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Vitinho Jacob: “amistoso de Bauru com time da NBA pode pintar a qualquer momento”

Em entrevista, Vitinho Jacob faz balanço da temporada e fala dos próximos passos, incluindo possível jogo contra time da NBA

Que vire uma tradição: entre uma temporada e outra, entrevistar o diretor técnico do Paschoalotto Bauru, Vitinho Jacob, para fazer um balanço e contar os próximos passos. Foi assim ano passado e cá estamos de novo com um bom papo, sobretudo para saber de bastidores e detalhes de como se deu essa temporada mágica do time, que nasceu de uma iniciativa dele em abordar a Fiba Americas a respeito da Liga Sul-Americana. Também diretor técnico da Liga Nacional (LNB), Vitinho explica a ligação com a NBA, o que vem pela frente e revela algo importante para a torcida do Dragão: amistoso com time da NBA não deve demorar! Chega de prosa minha, vamos às aspas desse dedicado gestor.

TEMPORADA ACIMA DAS EXPECTATIVAS
Tínhamos uma grande dúvida de como seria essa temporada, com a chegada de novos jogadores e integrando a equipe somente no final de setembro. O time foi reorganizado com o Paulista em andamento, quando Larry, Alex e Rafael voltaram da Seleção. E deu liga muito rápido! Começamos a jogar de uma forma agressiva ofensivamente e acabou dando os resultados.

LIGA SUL-AMERICANA, O PRIMEIRO PASSO DA GLÓRIA
Em junho de 2014, eu fui aos Estados Unidos como diretor administrativo da Seleção sub-18 na Copa América. E lá estava todo o estafe da Fiba Americas. Eu pedi para conversar com eles e expus que estávamos com um time reforçado, preparados para disputar a Liga Sul-Americana. Havendo qualquer desistência, que poderiam considerar Bauru, inclusive para ser sede. Eles gostaram da ideia, pois é bom ter times competitivos e disseram ‘Vamos lutar por isso’. Saí desse papo com a certeza, mas soltaram a tabela com 16 times confirmados… Não deu certo, vai ficar pra próxima, pensei. Só que na última hora, deu problema com um time da Venezuela. Eu estava na estrada, indo para São Paulo e o Paulinho [Bassul, gerente técnico da LNB] me ligou. Eu disse ‘Aceito’. E ele estranhou, perguntou se eu não queria conversar antes com a diretoria… Eu disse ‘Já está conversado, é nossa!’. E tivemos essa oportunidade, fomos campeões e nos classificamos para a Liga das Américas.

Abordagem quando esteve nos Estados Unidos foi fundamental para convite para LSB chegar, mesmo em cima da hora. Foto: arquivo pessoal
Abordagem quando esteve nos Estados Unidos foi fundamental para convite para LSB chegar, mesmo em cima da hora. Foto: arquivo pessoal

A QUEDA NO NBB
Foram 84 jogos na temporada. Claro que existe um desgaste acumulado. Mas, principalmente, eu senti um desgaste emocional. Você via que os caras estavam querendo, mas não ia… Conversando com todos os técnicos de outras equipes, eles nos cumprimentaram ao mesmo tempo em que não entendiam como nosso time caiu tanto nos playoffs e nas finais, mas justificando que é impossível se manter em alto nível por tanto tempo. Nós começamos em alto nível em outubro e mantivemos até março. Ganhamos tudo. Tanto que o time nem sentiu tanto a ausência do Jefferson num primeiro momento. Mas aí veio o cansaço físico, mental…

AVALIAÇÃO
A temporada pode ser dividida em antes dos playoffs das quartas e depois. Antes, beira a perfeição. Ganhamos tudo. Aí, nos playoffs, o primeiro jogo contra Franca foi normal, típico. A partir daí, não conseguimos mais desenvolver o mesmo basquete. Ainda conseguimos passar por Franca e Mogi, pelo talento individual e pela sobra do trabalho que foi feito, um último fôlego. Na final, chegamos ainda mais fora do nosso jogo e encontramos um time ladeira acima, querendo salvar a temporada após mal início do NBB e de perder a Liga das Américas em casa. Contra o Flamengo, não teve jeito mesmo.

