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Bauru, campeão sul-americano (2): crônica de torcedor

Confira a crônica do torcedor Felipe Coelho Lopes sobre a maior conquista da história do basquete de Bauru

O torcedor é a razão de existir de qualquer agremiação esportiva. E dele vêm as mais variadas emoções. A maioria delas, expressa no grito. Mas há quem se arrisque a registrar seus pontos de vista. O Felipe é um desses. Sempre me procura no fim dos jogos com ideias de títulos e ganchos para meus textos. Dessa vez, no lugar de acatar uma sugestão, dei a ele o desafio de escrever o texto abaixo, prontamente aceito. Quem frequenta a Panela de Pressão conhece bem nosso cronista da vez: é um dos “gêmeos da Fúria”, gente boa. E meu leitor assíduo, a quem agradeço a audiência qualificada. Espaço aberto para a emoção do torcedor, muito bem escrita, aliás. Boa leitura. Obrigado, Felipe!

(Antes, um parêntese sobre a imagem acima: uma montagem que remete a um dragão alado, pois brinquei em outro texto que tanta ambição pelo topo precisa de asas…)

 

O GIGANTE RENASCIDO
Por Felipe Coelho Lopes

Confesso que fiquei muito feliz ao ser convidado pelo Fernando para escrever uma crônica no site. Se é que posso me atrever a chamar isso de crônica. Para mim, seria mais como um depoimento de um torcedor que gosta muito de escrever, embora não seja (e nem está tentando ser) jornalista. Acompanho os jogos de basquete no ginásio desde 1999 e entrei para a Torcida Fúria em 2007. Antes disso, já acompanhava a NBA na longínqua época em que eram feitas transmissões de jogos na televisão através da Rede Bandeirantes. Na ocasião me tornei fã do Los Angeles Lakers (perdurando a admiração até hoje) e assisti feras como Kobe Bryant, Shaquille O’Neal, Ron Harper, Glen Rice e cia encantarem os olhos dos torcedores presentes no Staples Center.  Acima de tudo, tentarei expressar em algumas palavras um sentimento pessoal, também compartilhado por muitos torcedores. Com o olhar direto da arquibancada, a alegria, a vibração e muitas vezes me deixando levar pela emoção, segue o relato de um torcedor cuja paixão está muito além da Torcida Fúria e dos gritos que vêm da arquibancada. Está no grito que vem da alma.

Orgulho: este talvez seja o principal sentimento presente no coração dos apaixonados torcedores bauruenses. E como não sentir? Principalmente para os que acompanham o time desde a retomada do projeto em 2008, sabem que anos atrás o já campeão paulista e brasileiro voltava aos trilhos em busca de uma trajetória de sucesso. Daquela época, estão presentes hoje somente Gui e Larry, o primeiro um garoto nascido e criado em Bauru, o segundo uma verdadeira “joia rara”, descoberta no mexicano Lobos de Mazatlán e em pouco tempo conquistou o coração da torcida bauruense. Embora fosse um elenco modesto, possuía uma característica que permanece até hoje: garra.

E é exatamente essa garra, vontade de vencer, de se superar, que se tornou a marca registrada da equipe bauruense. Ainda no pequeno e acanhado ginásio da Luso, chamado maldosamente pelos adversários de “lata de sardinha” (dada a capacidade limitada a cerca de 600 torcedores na época) e carinhosamente apelidado pelos bauruenses de “caldeirão”, cozinhamos muitos tubarões. Equipes como Flamengo, Brasília, São José, Franca e Pinheiros lá sucumbiram perante a fúria do Dragão. Para ganhar do Bauru era necessário pagar um preço alto, usar todo o repertório que possuíam, jogar muito basquete. Éramos o famoso “baixinho encardido”, chato, marrento que não se deixava intimidar pelo peso da camisa alheia.

Passados cerca de seis anos, o ginásio mudou, o baixinho se transformou em gigante, vários jogadores chegaram e outros tantos foram embora, o projeto ganhou força, se expandiu e se profissionalizou. Agora, contamos com categorias de base disputando diversos campeonatos, patrocinadores tão apaixonados quanto a própria torcida e um elenco, meu amigo… que mais parece um exército espartano. Quase invencível, a equipe hoje contra com jogadores que são verdadeiros astros, os “selecionáveis” Alex, Rafael Hettsheimeir e Larry, além de Ricardo Fischer, Robert Day, Jefferson, Gui (de reserva no início do projeto a titular) entre outros que se mostram tão aplicados e disciplinados tática e tecnicamente quanto as feras já citadas.

Com um exército desses, é preciso de um comandante á altura… Temos Guerrinha. Um dos cérebros do projeto, auxiliou desde o reinício da franquia, entre outras coisas buscou parceiros, patrocinadores, fez negociação de valores, intermediou contato com o Poder Público e, no meio de tudo isso, ainda treinava o time. Possui inteligência para comandar as peças de um “tabuleiro de xadrez” tão complexo e consegue dar conta do recado.

O sucesso da campanha neste Final Four da Liga Sul-Americana (campeão invicto!) não se deve apenas à habilidade ou genialidade de um único jogador que chamou a responsabilidade para si no momento decisivo. Se deve ao fato de que temos nove jogadores que se comportam como verdadeiros gladiadores. Disciplinados, bem treinados e com um único objetivo: a vitória, de forma simples e direta. Sem firulas, sem desrespeitar o adversário, mas mostrando aquilo que sabem fazer de melhor, jogar basquete. A recompensa pelo esforço já veio com o título paulista em 2013 e também agora em 2014. Soma-se agora à coleção o inédito título sul-americano. Conquistar o estadual e a América do Sul não bastam, podemos ir além. Queremos também o NBB, as Américas e (quem sabe) o mundo.

Por Fernando Beagá

Mineiro de Ituiutaba, bauruense de coração. Jornalista e mestre em Comunicação pela Unesp, atuou por 16 anos na Editora Alto Astral, onde foi editor-chefe e responsável pela implantação e edição das revistas esportivas. É produtor de conteúdo freelancer pelo coletivo Estúdio Teca. Resenhou 49 partidas da Copa do Mundo de 2018 para Placar/Veja. Criou o CANHOTA 10 em 2010, a princípio para cobrir o esporte local (ganhador do prêmio Top Blog 2013), e agora lança olhar sobre o futebol nacional e internacional.

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