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Bauru Basket: guerreiro por uma dia (parte 3)

Tenho o dobro da idade desses meninos! (Matheus – short cinza – e Ganso)

Como prometido, a parte 3 do meu dia de treino com o elenco do Paschoalotto/Bauru tem como protagonistas os jovens guerreiros. Experiência que começou na véspera – como contei, bati bola na Panela na noite que antecedeu o treinamento – já com uma curiosidade que desconhecia: basqueteiro gosta de arremessar sempre com a mesma bola. Em certo momento, depois de chutar, minha bola foi para um lado e a do menino sub-17 caiu na minha mão. Era mais fácil cada um usar a que estava em sua mão, mas ele solicitou a troca. Parece frescura, mas não é. Afinal, o jogo de basquete usa uma única bola (a reserva só entra em quadra se a primeira for danificada ou murchar, por exemplo). Então, quanto mais a mão está habituada àquela textura, aquele peso, melhor.

Gui com o troféu sub-21 dos Jogos Regionais – ele foi correr com os garotos e é uma referência para eles

Ainda na quarta à noite, uma cena interessante. A certa altura, os meninos sentaram-se para descansar. Naquele mesmo dia, eles haviam jogado (e vencido) a final dos Jogos Regionais, em Lins. Mas são novos, vendendo saúde, e Guerrinha comentou: “No meu tempo, se tivesse uma quadra boa dessas pra bater bola, só pararia quando apagassem as luzes”.

Para contextualizar: seis meninos do time sub-17, que estão invictos (até a 12ª rodada do segundo turno) no Paulista da categoria, estão treinando com os profissionais. Além de pegarem experiência, estão sendo testados, pois alguns deles irá compor o elenco da Liga de Desenvolvimento (LDB, sub-22), ao lado de Gui, Luquinha, Andrezão, Ricardo Fischer e mais dois ou três que vão chegar para essa competição. Por isso mesmo, o ala Gui pediu a palavra ao final do treino para conversar com os garotos – sob os olhares de Hudson Previdelo (treinador deles), Guerrinha, Fischerzinho, Luquinha e Andrezão. Em resumo, o camisa 9 pediu comprometimento à molecada.

“Treinem forte, tenham foco, pensem nessa oportunidade. Vocês não podem se distrair, têm que estar concentrados, tentar acertar sempre. Quando der air ball, tem que ficar preocupado. E pensem na chance que estão tendo. Vocês vão completar o time sub-22 e poderão entrar em quadra, em jogo de TV. Alguém já jogou para TV aqui? Ano passado ganhamos muito destaque, mas fomos vice-campeões. Esse ano quero ganhar! Então vocês têm que estar preparados para não amarelarem na hora H. Ano passado ralamos pra caramba para perder o título no final… Esse ano eu não admito perder de novo!”, disse o guerreiro Gui, com sangue nos olhos.

Grande exemplo de jogador que se desenvolveu gradativamente, Gui Deodato tomou muita bronca, passou muito rodo na quadra e carregou muito gelo pra cima e pra baixo até chegar ao patamar de revelação e de jogador que mais evoluiu no NBB. Guerrinha tomou a palavra e resumiu a trajetória do jovem. “Tem que dar um algo a mais, tem que ter humildade, entender a dimensão dessa oportunidade, porque poucos chegam longe”, disse, lembrando que nem todos irão compor o time sub-22. E se o elenco principal permancer com 11, caso Josuel não fique, há uma vaga para um deles no banco, nos jogos do Paulista.

“Lembrem-se que o jovem é sempre visado porque tem potencial para se desenvolver. Eu cheguei à Seleção Brasileira por causa disso. Tem muito cara melhor do que eu na minha posição, mas eu tenho muito tempo pela frente para melhorar e levaram isso em conta”, destacou Gui.

Ricardo Fischer: líder nato

Ao lado de Gui, o armador Ricardo Fischer também falou aos garotos. Ele também foi bem direto, sem passar a mão na cabeça dos moleques. “São poucos times que dão essa oportunidade que vocês estão tendo. Aproveitem. Observem bastante. Eu aprendi muito só de olhar o Fúlvio treinar. E tinha poucos minutos para entrar em quadra, mas aproveitei cada chance e fui ganhando confiança para entrar mais. Quando o técnico precisou de mim, eu estava pronto. Não se iludam, vocês não vão jogar no time de cima agora e os títulos nas categorias de base não valem de nada. Ganhei muitos na minha carreira e não serviram pra nada quando cheguei no profissional. O que vale é mostrar serviço no adulto. Até chegarem lá, não desperdicem a chance de aprender com os mais velhos, tem muito jogador experiente nesse time”, disse o ex-jogador de São José.

Guerrinha elogiou a postura de Gui e Ricardo. “Eles passaram aos meninos como treinar, o que fazer, ter postura, concentração. É legal quando há troca com os jogadores, a liderança, a vivência. Isso acelera o desenvolvimento deles”, disse. O irmão mais novo do capitão do time, aliás, deu bronca no time inteiro durante uma atividade, quando se confundiram (aquela em que eu me embananei todo…). Tem perfil de liderança, o rapaz. “Mais que o Larry!”, comentou o treinador, lembrando da timidez do Alienígena, que atua como líder técnico.

Ouvindo as palavras de Gui atentamente, ao lado dos garotos

Por Fernando Beagá

Mineiro de Ituiutaba, bauruense de coração. Jornalista e mestre em Comunicação pela Unesp, atuou por 16 anos na Editora Alto Astral, onde foi editor-chefe e responsável pela implantação e edição das revistas esportivas. É produtor de conteúdo freelancer pelo coletivo Estúdio Teca. Resenhou 49 partidas da Copa do Mundo de 2018 para Placar/Veja. Criou o CANHOTA 10 em 2010, a princípio para cobrir o esporte local (ganhador do prêmio Top Blog 2013), e agora lança olhar sobre o futebol nacional e internacional.

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