A história rende um livro, fácil. Desde que o Brasil foi anunciado como sede da Copa do Mundo de 2014, as idas e vindas do Morumbi como sede paulista foram dignas de roteiro de novela. Pudera: o primeiro projeto, convenhamos, era bem fraquinho. Parecia desleixo ou arrogância. O clube dono do maior estádio particular do Brasil e hegemônico no futebol brasileiro, na ocasião, dava a entender que o Morumbi precisava de poucos ajustes. Engano: a grande maioria dos palcos brasileiros está totalmente fora dos padrões Fifa.
Homens da Fifa vieram bastante a São Paulo vistoriar, recomendar, solicitar mudanças. O clube tinha seu teto de investimento e não abria mão dele. O vaivém irritava. Até que o Tricolor se opôs à CBF na eleição do Clube dos 13. Foi a senha para ser fritado.
Ao mesmo tempo, o Corinthians se aproximava da CBF como nunca. Andrés Sanchez apoiou Kleber Leite, o candidato de Ricardo Teixeira. Foi escolhido chefe da delegação brasileira na Copa da África do Sul. Especula-se sua influência na contratação de Mano Menezes como treinador da Seleção. Em paralelo, intermináveis capítulos do estádio próprio corintiano, assunto de décadas de piadas de dezenas de maquetes.
Diante desse cenário, a Arena Palestra parecia a grande hipótese. O Parque Antarctica já fechado para obras, construtora definida, projeto na planta. Emperrou em burocracias, porém, e perdeu forças. Aí veio a dupla Goldman/Kassab (governador/prefeito da aliança PSDB/DEM). O primeiro indício de que o Corinthians ia se dar bem na história: estádio + centro de convenções em Pirituba, com dinheiro estatal, mas o Timão de olho na gestão do espaço, a exemplo do que o Botafogo faz no Engenhão. A Fifa brecou.
Uma semana antes da grande novidade, o presidente corintiano não se contém. Afirma em evento universitário que sua grande missão é evitar que o Morumbi sedie a Copa de 2014. Horas depois da grande repercussão, solta nota oficial afirmando ter sido piadinha, que torce pelo estádio tricolor. Pura ironia.
Resta saber se o presidente Lula também foi irônico e dissimulado ao defender o projeto do Morumbi por tanto tempo ou se, realmente, lutou o quanto pode pelo estádio. A verdade é que, com o palco são-paulino fora da Copa, bastou lançar mão de seu prestígio para convencer a Oderbrecht a encarar o desafio de Itaquera. O Fielzão, parece, vai mesmo sair do papel. E já é o estádio para a Copa sem a CBF nem mesmo ter visto o projeto, segundo o próprio Andrés Sanchez. “O Corinthians foi escolhido porque tem credibilidade. Muita gente pode não acreditar, mas nós temos”, disse à Folha de S. Paulo.
Apesar de essa novela estar perto do fim, haverá próximos capítulos. Quem viver, verá.