PRÓXIMA TEMPORADA
Nosso foco principal é o NBB e a Liga das Américas do ano que vem. O planejamento será pré-temporada começando na segunda semana de julho, o Mundial é o primeiro foco a curto prazo, temos que estar no nosso máximo possível. Nós ainda não sabemos quem vai para a Copa América, que acaba dia 15 de setembro e muito provavelmente o Mundial será em 25 de setembro, isto é, será um tempo de preparação muito curto para esses jogadores da Seleção. Dessa forma, vamos fazer a pré-temporada pensando na temporada completa e usar alguns jogos do Paulista como preparação para o Mundial. Claro que vamos entrar para ganhar, mas a base do time será o sub-19, o sub-22 e os adultos que precisam de quilometragem. Esses meninos é quem vão puxar o Paulista. Se a gente passar para os playoffs do estadual, aí entra completo depois.

NBB
Virou obsessão minha! Já temos bronze e prata, vamos deixar na sala de troféus o espaço reservado para o ouro… No nível que o basquete brasileiro chegou em relação há sete anos, seria uma coroação vencer o NBB. Já temos LDB, Paulista, Sul-Americana, Liga das Américas… Só falta o NBB!

Com Murilo: camisa 21 fica, Hett também. Foto: Leandro Mello/Divulgação
Com Murilo: camisa 21 fica, Hett também. Foto: Leandro Mello/Divulgação

FORMAÇÃO DO ELENCO
Essa ansiedade de torcedores faz parte, mas nosso time está pronto. Nós fizemos contratos longos exatamente para ter a mesma equipe por mais de uma temporada. Vai ser difícil achar um jogador tão encaixado quanto o Larry, mas faz parte do nosso trabalho correr atrás. E talvez mais um para dar uma engrossada no caldo, pois os meninos da base são muito novos. Quanto a pivôs, a gente nem conversa. Falou-se muita coisa. Não temos interesse no Keenan, Rafael não sai, Murilo não sai, não liberaremos. Jefferson volta, aguardamos uma resposta do Mathias e o Wesley já é praticamente adulto. Se o Mathias não ficar, não vamos repor. Sobe outro menino.

NOVOS PATROCÍNIOS
Estamos conversando com várias empresas e num primeiro momento conseguimos uma receptividade enorme, pelo volume de divulgação e ativação de marca que chegou nosso projeto. Nós entregamos um produto muito bom. Mas há a crise, é um valor de investimento alto… Mesmo assim, talvez tenhamos novidade de um copatrocinador máster até o início do NBB.

TV GLOBO E A FINAL…
Não passar a decisão para todo o Brasil foi uma decisão unilateral da Globo, quebrando um pacto feito com a Liga – a partida de abertura e o Jogo das Estrelas foram trocados pela melhor de três. A Liga fez uma reclamação formal, agressiva, um posicionamento forte e está esperando um posicionamento, exigindo uma compensação. Com o Sportv tudo ok, transmitiram 66 partidas e ficaram satisfeitos com o produto.

JOGOS NA WEB
A avaliação é muito positiva, sucesso total. O jogo 5 de Bauru e Franca foi o grande marco, com trinta mil acessos, ali vimos que é o caminho. O de num futuro próximo, ter um league pass como uma fonte de receita para os clubes. Esperamos que em 2018 já tenhamos um contrato de TV envolvendo receita e a web também gerando receita, com patrocinadores. Isso garantirá a parte estrutural, com os clubes apenas arcando com a folha de pagamento dos jogadores.

OUTRA TV ABERTA?
Não houve proposta, apenas namoros com a Liga, não sei se essas emissoras chegaram a negociar com a Globo. Houve conversas de bastidores de algumas TVs abertas e até fechadas. A RedeTV! talvez transmita o Paulista… A Fox teve uma conversa muito forte dois anos atrás. Mas estou bem confiante que, quando acabar o contrato com a Globo, vamos conseguir coisas muito boas.

