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Larry Taylor, o Michael Jordan de Bauru

Comparação foi feita pela mãe de Larry, quando ela viu de perto a idolatria pelo filho em Bauru. Confira o papo com o Alienígena

Depois de atender a uma equipe de TV e a uma vizinha, estudante de Jornalismo, chegou a minha vez de falar com o requisitado Larry Taylor, ainda mergulhado na comoção que sua decisão causara em Bauru. A decoração já desmontada, era véspera da mudança para Mogi. Muitas caixas cheias, nelas dezenas de bonés e pares de tênis, pelos quais assume compulsão. Apenas a cômoda da TV intacta, no jeito para assistir ao jogo 4 da final da NBA entre Golden State Warriors e Cleveland Cavaliers. Dava tempo de conversar comigo antes de a bola subir. Atencioso como sempre e mais falante do que na outra entrevista mais longa que fizera com ele ali, anos atrás, o Alienígena abriu o coração e não deixou nenhuma dúvida sobre sua saída. Mas com o caminho de volta sem obstáculos… Boa sorte, mano, você merece.

 

Vamos começar pelo final, para esclarecer. Foi mesmo uma decisão sua sair de Bauru? O que o motivou?
“Foi um pedido meu. Eu estava pensando no que queria para mim nesse momento: um desafio novo. Conversei com o Guerrinha que eu não gostei da forma como joguei, pois fui muito irregular na temporada, fazia uma partida boa e outras ruins. Contribuí com o time de outras maneiras, mas eu me cobro muito, sou muito crítico com minha performance. Precisava de um novo desafio, voltar a ter frio na barriga num lugar diferente. Por isso decidi sair de Bauru.”

Amizade com Shamell rendeu até pauta no Programa do Jô. Foto: João Gabriel Rodrigues/GloboEsporte.com
Amizade com Shamell rendeu até pauta no Programa do Jô. Foto: João Gabriel Rodrigues/GloboEsporte.com

E a amizade do Shamell pesou também?
“Com certeza. Faz uns quatro, cinco anos que tentamos jogar juntos. Bauru tentou trazer ele pra cá, o Pinheiros conversava para eu ir pra lá… Isso ajudou, claro, mas para eu sair de Bauru tinha que ser uma situação muito boa. E Mogi está forte, o projeto está indo bem, acho que vou ter a oportunidade de ter um desafio, tentar conquistar tudo de novo, pois estava há sete anos em Bauru e numa situação confortável.”

Também teve uma vantagem financeira…
“Sim.”

O Guerrinha tentou convencê-lo, tentaram estender seu contrato. Mas você já tinha se decidido?
“Sim, teve uma negociação. Mas eu já estava decidido, queria ter uma experiência diferente. Cheguei ao Brasil e só joguei em Bauru. Foi difícil, mas na hora de decidir, eu disse ‘Larry, decida, vai ou não vai?’ Depois, não adiantava. Guerrinha e Vitinho conversaram bastante comigo, mas eu disse que era o que queria para esse momento. Eu sempre dedici o que era melhor para o time. Dessa vez, foi um pouco egoísta da minha parte, mas meu coração estava falando ‘Faça alguma coisa por você, você precisa disso.’ Não poderia negar o que o meu coração estava mandando eu fazer.”

A homenagem da torcida Loucos da Central: só Larry tem. Foto: Reproducão/Loucos da  Central
A homenagem da torcida Loucos da Central: só Larry tem. Foto: Reproducão/Loucos da Central

Apesar de você não ter ficado satisfeito com seu desempenho e de não ser mais o protagonista, mesmo assim, quando entrava, bastava uma jogada para a torcida gritar seu nome. Você tem consciência que em nenhum momento você decepcionou os torcedores?
“Eu sei que a torcida tem muito carinho por mim. Estivemos juntos por sete anos e passamos por altos e baixos juntos. Sou um cara que estou desde o começo, com Guilherme [Deodato] e Guerrinha. Lutamos ano após ano para fazer o time melhorar e acho que isso fez a torcida ser quase minha família.”

Você consegue imaginar como vai ser o primeiro jogo na Panela com outra camisa?
“Eu tentei imaginar, mas não sei o que vai acontecer. Eu acho que vou acabar chorando quando entrar no ginásio. São tantas coisas que aconteceram ali, tantas lembranças. Quando fui me apresentar em Mogi e vesti a camisa, falei para os diretores: ‘Estou me sentindo estranho, depois de sete anos vestindo a mesma camisa!’ Sei que com o tempo vou me acostumar. Mas, com certeza, quando tiver que jogar aqui, quando vir todo mundo, vai ser muito emocionante, vai ser difícil…”

Além da torcida e das pessoas do time, você fez muitos amigos na cidade. Vai ser até comum te ver por aqui nas folgas…
“Acho que quando tiver folgas, quero voltar aqui, pois tenho muitos amigos, não apenas os jogadores. Vou ter saudade dessas pessoas e vou querer vê-las. Tenho amigos com quem assistia futebol americano…”

E tem os lugares em que gostava de comer, onde almoçava…
“Almoçava pouco fora. Gosto de comer mais em casa.”

