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Guerrinha paz e amor

Logo após a vitória sobre Franca, classificado para a semi, ele estava lá, de semblante calmo, concedendo entrevista ao Arthur Sales, do Jornada Esportiva, e a mim. Quando perguntado sobre o próximo adversário, Uberlândia, Guerrinha pousou as mãos sobre os ombros dos jornalistas e cordialmente pediu: “Estamos comemorando, falo com vocês sobre Uberlândia na segunda-feira…”.

O treinador tinha mesmo que comemorar. Acabava de alcançar o maior feito da Associação Bauru Basketball Team, numa temporada tão intensa, de grandes decepções e de muitos contratempos — em contraste com a melhor posição do time na história do NBB, mesmo com o acaso jogando contra.

“Nós estamos acima do limite, de cansaço, de desgaste. Mas o espírito… O que aconteceu com a esposa do Coleman [o acidente automobilístico] e ele ficou no sacrifício, não dormiu à noite. O Vitinho, o Larry e o Jeff ficaram ao lado dele. Tivemos a volta do Ricardo, que foi importantíssima. Ele antecipou dez dias! O sacrifício dos atletas, com o Pilar improvisado de armador, o Larry tentando fazer o máximo, o Gui tentando evoluir, o André, o Mosso… Tudo isso fortalece o grupo e a torcida reconhece. Jogamos totalmente fora do que planejamos, em termos de elenco”, ponderou Jorge Guerra.

Perguntei a ele como foi atravessar essa tensa série contra Franca, com um clima muito quente nos bastidores, sobretudo pela suspensão de Jeff Agba. Afinal, ele e o treinador francano, Lula Ferreira, são grandes amigos.  Em nenhum momento, os dois soltaram frases polêmicas. Não botaram lenha na fogueira. E olha que Guerrinha tem a língua afiada… Deram um exemplo a todos da Liga. “A Liga tem cinco anos, é novinha… Estava todo mundo acostumado com a situação de tirar proveito. Eu e o Lula mostramos um nível profissional, de experiência, e conduzimos bem as equipes. Poderíamos ter feito besteira, se não tivéssemos equilíbrio. Nunca deixamos nada afetar nossa amizade. Respeitamos um ao outro, guardei algumas coisas para mim, ele outras para ele, como adversários. Essa maturidade, que muitos não tiveram fora da quadra, é que foi importante”, ponderou.

Quem se lembra do choro do treinador após a épica vitória sobre o Quimsa, na Liga das Américas, ano passado, sabe que ali estava um desabafo depois de tanta luta para reativar a Panela de Pressão. Desta vez, ele poderia tirar outro nó da garganta, em resposta aos que desacreditaram no time depois da eliminação no Paulista e da perda dos Jogos Abertos. Que nada:

“Eu não tenho resposta pra ninguém. Sou muito bem-resolvido. Falei para os jogadores que tudo na vida acontece na hora certa. Minha mãe fala que a gente tem nossos sonhos, Deus tem os dele. No final da temporada passada, a gente perdeu patrocínio… Aí apareceu a Paschoalotto oferecendo toda uma estrutura. Tudo acontece na hora certa. A gente se pergunta por que, mas serve para amadurecer, melhorar, evoluir. Hoje, com certeza, recompensamos a torcida. É bem melhor ser terceiro do brasileiro do que ser campeão dos Abertos ou fazer a final do Paulista”, analisou.

Espirituoso
O melhor momento da última sexta-feira veio quase no apagar das luzes. Guerrinha interrompeu nosso papo para pedir para torcedores não provocarem os francanos, para deixá-los quietos saboreando a derrota. Mesmo com esse fair-play, foi “homenageado” por seus conterrâneos com gritos de tomate cru. Enquanto ele caminhava em minha direção para continuar a entrevista, virou-se para a galera e, por uma fração de segundo, o ginásio silenciou. Lá vem o dedo médio, muitos devem ter pensado. Não. Ele mandou beijo e fez coraçãozinho para a turma, sendo aplaudido de pé pelos bauruenses que ali ainda estavam. Uma piscadinha marota, de macaco velho, e retomamos a conversa. E foi exatamente a torcida que ganhou os maiores elogios. “Essa força vem da arquibancada. Hoje [sexta-feira], na hora em que empatou o jogo, o que determinou a vitória foi essa energia muito grande e a vontade de todos. A torcida foi fundamental”.