Diretor está otimista com a parceria. Foto: arquivo pessoal
Diretor está otimista com a parceria. Foto: arquivo pessoal

PARCERIA NBA
O contrato da Liga com a NBA, a princípio, é de três anos. Depois desse tempo, a NBA e a Liga avaliam e fundam uma empresa nova, que vai ter quadro societário meio a meio. Nesses três anos, a NBA está investindo na Liga para o campeonato acontecer. A parte comercial foi transferida da Globo para a NBA, que contratou um diretor comercial que está buscando patrocínios para o NBB. Hora que as receitas entrarem, paga-se o que foi investido pela NBA e o que sobrar é revestido para os clubes. Portanto, nada mais é do que um empréstimo que a NBA está fazendo agora. Acredito que nos próximos dois anos não haverá repasse. Mas além da parte financeira, existe a troca de know-how. O Jogo das Estrelas já foi mais glamoroso, midiático, profissional. As finais foram muito legais, a festa de encerramento… Todos os eventos, salvas as proporções de estrutura, já estão ficando com a cara de NBA, com pitacos deles. E tivemos um workshop de treinadores e assistentes de todos os times com técnicos da NBA. Em outra sala, preparadores físicos também aprendendo com o pessoal de lá. Em outra, os fisioterapeutas. É um intercâmbio bacana. Estamos caminhando passo a passo.

AMISTOSOS DE BAURU COM TIME DA NBA
O conselho da NBA leva em consideração o critério técnico para convidar equipes para amistosos. Nós fomos aprovados. Só que esses jogos do Flamengo com Orlando foram definidos em 2014. Para a NBA é muito claro, cristalino, que nós vamos fazer esses amistosos. Mas eles não têm a nossa ansiedade. Eu estou desesperado! [risos] Logo estaremos fazendo amistoso lá. Pensando pra frente, nós seremos a bola da vez. Ainda não nos descartaram para este ano, mas a escala de amistosos já está praticamente fechada. Estão buscando uma janela ou outra, mas pode pintar a qualquer momento, nessa temporada ou na próxima.

MUNDIAL: ONDE?
A princípio, no Ibirapuera. É um esforço da Liga com o Governo de São Paulo para liberar o ginásio, pois os dias 25 e 27 são os únicos que o Real Madrid tem disponíveis. Mas Marília deixou uma excelente impressão e gostaríamos muito. É uma decisão da Fiba. Para o Ibirapuera é importante resgatá-lo como palco de basquete. Não tenho receio em relação a público lá, a não ser que o ingresso seja muito caro.

Arena municipal ainda é só um sonho... Imagem: Divulgação
Arena municipal ainda é só um sonho… Imagem: Divulgação

ARENA BAURU
O argumento sempre foi que o dia que houvesse projeto, o dinheiro não seria problema. O projeto está aí, pronto, entregue. As portas do Ministério do Esporte estão escancaradas. O Roger [Barude, secretário de esportes de Bauru] disse que já foi feito um protocolo. Então, não depende mais da gente. Agora é Prefeitura com União, Estado… Enquanto isso, com o nível da nossa equipe, vamos perdendo finais na cidade e isso não tem volta. A equipe de vôlei disputando Superliga, o futsal poderia estar em outro patamar… E a NBA não acredita que fazemos basquete nesse nível com a estrutura péssima que temos no Brasil.

 

Foto topo: Caio Casagrande/Bauru Basket

Por Fernando Beagá

Mineiro de Ituiutaba, bauruense de coração. Jornalista e mestre em Comunicação pela Unesp, atuou por 16 anos na Editora Alto Astral, onde foi editor-chefe e responsável pela implantação e edição das revistas esportivas. É produtor de conteúdo freelancer pelo coletivo Estúdio Teca. Resenhou 49 partidas da Copa do Mundo de 2018 para Placar/Veja. Criou o CANHOTA 10 em 2010, a princípio para cobrir o esporte local (ganhador do prêmio Top Blog 2013), e agora lança olhar sobre o futebol nacional e internacional.

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