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Bauru, campeão sul-americano (3): fala, Guerrinha!

Guerrinha fala da trajetória do basquete de Bauru até o auge do título sul-americano

Até que o tempo mostre o contrário, continuo achando que não existe basquete em Bauru sem Guerrinha. Ele não é unanimidade e a montagem desse timaço foi prato cheio para cobranças, afinal, não chegar longe nos campeonatos com tantas feras seria uma corda bamba para o treinador. Pois ele descentralizou a comissão técnica, ganhou a confiança do elenco e está com aproveitamento total de taças na temporada. Poderia dar uma de Zagallo e dizer que vão ter que engoli-lo. Mas nem precisa. É muito mais querido do que alvo de desconfianças. É bauruense, já, só falta a Câmara Municipal dar andamento no projeto de Cidadão que mora em alguma gaveta por lá.
Atualizado: alertado pelo atento colega Thiago Navarro, do JC, houve, sim, a aprovação da proposição do vereador Faria Neto, em março de 2013. Só não sei se houve Sessão Solene na Câmara. Estou checando. Quem souber, avise.

Dando sequência à série que celebra o maior título (até aqui…) do basquete bauruense, segue uma breve, mas relevante, entrevista com Jorge Guerra, gentilmente concedida durante a festa de comemoração do time após a final da Liga Sul-Americana. Entre espetinhos e pagode, ele reservou um tempinho para o Canhota 10:

É inevitável pedir para você comentar sobre como começou esse projeto e onde chegou… Claro que tem a sua marca e a sua persistência.
“Eu fui o precursor na volta e vim com a credibilidade de cinco anos com a Tilibra. Já existiam pessoas sérias que gostavam de basquetebol e resgatamos essas pessoas. Uns participaram mais, outros, menos e a gente foi envolvendo todos no projeto. Tivemos muitas dificuldades, como todo o esporte brasileiro tem. A GRSA iniciou, depois veio a Itabom. Veio o Paschoalotto e ganhamos uma condição mais profissional dentro e fora da quadra. Esse foi o grande diferencial. Nosso patrocinador não está só investindo em bons jogadores para ganhar títulos, estamos investindo no produto basquetebol, com categorias de base. O Rodrigo sempre disse que queria ser referência e já está sendo. Não por causa de títulos, mas pelo modo que estamos fazendo basquete em Bauru hoje, admirado por todos, pela consistência da equipe dentro da quadra e, fora, contratos longos, o que é inédito na modalidade. Então, foi crescendo pouco a pouco, cada momento teve a sua particularidade, mas foi tudo muito importante. Todo o nosso crescimento foi progressivo. Sempre trabalhamos e continuamos trabalhando, com e sem dificuldades. Vocês [imprensa] são prova de como nós vivemos cada momento difícil no projeto. Mas em nenhum momento faltou dedicação, comprometimento e amor de todos os envolvidos, cada um do seu jeito. Eu me sinto muito realizado, por ter trazido essa nova etapa, criado condições e usado minha experiência de gestor e técnico com credibilidade. A palavra que mais cabe no nosso projeto, hoje, é credibilidade.”

Chama a atenção você ter tido a percepção e a humildade de agregar mais pessoas e sair da linha de frente em busca de um objetivo maior. Você foi ficando mais técnico e menos gestor…
“Exatamente. Antes, tinha mais coisas de mim. O filho era pequeno e eu tinha que estar mais próximo. A gente foi crescendo, se profissionalizando. O grande passo foi a profissionalização do nosso gestor, o Vitinho. Até então, só tínhamos diretores colaboradores. Ficava difícil cobrar dessas pessoas, que tinham suas empresas, seus serviços. Hoje, podemos falar que nossa diretoria é totalmente profissional. Lógico que ainda temos colaboradores, voluntários, que curtem e se dedicam como profissionais, mas temos uma estrutura que pode cobrar de todos para a equipe ter qualidade. Eu tive o ‘feeling’ e o desprendimento, pois pra crescer não se pode ser sozinho. Tem que ter muito mais gente. Então, eu sempre tive muita confiança no meu trabalho, segurança, e quando a gente tem isso, abre mão das coisas pelo maior, que é o time.”

Em relação ao time, conversei com você, no começo da temporada, que a primeira impressão de fora sobre esse timaço é que haveria disputa de vaidades. Antes de começar, você já me falou: ‘Aqui só tem cara profissional e a fim de ganhar, um vai ajudar o outro’. E é exatamente o que está acontecendo, né?
“A gente foi muito feliz nas pessoas que vieram. Ninguém veio por acaso. Quem veio tem função tática, função técnica. E, principalmente, queríamos ter um grupo de homens, pra continuar dando o que o patrocinador mais quer: valores pessoais. O Paschoalotto não quer só ser campeão. O time leva o nome da família dele! Então, ele quer valores para seu endomarketing na empresa. Tanto que, se não houver certas pessoas no time, ele cancela o contrato, pois confia piamente nelas. Portanto, o time é feito de grandes valores técnicos, mas, principalmente, valores pessoais. Encontramos pessoas que já passaram da fase da autoafirmação pessoal. Todo mundo sabe que é importante ter mais gente para jogarmos num nível competitivo de excelência. Não adianta ter só um armador, só um pivô, só um técnico. O grande segredo é a quantidade com qualidade e a química entre todos.”

Claro que todos têm importância, mas gostaria que comentasse sobre três nomes fundamentais: Larry Taylor, pelo carisma, o Ricardo, pela liderança, e o Alex, por ser quem cobra mesmo quando o time está ganhando por vinte pontos de diferença…
“Tem muito mais gente importante. Tudo o que você falou é verdadeiro. Mas não temos só o Ricardo de capitão. O Larry é capitão, levantou o Paulista. O Ricardo levantou o troféu da Sul-Americana, nos Abertos [se ganhar, e ganhou], o Gui. Num próximo que a gente conquistar, outro vai levantar. O Jefferson é uma pessoa muito importante na liderança do grupo. São pessoas interessadas… O Day é fantástico! O que ele está fazendo para o grupo, não só tecnicamente no jogo, mas o que está passando de valores para o Guilherme… O Alex também. O Gui pode não estar jogando trinta minutos, mas os minutos que joga, joga com qualidade, com essas referências positivas. Isso é com todo mundo. Ficaríamos falando aqui um bom tempo… A força de vontade do Murilo, que está voltando com dedicação e profissionalismo… Todo mundo tem seu valor no time.”

 

Foto topo: Henrique Costa/Bauru Basket

Por Fernando Beagá

Mineiro de Ituiutaba, bauruense de coração. Jornalista e mestre em Comunicação pela Unesp, atuou por 16 anos na Editora Alto Astral, onde foi editor-chefe e responsável pela implantação e edição das revistas esportivas. É produtor de conteúdo freelancer pelo coletivo Estúdio Teca. Resenhou 49 partidas da Copa do Mundo de 2018 para Placar/Veja. Criou o CANHOTA 10 em 2010, a princípio para cobrir o esporte local (ganhador do prêmio Top Blog 2013), e agora lança olhar sobre o futebol nacional e internacional.

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