Categorias
Esportes

Entrevista com Zenon

Confira o ótimo papo com o craque que desfilou nos gramados nos anos 1970 e 1980

Reprodução TV Século 21

Papo bom não se perde. Falei com Zenon em novembro de 2008 quando fazia revista especial sobre o craque Zico, seu contemporâneo. Gente boa, o papo no telefone rendeu. Campeão brasileiro pelo Guarani em 1978 e camisa 10 do famoso Corinthians dos tempos da Democracia, ele ainda cultiva seu vistoso bigode e atua como comentarista esportivo da TV Século 21, de Campinas. Como tal, conversou com propriedade sobre futebol. A certa altura da conversa – ao contrário da boleirada de hoje, cada vez mais óbvia e careta – falou de si sem parecer arrogante. Tivesse maltratado a bola, seria caso de internação. Mas jogou muito. Confira as respostas que sobreviveram ao tempo.

Você concorda com (grande) parte da crônica esportiva que diz que o nível técnico do futebol brasileiro é sofrível?
De forma nenhuma. Temos um grande número de bons jogadores no futebol brasileiro. É inegável que os melhores estão na Europa, mas não concordo com os que falam que o nível está muito abaixo daquele da década de 90. Só não gosto da fórmula de disputa, que só favorece os grandes clubes. Os times médios jamais terão oportunidade de disputar o título.

Você acha que os pontos corridos vão estrangulá-los?
Claro que sim! Eles nunca terão o gosto de disputar de igual para igual com os grandes clubes. A fórmula de pontos corridos favorece os clubes estruturados e que têm uma cota maior da televisão, realizam grandes contratações e têm elencos fortes. Nunca se verá um time de porte médio brigando pelas primeiras posições.

Você não pensa em ser treinador?
Já recebi convites. Mas hoje vivo um momento gostoso na vida, pois comento esportes e ainda posso bater uma bolinha no final de semana. Jogo pelos masters do Corinthians e pelas seleções paulista e brasileira. Tudo isso me deixa com a alma feliz e no momento não penso em trocar essa vida para virar treinador. Mas essa possibilidade também não está descartada… Eu domino muito fácil a função de comentarista porque eu tive a prática durante 20 anos, estudei futebol, sou formado em educação física e me formei técnico de futebol pelo sindicato de técnicos. Então, conhecimento eu tenho de sobra. Mas ainda é cedo para abraçar essa carreira.

Com a correria do futebol de hoje, o Zenon teria o mesmo bom desempenho?
Mais do que antes. Com esse trabalho que existe hoje, específico para cada atleta, de acordo com suas características, Pelé faria cinco mil gols. O Garrincha jogaria muito mais. E eu também, se tivesse toda essa força. Com a técnica que eu tinha e com esse trabalho físico de hoje, eu seria muito mais produtivo. Hoje, quem tem uma característica quase parecida com a minha é o Hernanes. Ele se aproxima muito das minhas características. Ele desarma, arma, ataca e faz gols. Hoje eu seria um Hernanes, só que com um fundamento a mais, o lançamento – coisa que ele não faz.

Por Fernando Beagá

Mineiro de Ituiutaba, bauruense de coração. Jornalista e mestre em Comunicação pela Unesp, atuou por 16 anos na Editora Alto Astral, onde foi editor-chefe e responsável pela implantação e edição das revistas esportivas. É produtor de conteúdo freelancer pelo coletivo Estúdio Teca. Resenhou 49 partidas da Copa do Mundo de 2018 para Placar/Veja. Criou o CANHOTA 10 em 2010, a princípio para cobrir o esporte local (ganhador do prêmio Top Blog 2013), e agora lança olhar sobre o futebol nacional e internacional.

2 respostas em “Entrevista com Zenon”

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *