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Pombo com asas: Brasil 2, Sérvia 0

No linguajar do futebol, o “pombo sem asa” é aquele chute distante, rasante, como se a ave recolhesse os membros para diminuir a resistência do ar e ganhar velocidade — como a bola que alcança a rede como um alvo bélico. O termo descreve arremates de fora da área, mas o Pombo brasileiro atua lá dentro, de asas abertas, e trouxe paz à estreia da seleção na Copa do Mundo de 2022. Richarlison anotou os dois gols contra a Sérvia, o segundo com um voleio maravilhoso, que exige braços abertos para executar o movimento.

O camisa 9 notabilizou o apelido pela comemoração de gols na coreografia da “Dança do Pombo” (MC Faísca e os Perseguidores). Além da irreverência, o atacante destaca-se pelo seu posicionamento político, mais pelas causas pelas quais engaja do que apoiando nomes do meio. É pró-vacina, antirracista, preocupado com o meio ambiente e mantém uma casa em Barretos para acolher pessoas carentes em tratamento contra o câncer. Certamente, deve ser louvado. Craque dentro e fora de campo.

Seu feito de hoje, claro, não ficaria alheio ao rescaldo das recentes eleições, com cenário ainda mais polarizado. Foi celebrado pela deputada Gleisi, uma das protagonistas da transição do futuro governo Lula, em ambiente protocolar. Mas, pergunto: houvesse Neymar cumprido a promessa de homenagear o ainda presidente Bolsonaro em seu primeiro gol (que não veio), o que ela diria? Daria de ombros para a vitória canarinho?

Não sou adepto do discurso de que futebol e política não se misturam — afinal, o futebol é o espelho do mundo. Mas apropriações oportunistas e até ingênuas não enriquecem o debate. Richarlison estava sorridente, colado ao ombro de Bolsonaro, na celebração da Copa América de 2019. Estar ao lado do chefe de estado numa entrega de troféu (consequência do feito esportivo) não o tornou menos progressista. Assim como a relevância de Neymar para a seleção não pode ser desprezada por quem discordou de sua dancinha ostentando o 22 com os dedos. Espanta ainda que gente clamando por um golpe nas portas de quartéis opte por boicotar a Copa… vestindo a camisa da CBF!

Vou além: tivéssemos que ser intransigentes com as mazelas por baixo do tapete do futebol — e está aí o Catar, inimigo dos Direitos Humanos —, teríamos que boicotar a Copa. Mais: não assistiríamos a evento nenhum, refém de quem pode pagar mais. Mas o esporte é exatamente a vitrine que exibe a excelência de corpos e a imperfeição de almas. Para nos lembrar que a existência é complexa.

Viva o Pombo! (e que o tornozelo de Neymar melhore logo)

 

Foto: Justin Setterfield em Fifa.com

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Adeus, Maradona!

A morte de Diego Armando Maradona, aos 60 anos, neste 25 de novembro de 2020, comoveu o mundo da bola. Um dos personagens mais ricos do futebol não resistiu a si mesmo. Merece as inúmeras reverências, foi um gigante no gramado e um cidadão do mundo, com suas qualidades e defeitos. Fernando Beagá comenta:

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Quem é Fernando Beagá?

Em palestra para estudantes de Jornalismo do Unisagrado (Bauru-SP), em outubro de 2019, o jornalista Fernando Beagá contou sua trajetória no esporte e separou os principais trechos neste vídeo:

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Rodrigo Rodrigues: Flamengo, Placar, uniformes e brinco

Gostaria de ter lembranças de Rodrigo Rodrigues comandando o Bate-Bola, da ESPN Brasil, mas era um horário ingrato pra mim à época. Vi um ou outro plantão pós-rodada. Fui impactado mesmo pelo Resenha. Todos fomos. Provavelmente não foi o primeiro programa a reunir boleiros, mas sob seu comando (com a generosa escada para Sorín) foi o melhor. Estilo muito copiado depois, jamais superado.

Comentei com amigos, enquanto lamentávamos, ainda, seu estado grave, que me identificava com o RR por alguns motivos.

Primeiro, obviamente, por motivos rubro-negros. Falava do Flamengo (e de Zico) de um jeito fácil, sem marra, sem incomodar o torcedor de outros times. E crítico, quando necessário. Vibrei quando ele interagiu comigo, no Twitter — concordamos que o uniforme de 2019 era feio.

Também me encantei por Rodrigo ser mais um alfabetizado por Placar. Em 2017, comandou o PLACAR Ao Vivo nas redes sociais, quando entrevistava colegas jornalistas e ex-jogadores. A parte mais saborosa do programa, entretanto, era quando comentava imagens de arquivos da revista. Era evidentemente alguém que as havia folheado na infância. De cá da tela, eu via detalhes que ele, de lá, também via. Tanto viés bom que as lembranças da bola oferecem, mas poucos têm essa percepção. RR tinha.

Via e comentava, principalmente, detalhes de uniformes. Aquela tipologia do número da Finta, nos anos 1990. O patrocínio da Galeria Pagé na camisa do Palmeiras. E mais uma vez concordamos que nunca o Flamengo terá outro uniforme como o da Adidas entre 1988 e 1992 (coraçãozinho eternizado no meu tweet).

Por fim, Rodrigo Rodrigues pra mim é uma questão de representatividade. Coisa simples, besta mesmo, ainda mais em plena segunda década do século 21, mas quem já teve a orelha fulminada por um olhar moralista sabe do que estou falando: o brinco. Aquela argola vistosa quebrou um tabu na televisão.

Se eu humildemente lamento que nunca o conhecerei, imagino a dor dos colegas e amigos que não irão vê-lo novamente, que sabem como foi bom tê-lo por perto.

SRN, RR.

 

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Como o Santo André calou o Maracanã em 2004

Outro time de azul, 54 anos depois, repetiu o feito de silenciar o Maracanã: o Santo André, campeão da Copa do Brasil de 2004 ao derrotar o Flamengo por 2 a 0. Os bastidores daquele título improvável agora são revelados pelo excelente livro-reportagem Eles calaram o Maracanã, do jornalista Vladimir Bianchini, da ESPN Brasil.

Ele entrevistou os heróis do Ramalhão, compôs uma narrativa agradável demais e entrega um trabalho primoroso, obrigatório para os andreenses e para quem mais gostar de um bom documentário. Nesta entrevista a Fernando Beagá, Vladimir conta alguns detalhes e fala também de sua carreira no jornalismo esportivo, principalmente na sua especialidade: encontrar e contar boas histórias no futebol.

Ele comenta, por exemplo, que fez quase uma centena de reportagens sobre Jorge Jesus, o que renderia outro livro…