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Conta do novo grupo gestor do Noroeste é difícil de fechar e pretensão de uso da Panela é complicada

Até o Conselho Deliberativo se reunir para aprovar a criação de uma empresa de cogestão do Noroeste, formada por 50 cotistas (R$ 2mil cada), o que sobra é interrogação a respeito da viabilidade desse projeto. Afinal, fala-se em fatiar em 80% (para os cotistas) e 20% (para o clube) a venda de jogadores. Façamos uma conta simples: fechando as 50 cotas, serão R$ 1,2 milhão por ano de investimento. E quem investe quer retorno. Para ficar no zero a zero, reaver o dinheiro investido, em um ano o Norusca tem que arrecadar R$ 1,5 milhão em venda de atletas (80% = R$ 1,2 milhão para os cotistas; 20% = R$ 300 mil para o clube).

Na Era Damião, o Noroeste praticamente não faturou com jogadores, apesar de ter investido na base. Recentemente é que houve alguma movimentação. De dezembro a fevereiro, a receita com transações somou R$ 230 mil. A saber: R$ 100 mil por Walter, R$ 80 mil por 70% de Romarinho, R$ 50 mil por Samoel Pizzi (percentual não divulgado). Disputando Copa Paulista e Série A-3, difícil imaginar que o clube consiga valores superiores a esses por um jogador. Então, terá que vender muitos por ano para dar retorno aos investidores! A não ser que estejam pensando a médio/longo prazo, um novo Pelé surja em Bauru e paguem uma fortuna para tirá-lo daqui.

Talvez fazendo contas parecidas é que o grupo gestor esteja pensando em gerir outras fontes de receita, que igualmente seriam fatiadas em 80/20. O site Futebol Bauru divulgou, a partir de informação de um dos cotistas, a pretensão de repassar integralmente ao Noroeste o valor do aluguel da Panela de Pressão, R$ 18 mil mensais (valor que, na verdade, já está reajustado em R$ 22,5 mil, segundo documentos públicos da Prefeitura). E 20% do que arrecadar com shows nesse espaço. Entretanto, o aluguel está comprometido com o abatimento da dívida de IPTU do Noroeste e com a reforma do ginásio (cerca de R$ 240 mil), ambos os valores diluídos em 60 meses, período do contrato, que vence em março de 2016.

“A gestão e posse da Panela de Pressão está sob administração da Prefeitura (Semel) através de contrato de locação”, enfatizou o secretário de esportes, Roger Barude. Só isso já seria empecilho para promover eventos no espaço. Mas há outro obstáculo. “A Panela não tem condições de realizar shows, uma vez que não tem alvará para esse tipo de evento”, informou Barude.

Portanto, a ideia não é tão simples assim. Para conseguir fazer shows na Panela, o grupo de cotistas precisaria de um alvará e da autorização da Semel, que detém os direitos de uso do imóvel.

Para esse grupo repassar o aluguel integral ao Norusca, o caminho é mais tortuoso. As opções:
a) o Noroeste quitar a dívida do IPTU, estimada em mais de R$ 700 mil (para receber o valor do aluguel, subtraída a diluição do valor da reforma).
b) o grupo comprar a Panela de Pressão e tornar-se o locador (o contrato prevê essa transferência). Aí teria que descontar a diluição da reforma (cerca de R$ 5 mil mensais). Mas como comprar um imóvel sem certidão negativa de tributos municipais?
c) o Norusca rescindir o contrato e alugar direto para o Bauru Basket. Entretanto, o contrato só pode ser rescindido de duas formas: de comum acordo (e a Semel não vai querer) ou se o clube descumprir alguma cláusula, tendo que pagar multa de 10% do saldo devedor do contrato (rascunhando uma conta, 10% de cerca de R$ 700 mil, isto é R$ 70 mil). Mas, novamente, a dívida do IPTU ficaria descoberta.

Todas as opções são onerosas e absurdas, convenhamos. Então, em relação à Panela de Pressão, é provável que continue tudo como está. O Canhota 10 procurou a assessoria de comunicação do Noroeste, que afirmou desconhecer tal pretensão de repasse de aluguel e realização de show.

Vale destacar ainda que, segundo balancetes publicados recentemente pelo clube, consta recebimento de R$ 3,1 mil pelo aluguel do ginásio, isto é, o abatimento da dívida do IPTU e dos valores da reforma não somam o valor total acordado pela locação. Bom para o Alvirrubro.

(Os valores da dívida do IPTU são estimados e foram baseados em números divulgados pela imprensa bauruense à época da assinatura do contrato. Do saldo devedor da locação, uma conta simples a partir do valor do contrato (R$ 1,08 milhão), descontando os meses já pagos. Não são números exatos, mas ilustram bem o raciocínio)

Por Fernando Beagá

Mineiro de Ituiutaba, bauruense de coração. Jornalista e mestre em Comunicação pela Unesp, atuou por 16 anos na Editora Alto Astral, onde foi editor-chefe e responsável pela implantação e edição das revistas esportivas. É produtor de conteúdo freelancer pelo coletivo Estúdio Teca. Resenhou 49 partidas da Copa do Mundo de 2018 para Placar/Veja. Criou o CANHOTA 10 em 2010, a princípio para cobrir o esporte local (ganhador do prêmio Top Blog 2013), e agora lança olhar sobre o futebol nacional e internacional.

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