Quando Bauru bateu Suzano, recordo-me de ter minimizado os momentos de firula do time, pois o adversário era muito inferior. Talvez seja isso mesmo: time fraco diminui o nível do jogo. Por outro lado, na tarde de sábado (26/1), os guerreiros construíram um placar tão elástico (91 a 59) que pode ter dado a impressão de que o adversário era fraco. E não era. O mediano Minas é oponente difícil, mas foi totalmente dominado pelo ótimo momento que vive o elenco de Guerrinha, que finalmente alcançou o G-4 da competição – ainda não garantiu essa posição ao final do primeiro turno porque pode ser alcançado por Franca, que leva a melhor no confronto direto, na última rodada.
O ala Gui Deodato segue impossível, evoluindo a cada jogo, e ontem brindou a torcida com duas infiltrações seguidas de belas cravadas. E se para muitos Larry Taylor já não é o mesmo, há que se comemorar que o time evoluiu e já não depende tanto dele — que faz um arroz com feijão muito bem feito. Fernando Fischer, até outro dia peça fundamental, entrou poucos minutos para ter o gostinho de guardar suas preciosas bolas de três, mas sua temporada está com os dias contados, por causa do tornozelo. E Pilar e Jeff seguem com números sólidos.
Para um time que até outro dia passava por uma tempestade de credibilidade e parecia só contar os meses para a turbulenta temporada acabar, essa virada de jogo fantástica faz a torcida sonhar, novamente, com uma inédita semifinal no NBB.
O JOGO
O primeiro quarto começou fulminante, com as bolas de fora de Gui caindo uma atrás da outra. Quando vi o placar finalizar a parcial em 29 a 21, nem acreditei. Era para a cestada ser maior, mas o time desacelerou nos minutos finais. De qualquer forma, estava dado o recado de que defesa forte e chutes certeiros construiriam a vitória bauruense.
No segundo período, novamente dominante, Guerrinha opitou por uma defesa ais sólida, ficando bastante tempo com o quarteto Mosso, Andrezão, Pilar e Jeff, escoltado por Larry Taylor. Assim, Minas conseguiu fazer apenas 12 pontos — e sofreu 22, alguns deles pela dupla Fischer (Ricardo e Fernando), que finalizaram a parcial liderando as jogadas do Dragão. A primeira bola que caiu do camisa 14 foi muito comemorada, pela torcida e pelos colegas. Minas foi para o intervalo com 18 pontos para correr atrás: 51 a 33.
Na volta dos vestiários, o Bauru Basket literalmente voou. Gui levantou a galera com duas cravadas seguidas, ambas com infiltração, encarando a marcação mineira. Com Luquinha em quadra, Larry pôde descansar. E Pilar protagonizou outro grande lance: roubou a bola e enterrou com raiva, pendurando-se no aro. Ao tocar o pé em um adversário, ainda em suspensão, a arbitragem deu falta técnica — mas beitnho, para a alegria geral, errou os dois lances. Delírio na Panela! Um arrasador 23 a 8 praticamente decretou a vitória dos guerreiros.
No último quarto, com 74 a 41 no placar, Bauru pôde enfim revezar para descansar os titulares para o duelo de segunda, em Brasília. O contestado Jason Detrick fez sete pontos (uma bola de três e quatro lances livres) e Coleman, que também busca se afirmar, também permaneceu em quadra (apenas um pontinho no jogo). Parcial parelha (17 a 18) e um convincente placar (91 a 59) para mostrar que o Dragão voltou.
ASPAS
“Não é de hoje que estou infiltrando. Mas hoje deu tudo certo. Faz tempo que estou trabalhando e estou tendo resposta porque a comissão técnica está entendendo que estou tentando muito. Nos treinos, tenho diminuído muito as bolas de três para tentar infiltrar, tentar assistir o Jeff, fazer um pouco diferente para ficar mais versátil. É isso que estou buscando e fico feliz de estar dando certo. No jogo passado, eu também bati pra dentro e errei… Mas na minha cabeça o importante é que estou tentando e trabalhando dia a dia”, comentou Gui, que agora vai pra cima!
“Meu desenvolvimento tem a ver com a maneira como nosso time vem jogando, com nosso dia a dia, nosso treinamento. Quem vê nosso treino sabe do nosso esforço, do nosso preparo mental. Essa minha boa fase e do time é um merecimento coletivo”, analisou o camisa 9, eleito jogador que mais evoluiu no NBB4, que continua evoluindo.
“O time cresceu muito em função da defesa, da dedicação dos jogadores. O Larry e o Guilherme acabaram com os laterais deles e o Pilar tirou o Douglas do jogo. Tanto a parte tática, que a gente estabeleceu e estudou previamente, quanto no um contra um, quando não saem os movimentos, houve resposta… Tiramos o arremesso do Douglas, o Betinho só fez quatro pontos. A defesa e o comprometimento nos deram estabilidade para crescermos no campeonato. Agora, somos a melhor defesa da competição”, comemorou o técnico Guerrinha.
“Estamos treinando o Gui cada vez mais. Vai chegar o tempo certo de ele executar [a infiltração]. Ele teve um nível de maturidade muito grande. Do Ricardo a gente já sabia da maturidade. A entrada dos dois deu um sangue novo, com qualidade e juventude. O time voltou a ter a pegada que tinha antes. Estou feliz com a reação do time num campeonato tão forte como o NBB”, avaliou o treinador.
NÚMEROS
– Gui foi o cestinha do jogo com 22 pontos (5/7 nas bolas de três!)
– Pilar anotou 18 pontos e deu 5 assistências
– Jeff Agba: 15 pontos e 8 rebotes
– Ricardo Fischer: 12 pontos e 4 assistências (4/6 de três)
– Um fato curioso: Larry Taylor zerou (4 rebotes e 6 assistências em 21 minutos em quadra)
– O pivô Nandão fez sua estreia no time principal e pegou 4 rebotes em 4 minutos em quadra
– Vaiado, o ex-bauruense Douglas Nunes anotou apenas 3 pontos…
FAIR PLAY
Durante a partida, o locutor oficial, Gilmar Barros, pediu aplausos para o técnico do Noroeste, Carlos Alberto Seixas, que assistia ao jogo. Aos gritos de “Norusca, ô!”, a galera ouviu o convite para comparecer ao Alfredão no domingo. Bom ver essa reaproximação.