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Pacheco: “Episódio em Bauru já foi superado”

Entrevista exclusiva com o árbitro internacional, que também fala das novas regras do basquete

Entrevista exclusiva com o árbitro internacional, que também fala das novas regras do basquete

Pacheco em ação, conversando com o treinador Mortari: impondo respeito. Foto de Luiz Doro/Divulgação LNB

O NBB 3 deu início a uma nova fase no basquete brasileiro, alinhado com as novas regras da modalidade (confira aqui as mudanças). Para comentá-las, analisar seu impacto, o Canhota 10 falou, por e-mail, com um dos principais árbitros do país, senão o mais famoso: Sergio Pacheco.

De quebra, aproveitei para saber sua posição sobre o episódio lamentável que viveu em Bauru – uma pedrada no vestiário em que estava, após a derrota do Itabom/Bauru para o Pinheiros (79 a 81), no ginásio da Luso, em 18 de setembro. Felizmente, não ficou mágoa. “Foi um caso isolado”, decretou.

Sergio de Jesus Pacheco, 45 anos, é formado em Direito e pós-graduado em Direito Penal. Funcionário público há 20 anos, atua na Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo. É árbitro profissional desde 1996 e trabalhou nos Mundiais adultos masculino (Grécia-1998 e EUA-2002) e feminino (Alemanha-1998 e Brasil-2006, inclusive a final). Também atuou no Pan de Winnipeg (1999), em Mundiais universitários e apitou várias finais estaduais e nacionais, além de ter ministrado cursos ao Dream Team norte-americano, em 2003, para os jogadores se adaptarem às regras da Fiba – algo desnecessário a partir de agora…

Como as novas regras influenciam o seu trabalho como árbitro?
Na verdade, sempre que as regras são mudadas, segue-se um padrão para que o jogo fique mais dinâmico e mais atrativo para o público. As novas regras não dificultam o nosso trabalho, o que se tem que prestar bastante atenção é a adaptação da mesma no jogo. O árbitro tem que usá-las de forma que ele consiga intervir no jogo sem interferir, dando as devidas vantagens e desvantagens sem causar prejuízo ao espetáculo, tendo o máximo possível de aceitação.

Acredita que essa quase uniformização com as regras da NBA irá elevar ainda mais o nível do basquete mundial?
Acho normal que as pessoas inteligentes procurem se espelhar nas pessoas de grande expressão, observando sempre o que há de melhor. A Federação Internacional há tempos procura o que eles acreditam ser de melhor para o basquete. Realmente o basquete do planeta se espelha na NBA, que é um show de performance e equilíbrio dos melhores jogadores. O basquete tem de ser muito bem jogado para poder ser apreciado. Vivemos em um produto que necessita de inovações diárias, para nunca cair no ostracismo e monotonia. A NBA é dinâmica. Para se buscar isso, e elevar o nível mundial do basquete, uniformizar as regras junto à NBA é um dos fatores fundamentais.

Você teme que a área em que é permitida falta de ataque cause momentos polêmicos durante as partidas?
Veja bem: o princípio de faltas de ataque e faltas de defesa continua o mesmo. O jogador de defesa tem que se posicionar primeiro que o atacante, em uma posição legal de marcação, podendo se mover para os lados e esperando o contato do atacante no meio do peito. O jogador de ataque que começa o seu movimento para a cesta, quando no ar, tem o direito de atingir o solo sendo que se um defensor lhe causar contato usando qualquer parte do corpo, que não seja o meio do peito – obviamente não usando todos os requisitos de uma boa defesa – será o causador do contato, portanto da falta da defesa. O mais importante para se ressaltar é: o que um jogador defensivo tenta defender durante o jogo? Sem dúvida nenhuma, é a sua cesta. Portanto, o que esse defensor faz embaixo dela, e não na sua frente? Essa área de contato das regras novas foi criada para obrigar o jogador defensivo a se postar de forma correta a defender a sua cesta. Como esse jogo de basquete requer critérios subjetivos do árbitro para apitá-lo, delimitaram no solo essa área para facilitar os critérios a serem julgados. Por ser um jogo apreciado por critérios subjetivos da arbitragem, são inevitáveis os momentos polêmicos durante a partida.

