Já sabia do perfil politizado de Pilar. Estudante de História na universidade (não sei se terminou o curso, em meio a tantos treinos e viagens para jogar), apreciador da cena cultural, leitor entusiasmado e colunista de textos inspirados. Essa mente inquieta forjou um jogador raçudo, às vezes estabanado, tamanha sua entrega em quadra — a ponto ser aconselhado pelo técnico Guerrinha a fazer ioga, para canalizar sua enorme energia.
Pois bem. Ele é um cavalo em quadra (o locutor Rafael Antonio o apelidou de Horse, provavelmente por atropelar os adversários com sua garra), mas um cara manso fora dela. Cabeça, paz e amor. E preocupado com o bem-estar de seus colegas. Por isso, no final de semana do Jogo das Estrelas do NBB5, rumou a Brasília para participar de uma reunião com outros atletas, que estão em vias de formalizar a criação de uma associação para defender os interesses dessa comunidade: a AAPB, Associação de Atletas Profissionais de Basquetebol do Brasil. Com seu bom texto, contou a experiência em sua coluna no Draft Brasil. E deu mais detalhes em entrevista ao Canhota 10, que você confere a seguir.
Que jogadores estão à frente da associação?
“Todos os jogadores estão à frente. É uma associação autogestora.”
Existe apoio da Liga Nacional para esse grupo?
“Existe um contato, existe um diálogo que ainda se inicia.”
Será criado um cronograma de reuniões? Que assuntos vocês vão abordar com mais ênfase?
“Discutimos muitos assuntos, uma pauta com vários tópicos, ainda precisamos elencar os mais importante. Ainda foi só um começo, ainda está para se lançada a Associação.”
O foco será nas condições de trabalho do atleta ou envolve também o aspecto esportivo? (como a qualidade das arbitragens)
“O foco ainda está por ser traçado, mas eu, que sou apenas parte integradora da Associação, acho que a princípio é necessário focar nas condições dos atletas e sua relação com o trabalho.”
Você se lembra de alguma situação que, se a associação já estivesse estabelecida, vocês poderiam ter atuado?
“Eu já vivenciei sim situações que, se existisse uma associação, ela poderia atuar sim. Acho que muitos outros atletas também. É dessa necessidade que surge uma iniciativa como essa. E se você, jornalista, for atrás de coisas em que uma associação poderia atuar, provavelmente acharia alguma coisa. Quem sabe até ajudaria a nossa atuação. Vocês jornalistas também têm responsabilidade social. Também devem ter um sindicado, uma associação. Vocês tem até, se é que podemos dizer assim, um compromisso maior com a sociedade, que é o de informar com ética e com isso construir uma sociedade melhor.”
Há outras experiências no Brasil de associações de atletas, mas nenhuma com representatividade significativa. O que pensam fazer diferente para essa empreitada render resultados concretos?
“Todos sabemos que é um trabalho duro. Acho que temos que ser perspicazes, ter vontade política e trabalhar duro. E que contemos com a ajuda de vocês, da imprensa!”
O que for para o bem da comunidade basqueteira, Pilar, o Canhota divulgará com todo o prazer. Falar desse primeiro encontro dos jogadores e abrir espaço para essa iniciativa já é um pouco da minha parte.