Você quem faz?
“Sim. Eu gosto de cozinhar. Faço um dia antes para jantar, mas bastante pra sobrar. Aí no outro dia é só colocar no micro-ondas.”

Já vi você postar pratos mexicanos. É sua especialidade?
“Não sei se é especialidade… Mas eu gosto muito, sou muito fã. Já gostava antes de jogar no México. Como muitas vezes por semana.”

Você já falou que quer jogar até os quarenta. Assinou só por um ano com Mogi, mas deve ter sucesso e ficar mais. Mas vê possibilidade de voltar pra cá?
“Acredito que sim. Eu tinha mais um ano de contrato, mas não ficou nada ruim no relacionamento. Disseram que gostam de mim e têm muito respeito pelo que eu fiz pelo time. Por isso me liberaram, pois sentiram que era o que eu queria. Mas deixaram claro que as portas estão abertas.”

Mas e depois dos quarenta? Você volta pra Chicago ou fica no Brasil?
“Não tenho certeza, mas meu sonho é ficar em dois lugares. Ter uma casa lá e uma aqui no Brasil. Se der para fazer algo na música, ser produtor e atuar lá e aqui.”

Resta saber se essa casa vai ser em Mogi ou em Bauru…
“Eu sempre falei que Bauru foi perfeita pra mim, porque é uma cidade tranquila e eu sou uma pessoa tranquila. Aqui é um lugar em que posso me ver morando depois do basquete.”

Com o filho Joshua, ganhando presente de Dia dos Pais: basqueteiro super-herói. Foto: arquivo pessoal
Com o filho Joshua, ganhando presente de Dia dos Pais: basqueteiro super-herói. Foto: arquivo pessoal

E seu filho mora em Chicago?
“Sim.”

Então fica fácil, você já vê toda a família. E agora está tudo tranquilo, passou aquela fase difícil, quando você não podia vê-lo.
“É. A gente conversa todos os dias no FaceTime, joga videogame online. A relação está muito boa agora, está tudo tranquilo com a mãe dele. Ela é casada, tem mais três filhos e toda a família se dá superbem comigo. Foi melhor do que eu imaginava, a relação ser boa tão rápido depois de termos perdido tanto tempo.”

E ele convive com a avó, os tios?
“Sim, ele vai visitar a família que não conhecia e fica feliz, pois todo mundo o ama.”

Naquele seu segundo amistoso contra os Estados Unidos, lembro-me de ele ficar acenando atrás de você, quando dava entrevista para o Sportv…
“Foi a primeira vez que meu filho me viu jogando pessoalmente! Foi muito especial.”

No outro jogo, o Obama assistiu. Você chegou a falar com ele?
“Não, só o vi lá, sentado.”

E como foi enfrentar o LeBron?
“LeBron, Kobe, Chris Paul… Um time pesado, era um jogo de sonhos. Parecia que eu estava jogando videogame! Meus irmãos e toda a minha família ficaram loucos assistindo. ‘Nossa, você está lado a lado com os caras!’ Parecia um sonho.”

Sua mãe já viu de perto a idolatria por você, quando veio a Bauru. Mas seus irmãos têm noção do quanto você é amado aqui?
“Acho que eles têm uma ideia, mas nunca viram pessoalmente. Minha mãe tinha ideia, pelo que eu postava na internet, mas quando chegou aqui ficou assustada com o quanto as pessoas gostam de mim. Íamos no shopping e todos queriam tirar foto. Aí, quando ela voltou, disse ao meu irmão: ‘Você não vai acreditar! Larry é tipo o Michael Jordan em Bauru!’ Espero que um dia eles tenham oportunidade de me ver aqui.”

Qual foi o momento mais emocionante de sua passagem por Bauru e o mais triste?
“Um momento muito triste foi essa final do NBB. Queríamos muito ser campeões. Ganhamos muitos títulos, mas queríamos terminar com um ano perfeito. Só que não conseguimos. Difícil explicar, mas o Flamengo jogou melhor. Queríamos jogar pela cidade, pela torcida, pelos técnicos, pelos patrocinadores. Fiquei quieto depois do jogo, não queria saber de conversar… Eu queria muito ser campeão do NBB. O momento feliz foi o título paulista de 2013. Foi meu primeiro título, depois de muitos anos tentando, batendo na porta. Foi um sentimento de mostrar a si mesmo seu valor, que vale a pena trabalhar e nunca desistir. Depois vieram os outros títulos, mas o primeiro é o mais doce.”