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Bauru 0, Uberlândia 1: faltou perna

Direto da Panela

Do sonho realizado ao choque de realidade. Com o time combalido, o Bauru Basket conseguiu superar Franca, em exaustiva série. Após 72 horas, estava novamente em quadra, contra um adversário completo, entrosado e com jogo redondinho. À primeira vista, o Dragão parecia displicente. Mas era falta de perna mesmo. E braço pesado. A bola não caía. Com apenas 40% de aproveitamento nos pontos tentados, sucumbiu a uma noite brilhante dos chutadores mineiros (60%). Uberlândia abre vantagem na série após essa vitória por 89 a 75 e, com os dois próximos jogos em casa, tem boas chances de fechar em 3 a 0.

O próprio Guerrinha admitiu que após a “descarga de adrenalina” da última sexta-feira, seria mesmo complicado voltar a sintonizar a mesma competitividade. Sobretudo pelo estado físico dos jogadores. Sem Coleman, nome da série contra Franca (ele teve que voltar aos Estados Unidos para acompanhar a recuperação de sua noiva), o time contou com a volta de Jeff (liberado por efeito suspensivo) sem a mesma intensidade: 13 pontos (sete deles em lances livres) e cinco rebotes.

Larry atuou os 40 minutos e não foi sombra do Alienígena de três dias atrás (apenas sete pontos). Pilar, sim, foi o guerreiro de sempre e com um detalhe importante: canalizou sua vontade em eficiência (22 pontos e cinco assistências). Terminou esgotado, o Cavalo. Outro destaque foi Andrezão, com 13 pontos e sete rebotes. Com 12 pontos, sete rebotes e quatro assistências, Ricardo mostrou-se recuperado ao atuar por 36min. Gui, mais uma vez, ficou devendo ofensivamente (seis pontos, apenas 25% em bolas de três e nada de jogo interno).

Do outro lado, entretanto, sobrou perna e eficiência. O reserva Audrei fez impressionantes 23 pontos em 26min em quadra (4/5 em bolas de três, 4/6 no perímetro). Cipolini (20), Robert Day (15), Valtinho (13) e Gruber (10) também pontuaram em dois dígitos. Robby Collum, costumeiramente anulado por Larry, fez apenas quatro pontinhos. Diante do desempenho dos colegas, esse mau aproveitamento não pesou.

Mesmo em noite ruim, Bauru não descuidou do placar. Mas os visitantes administraram a dianteira e deslancharam no final. Uma vitória sem sobressaltos, merecida.

Nos bastidores, o clima é de reconhecimento pela superioridade de Uberlândia e de que será muito difícil forçar o quarto jogo em Bauru. Mas ninguém jogou a toalha.

Aspas
Logo que acabou a partida, apenas Pilar, protagonista bauruense, ficou para entrevistas, enquanto Larry atendia fãs. Os demais foram para o vestiário. “O último jogo exigiu muito da gente. Entramos desgastados, mas poderíamos ter feito algo mais, pressionado… Eles acabaram encaixando um jogo de qualidade. Mas não está acabado. A gente não desistiu, queremos ir para a final. Precisaremos jogar com muito mais intensidade, fazer o impossível em Uberlândia. Já revertemos várias situações, não vamos desistir”, disse o camisa 11.

“O jogador às vezes precisa de uma força extra, que não vem. É normal render abaixo depois de uma conquista, ainda mais cansados. É difícil um time se recompor depois de uma vitória que valeu como um título. Eles vieram descansados e com uma baita qualidade. É difícil jogar contra uma equipe que não erra. Não faltou espírito à equipe. Lutou, mas tem seus limites. O time foi valente hoje. Vamos tentar surpreender lá. Muito difícil, mas vamos tentar. Pela qualidade de Uberlândia. A normalidade é eles ganharem os dois jogos. O time vai se desenvolvendo nessa adversidade”, avaliou o técnico Guerrinha.

