de coração. Jornalista e mestre em Comunicação pela Unesp, atuou por 16 anos na Editora Alto Astral, onde foi editor-chefe e responsável pela implantação e edição das revistas esportivas. É produtor de conteúdo freelancer pelo coletivo Estúdio Teca. Resenhou 49 partidas da Copa do Mundo de 2018 para Placar/Veja. Criou o CANHOTA 10 em 2010, a princípio para cobrir o esporte local (ganhador do prêmio Top Blog 2013), e agora lança olhar sobre o futebol nacional e internacional.

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