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A tensa eleição do Noroeste

Eleição do Noroeste é marcada por discussões e até agressão, mas confirma Emilio Brumati na presidência

Rapaz, quando tudo parece tranquilo no Noroeste, o vento sopra diferente. Estava eu, ocupado e impossibilitado de ir ao Complexo acompanhar a eleição, que aparentemente ocorreria rápida e protocolar para confirmar Emilio Brumati como novo presidente no Noroeste. Gastaria minhas linhas apenas para comentar o início dessa nova fase, além de dar espaço ao outro candidato, Bruno Lopes, e para opinar sobre o estatuto e suas brechas — o que farei também. Mas surgiu tanta coisa durante o pleito (inclusive vias de fato), que é melhor seguir este texto em tópicos. Não fui, porém falei com gente envolvida diretamete, apurei bastidores. Mas estou aberto a correções e complementos, ok?

Brumati presidente
Candidato de Toninho Gimenez, que orquestrou todo esse movimento de reativar (reanimar, ressuscitar…) o Noroeste, teve poucos dias em “mandato tampão” para começar a reorganizar o clube. Nesse período, Emilio Brumati pagou os salários de setembro e agosto e começou a rascunhar o projeto do time para 2013 — parcerias com clubes para ceder jogadores e primeiros contatos com possíveis treinadores. Brumati e seu vice, Rafael Padilha, têm transito no meio do futebol e, inevitavelmente, isso conta. Que consigam, com isso, dar o mínimo de dignidade ao Norusca. Ninguém é ingênuo de achar que entraram nessa por mero amor à camisa e total desprendimento material. Até porque é possível ter rendimentos sem lesar o clube. E que assim seja.

O Estatuto
O Estatuto do Esporte Clube Noroeste, como a maioria dos documentos neste Brasilzão, tem brechas e mais brechas… E um leigo nunca afirmará categoricamente se a letra foi desrespeitada ou não. O conselheiro Abel Abreu e Anis Buzalaf Jr. (agora conselheiro vitalício, na condição de ex-presidente) chegaram à sala anexa da Panela de Pressão contestando a legalidade da eleição, provavelmente tentando ganhar tempo para articular uma chapa para fevereiro. Entretanto, “interpretar o Estatuto” está entre as atribuições do CD, daí a brecha. Mas a verdade, nua e crua, é que o Estatuto vem gerando dúvidas há anos. Exemplos: ele prevê mandato executivo de quatro anos, mas há tempos se pratica dois; a situação do quadro associativo é uma incógnita e seria muito bom saber quem são e onde estão essas pessoas que deveriam renovar o Conselho… E por aí vai.

Outra coisa: o silêncio da imprensa — no qual me incluo — sobre a legalidade ou não do que tem sido feito desde 2 de outubro, tem dois possíveis motivos. Um, claro, pela brecha jurídica e desconhecimento dos bastidores — por exemplo, até poucas horas eu não sabia que o Conselho Fiscal está ativo, mas está. O outro motivo, hora de dar a cara pra bater: ato de torcedor sobrepondo o jornalista. Paixão alvirrubra cega suplicando um último suspiro de reação. Era isso ou mais meses de miséria pela frente. Mas, se a casa vai ficar em ordem a partir de agora, chegou o momento de esse documento ficar mais claro e praticável.

O pleito
Importante destacar que haver oposição é absolutamente saudável no processo de sucessão de poder. E a candidatura do comerciante Bruno Lopes, nesse aspecto, é legítima. Torcedor atuante e contestador, não é visto com bons olhos por grande parte da comunidade noroestina. Posso não concordar com algumas de suas posturas e até mesmo não o vê-lo como apto para o posto — não por sua capacidade, que desconheço, mas porque sua rejeição tornaria seu mandato impraticável –, mas respeito. Sua voz é importante para o processo democrático. Como bem lembrou o colega blogueiro Henrique Perazzi de Aquino, Bruno marca território de resistência — e isso tem lá o seu valor. O Canhota 10 falou com ele sobre a eleição.

“Minha candidatura, como sempre, foi legítima. Preencho todos os requisitos legais e estatutários exigidos. Hoje, no começo da ‘eleição’, tivemos um pequeno lapso de legalidade e cumprimento do Estatuto do clube, mas foi apenas uma ameaça… Mas acho que as abstenções indicam que não é tão simples!”, comentou Bruno.

Além das abstenções de Buzalaf e Abel, outros dois conselheiros se abstiveram do voto. Mas não foi em apoio ao ex-presidente e, sim, em discordância com o atropelo dos fatos.

A tensão
Há relatos de que o ex-presidente Buzalaf foi hostilizado ao sair e, mesmo com policiamento, chegou a ser agredido por torcedores. Não se pode colocar o ocorrido na conta da Sangue Rubro, como instituição. Cabe a ela apurar sobre membros seus entre os envolvidos e se manifestar. Seja quem for que cometeu o ato, é algo lamentável. Mesmo que Anis tenha tido a infeliz ideia de ainda querer fazer parte da vida do clube depois de uma administração desastrosa, o ato acaba por minar ainda mais a credibilidade dos torcedores de arquibancada em relação à política do clube, pois é sabido que entre eles há os que alimentam o sonho de assumir o poder alvirrubro. Desse jeito, esse difícil sonho torna-se impossível.

Torcedores protestam à porta da reunião. Foto: Paulo Macarini/Agência Bom Dia
Torcedores protestam à porta da reunião. Foto: Paulo Macarini/Agência Bom Dia

Por Fernando Beagá

Mineiro de Ituiutaba, bauruense de coração. Jornalista e mestre em Comunicação pela Unesp, atuou por 16 anos na Editora Alto Astral, onde foi editor-chefe e responsável pela implantação e edição das revistas esportivas. É produtor de conteúdo freelancer pelo coletivo Estúdio Teca. Resenhou 49 partidas da Copa do Mundo de 2018 para Placar/Veja. Criou o CANHOTA 10 em 2010, a princípio para cobrir o esporte local (ganhador do prêmio Top Blog 2013), e agora lança olhar sobre o futebol nacional e internacional.

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