Coleman
Não é certo o retorno do pivô DeAndre Coleman para os próximos jogos. Ele está acompanhando a recuperação de sua noiva e ainda não informou ao time se volta a tempo de atuar em Uberlândia. Ela está fora de perigo, mas, num momento delicado como esse, fica difícil exigir do jogador um retorno imediato — ainda mais que ele atuou na última sexta apreensivo, com poucos detalhes sobre o acidente, isto é, já deu grande dose de sacrifício pelos colegas.

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Foto 10: Bauru 78, Franca 71

Cliques do Canhota 10 da inesquecível vitória que valeu vaga nas semifinais do NBB5. Logo vêm as apas.

De Larry para Andrezão: o Mamute fez nove pontos e pegou seis rebotes

 

A resolução não está boa, mas vale o registro do esforço de Coleman: com a esposa acidentada, ele adiou a viagem aos EUA para ajudar os companheiros, com decisivos 11 pontos e 11 rebotes
Pilar aperta o bom Leo Meindl: mais uma grande noite do cavalo, com nove pontos, dez rebotes e sete assistências
Ainda de fora, o líder nato Ricardo (sete pontos, três rebotes) orienta o amigo Gui (nove pontos, três rebotes)
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Abre aspas: Bauru 78, Franca 71

A vitória no jogo 5 da série contra Franca, que valeu vaga na semifinal do NBB5, ainda merece posts por aqui. Afinal, o objetivo está alcançado, a história está escrita. Estar na semifinal pela primeira vez, ainda mais com um time incompleto, que tem ficado desfalcado por diferentes e inesperadas circunstâncias, já é um enorme feito nesta temporada. A seguir, o que ouvi de alguns guerreiros logo após o fim da partida épica. Posso testemunhar que Larry e Ricardo estavam com os olhos cheios d’água. Já Pilar e Gui exibiram sorrisos largos e confiantes. Nenhum deles parecia mordido ou vingado pelos revezes em playoffs anteriores. Apenas curtiam o momento, com a certeza de que a hora certa havia chegado — e com muito merecimento.

Ao GUI, perguntei se tinha resposta para os que rotulavam o time de ‘amarelão’
“Quem falou que Bauru amarela está equivocado. É tudo mérito da equipe. Valeu pelo esforço de todo mundo. Teve a ausência do Jeff, a do Ricardo na maior parte da série… E o moleque jogou muito hoje. Estamos na nossa primeira semifinal!”

Atuando sem a habitual barba, brinquei com PILAR se ele não teve medo de arrancar as forças de Sansão…
“Eu penso nessas coisas também. Pensei ‘vou tirar, estou jogando bem… será?’ Mas eu tento ser diferente, pra não ser previsível. Então, por que não mudar? Não vou me ligar a superstições, vou jogar meu jogo, sou maleável. É um grande momento. Estou ansioso para jogar contra Uberlândia. A gente está curtindo esse momento maravilhoso, mas agora vem outro adversário, outro esquema tático. A lousa vai ser preenchida novamente. A gente quer fazer mais história.”

RICARDO FISCHER comentou todo o seu esforço para  estar em quadra
“Esse retorno foi por muito amor ao basquete e graças aos fisioterapeutas, Rogerinho e Giancarlo, que me deram suporte. Fiquei mais na fisio do que em casa. Foi todo um esforço para estar aqui. Cometi erros, pois estava 17 dias paradoo. Mas fizemos história, estou emocionado. Ainda sinto um pouco de dor, mas nada que vá me atrapalhar. Farei  mais fisio para estar 100% contra Uberlândia.”

