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Voa, Maikão…

Michael Uchendu, o Maikão, partiu precocemente, deixando uma interrogação sobre onde seu talento, digno de otimismo, alcançaria.

Quando Michael Somutochukwu Uchendu, o Maikão, errava um arremesso, lembro-me bem, abaixava a cabeça e voltava à defesa de cara fechada, bufando. Ele se cobrava muito. Quando acertava, socava o ar para baixo, discretamente, o que dava uma impressão de ser tímido, mas nos bastidores era divertido, como todo moleque deve ser.

Um dos grandes nomes recentes da base do basquetebol, ele atropelava quem viesse. No profissional, teve que aprender, a cada bufada, como encontrar seu espaço no garrafão. Era um tanto impaciente, pois queria amadurecer rapidamente, brilhar logo. Afinal, sabia de seu potencial. Essa pressa o tirou precocemente do Bauru Basket, seu berço. Uma saída um tanto conturbada, rumo à Espanha, mas que não deixou feridas. Afinal, seu retorno ao Dragão era cogitado.

Maikão fez uma boa temporada na segunda divisão espanhola, pelo Leyma Coruña, emprestado pelo Obradoiro, da liga principal. De férias no Brasil, o pivô negociava diretamente com o time de Coruña, uma vez que o Obradoiro desistira de renovar seu vínculo. Outra possibilidade, em caso de insucesso na permanência na Europa, seria retornar à Cidade Sem Limites.

Semanas atrás, ouvi de Vanderlei que as portas estavam abertas. Inclusive, o dirigente confidenciou que, dentro do perfil do elenco para a próxima temporada, Uchendu se encaixava com grandes chances de ser titular na posição cinco. Houve conversas entre as partes, mas o trágico acidente da tarde deste sábado, 29 de junho, interrompeu essa possibilidade e enlutou a comunidade do basquete.

Em decorrência de um acidente de jet ski, Maikão se afogou e partiu com apenas 21 anos. Deixou uma interrogação enorme. Como seria sua carreira? O que mais conquistaria? Que patamar alcançaria? Seria dominante na seleção brasileira? Havia otimismo para todas as respostas, o que aumenta a lamentação de todos. Acima de tudo, entretanto, há uma família chorando, digna de toda solidariedade.

Para quem acredita, os que partem rumam ao céu. No caso de Maikão, o trajeto foi abrupto como sua impulsão atacando o aro. Chegou a São Pedro, no dia de São Pedro, rasgando as nuvens, bufando. Queria ficar mais na Terra. Queríamos que ele estivesse aqui. Resta-nos desejar que esteja voando em paz.

 

Fernando Beagá

 

Foto: Fiba Américas

Por Fernando Beagá

Mineiro de Ituiutaba, bauruense de coração. Jornalista e mestre em Comunicação pela Unesp, atuou por 16 anos na Editora Alto Astral, onde foi editor-chefe e responsável pela implantação e edição das revistas esportivas. É produtor de conteúdo freelancer pelo coletivo Estúdio Teca. Resenhou 49 partidas da Copa do Mundo de 2018 para Placar/Veja. Criou o CANHOTA 10 em 2010, a princípio para cobrir o esporte local (ganhador do prêmio Top Blog 2013), e agora lança olhar sobre o futebol nacional e internacional.

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