O Corinthians, time de melhor campanha do Paulistão 2025 até aqui, venceu o Santos jogando em casa, por 2 a 1. Normalíssimo.
As manchetes internet afora, entretanto, destacam com maior ênfase a ausência do santista Neymar na partida. Um edema na coxa esquerda o deixou o tempo todo no banco de reservas — mais uma presença de pressão psicológica no adversário do que uma possibilidade de entrar em campo.
A torcida corintiana, no seu direito de vencedora, aderiu ao meme de que Ney pipocou. Ok, a ficção cabe na zoeira.
A torcida brasileira se preocupa com o recém-convocado. Estará pronto para as partidas das eliminatórias? Ou poupou-se hoje para defender a seleção?
Neymar pode ter mil defeitos, mas fugir do embate não é um deles. Mesmo a lenda de que se machucava providencialmente perto do carnaval já foi desfeita pelos números.
A verdade é que cada passo seu, neste momento de sua carreira e do futebol brasileiro, é amplificado. O Corinthians ganhou, mas Neymar não jogou.
Se ele faria a diferença nesse domingo? Jamais saberemos.
O que sabemos é que Yuri Alberto segue decidindo e que Garro é um finalizador raro. Timão na final, merecidamente.
Já está espalhado aos quatro ventos o acerto do treinador português Jesualdo Ferreira com o Santos — a ponto de seu filho, o DJ Eddie Ferrer, celebrar o acordo em um story de sua conta no Instagram. Que o sucesso de Sampaoli e Jorge Jesus por aqui inspiraria clubes brasileiros a recorrer a misters estrangeiros, não havia dúvida. Mas não se pode dizer que o Peixe se rendeu a modismo por trazer um português no embalo rubro-negro, afinal, foi o clube alvinegro quem teve a ousadia inicial, contratando o argentino.
Mas quem é Jesualdo Ferreira? Para a maioria, o cara que disse que o Brasileirão é a “pior liga do mundo” quando comentou a vinda de Jesus, um de seus rivais históricos na liga portuguesa. A fala, descontextualizada, sugere desdém. A frase seguinte foi “A tarefa de um treinador no Brasil é difícil”, que pode tanto ter significado a competitividade do campeonato ou a instabilidade do cargo — o que é uma grande verdade.
Dias atrás, Jesualdo apareceu posando em cordial foto com Jesus, no período do Mundial de Clubes no Qatar — até abril, ele treinou o Al-Sadd (hoje às ordens de Xavi) e seguiu morando em Doha.
A coincidência do novo treinador do Santos com o rubro-negro não é só a nacionalidade. Lembra-se do espanto por Jorge Jesus ganhar seu primeiro título somente aos 56 anos anos? Pois Jesualdo chegou lá aos 61: campeão da liga portuguesa em 2006/2007 com o Porto. Ganhou as duas seguintes também e ainda sustenta a recorde de ser o único técnico de seus país a ganhar o nacional três vezes consecutivas — e quem evitou o tetra foi Jesus, pelos encarnados. Outra marca: foi o quarto mister português a ganhar ligas em três países diferentes (depois de José Mourinho, Vítor Pereira e Artur Jorge). Ganhou no Egito (em 2014/2015), com o Zamalek, e no Qatar este ano.
Sua carreira de quase quatro décadas teve muito osso roído em divisões inferiores e trabalhando em categorias de base (inclusive seleção lusitana) — além de ir e voltar como auxiliar em clubes grandes. Sua primeira temporada completa no Campeonato Português foi somente a de 2000/2001, pelo Alverca (12º colocado). Na seguinte, teve sua primeira chance no “trio de ferro”, levando o Benfica ao quarto lugar. E o trabalho que o levou ao Porto foram consistentes três temporadas pelo Braga, sempre entre os cinco primeiros.
Sem atuar à beira do campo neste semestre, fez as vezes de comentarista no Canal 11, plataforma esportiva de streaming. Analisou, inclusive, a vitória do Flamengo na Libertadores, como você pode conferir no vídeo abaixo:
Desafio: reconectar-se à competitividade
O Peixe reabriu o caminho para treinadores estrangeiros e com nome de peso, Sampaoli. Gostou do que viu e decidiu manter o intercâmbio. Bom para o futebol brasileiro, apesar de alguns narizes torcidos.
Se vai dar certo (o que não necessariamente significa títulos, afinal, o argentino saiu daqui respeitado e sem medalhas), o tempo dirá. E o primeiro desafio de Jesualdo é reconectar-se à competitividade. Esteve longe da Europa (entre África e a Ásia) nas últimas cinco temporadas. O Brasileirão pode não ser o oásis da bola atualmente, mas é disputado. Disputadíssimo. E há Libertadores também no caminho do português.