O craque do jogo, LARRY TAYLOR, falou de seu protagonismo, agradeceu o empenho dos colegas e avisou que quer mais
“Eu sempre tenho que jogar de forma agressiva num jogo decisivo. Esse é o meu jogo. E o importante é que todos jogaram muito. O Ricardo trabalhou muito duro para estar nesse quinto jogo e ajudar a equipe. Ele tem um coração muito grande e quero agradecer a ele e a todos os jogadores que lutaram. O Coleman não queria deixar o time, queria estar na quadra com a gente. Ele foi um grande reforço. Estou muito feliz por chegar a essa semifinal. Mas não estou satisfeito, não. A gente tem capacidade para chegar à final. Quero o título!”

(Coleman adiou a ida aos Estados Unidos, onde a noiva se acidentou de carro, para ajudar o time. Ele já está do lado dela, que se recupera e não corre risco. Mas ainda não há previsão de retorno)

Por fim, o capitão FERNANDO FISCHER, comentou esse grande momento
“Realmente é um momento histórico. Eu cheguei no começo, vi o projeto engatinhar. Podíamos ficar entre os oito, depois entre os seis, agora entre os quatro… Uma evolução natural, mas difícil. Eu me sinto orgulhoso de fazer parte disso. Foi uma pena não poder jogar nesta temporada, só em alguns jogos, mas não na minha totalidade física. Bauru é um dos poucos lugares que dá continuidade e isso é o segredo do sucesso.”

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Bauru 3, Franca 2: semifinal, Dragão!

Direto da Panela

Este jornalista/torcedor passou o jogo inteiro de mão gelada, suando. Não consegue, agora, fazer um texto decente que abra essa crôncia com precisão. Preciso respirar. Fique com o relato abaixo, esse que saiu sabe-se lá como durante o jogo. E depois eu volto com mais análise, números e as costumeiras aspas. Ufa!

O JOGO
Foi um primeiro quarto alucinante. O Dragão entrou com todo o estoque de fogo nos olhos. Com defesa impecável e contra-ataque  fulminante, não deixou Franca respirar até abrir 17 a 2. Todo o quinteto titular, à sua maneira, brilhou. Inclusive Mosso, quando entrou, mandando bola de três. Os visitantes entraram no jogo, mas não a tempo de evitar uma larga parcial (27 a 14).

O segundo quarto foi igualmente de tirar o fôlego. Com menos transição e mais cinco contra cinco, entretanto.  Nessas horas, Bauru contou com o retorno de Ricardo Fischer. No sacrifício, o Ligeirinho parecia mesmo estar com movimentos limitados, mas foi esquentando, soltando-se em quadra e suas bolas de fora começaram a cair. E Larry… Bem, o Alienígena arrepiou: 18 pontos no primeiro tempo. E Pilar pegou sete rebotes, enquanto o todo o time francano capturou nove… Depois de abrir 23 pontos, uma leve desacelerada e os guerreiros foram para o vestiário 16 na frente: 48 a 32.

Na volta do intervalo, não houve relaxamento. Bauru voltou intenso, agressivo e com Larry enterrando de vez o estigma de falhar num jogo decisivo de playoff. O gringo-brasuca assumiu a responsabilidade, foi um solista frio, determinado, imparável. Do outro lado, porém,  havia a camisa  pesada de Franca. E pela primeira vez na partida eles jogaram de igual para igual, a ponto de vencer o período (17 a 20).

Veio o último quarto e a diferença de 13 pontos parecia pequena para tamanho desdobramento dos guerreiros em quadra até então. Mas chegou a hora da verdade e o time de Lula Ferreira encostou: as bolas de três começaram a cair e a distância caiu para um ponto a 2min13 do fim. Inacreditável: aquele Larry impecável dos três períodos iniciais começou a pecar pelo individualismo. De repente, a tensão aniquilou as unhas e passou aquele filme chato na cabeça… Mas o ginásio não se calou, Larry fez uma bandeja providencial e voltou a ser o herói que merece ser. Será que eu ainda estou vivo? Que isso é um sonho? Não, Bauru ganhou, 78 a 71. Está na semifinal da Liga!