Sobre as finais do NBB, a qualidade do time foi caindo desde Franca. Vocês conversavam isso nos treinos, porque as jogadas não encaixavam, os arremessos não caíam como antes? Porque estava claro que não era falta de vontade, mas as coisas não aconteciam…
“Realmente, não foi falta de querer, mas não estávamos conseguindo. O basquete é assim, tem altos e baixos, ninguém vai fazer um campeonato perfeito. Vai ter uma fase ruim, só que a nossa veio num momento errado e os outros times estavam crescendo. O Flamengo começou mal e cresceu no final. Essa foi a diferença.”

No jogo heroico contra o Quimsa
No jogo heroico contra o Quimsa

Apesar dos títulos que você mencionou, minha passagem sua preferida ainda é a Liga das Américas de 2012. Depois daquele susto da contusão na sexta, você arrebentou no domingo e Bauru se classificou para a segunda fase. Você teve que tomar medicação naquele dia? Foi no sacrifício mesmo?
“Eu tive menos dores no domingo do que na sexta-feira. Compramos uma joelheira que dá muito suporte ao joelho e consegui correr. Treinei e pensei ‘Acho que vai dar’. Não sabia qual seria a próxima vez que jogaríamos uma Liga das Américas em casa, queríamos fazer um campeonato bonito para a cidade. Então, falei: ‘Vou jogar com o meu coração e vamos ver o que vai acontecer. Vou arriscar, quero estar na quadra!’ Consegui fazer um bom jogo e nos classificamos.”

E foi bem num momento de indecisão, saída da Itabom, a volta da Panela depois de muita briga nos bastidores. Muitas emoções envolvidas.
“Foi pesado… Especial. Eu não conhecia a Panela, só ouvia falar da época da Tilibra. E quando começou a Liga das Américas e vi o ginásio lotado, pensei ‘Estou gostando disso aqui! E como assim me machucar nesse momento mais importante da minha carreira?’ Aquele domingo foi muito bom.”

O cantor em ação. Foto: Divulgação LNB
O cantor em ação. Foto: Divulgação LNB

E o cantor Larry vai conseguir conciliar a carreira? Lançou o single, mas quando vem o álbum?
“Vai demorar mais para lançar, por causa da Seleção e dos campeonatos. Mas eu sempre faço música, nunca vou tirar da minha vida. Foi assim que o meu amigo Emil Shayeb me descobriu. ‘Você tem músicas legais, mas não está mostrando pra ninguém’, ele disse. Aí lançamos a primeira música, muita gente gostou, está nas rádios, o pessoal liga pedindo pra tocar. Eu pretendo lançar o álbum e vamos ver até onde consigo ir com a música.”

Na Seleção, sua meta é chegar à Olimpíada. Isso passou pela sua decisão por Mogi?
“Eu decidi por Mogi porque queria jogar mais de armador. Até joguei muitos minutos no último NBB, mas a maioria como lateral. Eu acho que tenho mais sucesso jogando de armador.”

Mas na Seleção o Magnano te coloca de lateral…
“Sou um cara que sempre faz o melhor para o time. Mas gosto mais de jogar de armador.”

Pra dificultar um pouco mais sua despedida, o Guerrinha fez um desabafo emocionado, os outros diretores deixaram recados… Foi uma avalanche de carinho…
“Só de pensar de novo, fico emocionado. Foi uma escolha difícil, todo mundo sabe o quanto gosto de Bauru. Não poderia ter um grupo melhor, um clima gostoso de trabalhar. É difícil deixar isso, depois de criar amizades. E essas pessoas continuaram do meu lado, mesmo depois de deixar o time. Claro, ficaram tristes no começo, mas realmente gostam de mim. Guerrinha, Vitinho, Joaquim, Rodrigo Paschoalotto me desejaram sucesso na minha próxima fase da vida. Isso não acontece com qualquer jogador, em qualquer lugar, foi conquistado com bastante tempo. Foi muito difícil mesmo: quando decidi, nem dormi direito, nem comi direito, mas eu tive que me preparar pra essa nova fase.”

Por Fernando Beagá

Mineiro de Ituiutaba, bauruense de coração. Jornalista e mestre em Comunicação pela Unesp, atuou por 16 anos na Editora Alto Astral, onde foi editor-chefe e responsável pela implantação e edição das revistas esportivas. É produtor de conteúdo freelancer pelo coletivo Estúdio Teca. Resenhou 49 partidas da Copa do Mundo de 2018 para Placar/Veja. Criou o CANHOTA 10 em 2010, a princípio para cobrir o esporte local (ganhador do prêmio Top Blog 2013), e agora lança olhar sobre o futebol nacional e internacional.

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