Que outros pontos das novas regras imagina que irão gerar dúvidas?
As regras são claras e de fácil interpretação. A parte subjetiva de contatos sempre gera polêmicas.

Com a experiência de quem arbitrou no extinto Nacional, como vê o cenário atual do basquete masculino brasileiro, com o NBB?
Os comandantes do basquete brasileiro estão em uma luta incessante para sua melhoria. Estamos a caminho do profissionalismo, mas ainda falta muito. Sem dúvida nenhuma o basquete de hoje em dia – e quando digo basquete estou falando no produto basquete – melhorou muito positivamente em comparação com as antigas edições. Temos tudo para recolocar a modalidade como segundo lugar no cenário nacional.

O bom preparo físico de Pacheco se deve a seu passado de esportista: jogou basquete, foi boxeador, carateca e campeão no taekwondo. Foto de Alexandre Vidal/CBB

Você apitou em dois Mundiais femininos. Qual a diferença para o basquete masculino? As mulheres reclamam menos?
O basquete é um jogo de contato tanto no masculino como no feminino. Bolas de dois pontos valem dois pontos em ambas as categorias. A plástica dos movimentos se diferencia pelo sexo, mas o ideal continua sendo o mesmo, a vitória. Quando se tem aceitação, o respeito é muito diferenciado. Para mim, a única diferença que observo nas duas categorias é que com os homens fica mais fácil dizer certas coisas sem ter que pensar como colocar as palavras. Com as mulheres, temos que ter mais polidez ao falar.

Sobre o incidente em Bauru – a pedrada no vestiário – você achou justa a punição (multa de R$ 1 mil)? O assunto já está superado?
O assunto já está superado. Considerei um caso isolado. Sempre tive o maior respeito pelo torcedor de Bauru, e sempre fui muito respeitado por eles. Tenho convicção que os organizadores de basquete da cidade de Bauru reprovaram o episódio.

Os dirigentes do Bauru Basket entraram em contato com você depois? Como espera ser recebido numa próxima ocasião?
Foram muito atenciosos e tenho certeza que esse episódio já foi superado. Repito, caso isolado. Espero ser recebido como sempre fui, bem tratado.

Quais são seus planos daqui pra frente? O que ainda ambiciona no basquete? Pretende apitar até quando?
Dar continuidade a minha carreira, tentando ajudar os que estão começando. Eu, o Renatinho, o Cristiano, e outros árbitros de expressão, estamos fundando a Associação Nacional de Oficiais de Basquete. Tentamos fazer uma melhoria na classe e reivindicar perante os idealizadores as mais diversas melhorias para que os árbitros possam cada vez mais atuar melhor. Não existe idade limite para se apitar basquete. Mas diante do profissionalismo, necessita-se estar cada vez mais no seu melhor da forma física e, para se manter na elite da arbitragem, tentar manter o padrão de critérios aceitados por todos os envolvidos.

Foto da homepage: Reprodução/Marcos do Carmo

Por Fernando Beagá

Mineiro de Ituiutaba, bauruense de coração. Jornalista e mestre em Comunicação pela Unesp, atuou por 16 anos na Editora Alto Astral, onde foi editor-chefe e responsável pela implantação e edição das revistas esportivas. É produtor de conteúdo freelancer pelo coletivo Estúdio Teca. Resenhou 49 partidas da Copa do Mundo de 2018 para Placar/Veja. Criou o CANHOTA 10 em 2010, a princípio para cobrir o esporte local (ganhador do prêmio Top Blog 2013), e agora lança olhar sobre o futebol nacional e internacional.

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