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Entrevista com Richarlyson

Canhota 10 republica entrevista feita em 2007, melhor fase da carreira do volante

Quando entrevistei Richarlyson, em sua chácara em Bauru, em novembro de 2007, ele estava no olho do furacão. Acabava da ganhar o bicampeonato brasileiro e as insinuações sobre sua orientação sexual estavam nas manchetes. No mesmo dia, a reportagem da revista Placar acompanhava a folga do jogador, que tinha a tiracolo a namorada Letícia Carlos – que acaba de acusar o goleiro Felipe (ex-Corinthians, hoje no Braga-POR) de agressão. Não demonstravam ter muita intimidade, mas o breve relacionamento rendeu capa de Playboy a ela. Eu, que não me interessava pela vida pessoal do jogador, fora falar de futebol. E o resultado desse papo – trechos que o tempo ainda não corroeu – você confere abaixo. 

Origem
“Nasci em Natal, mas com dois meses vim para Bauru. Passei praticamente toda a minha infância aqui – a não ser quando meu pai, por ser jogador, viajava para alguns clubes fora do país ou mesmo em outros Estados mais distantes. A família toda o acompanhava. Meu pai [Lela, ex-atacante, campeão brasileiro pelo Coritiba em 1985]
jogou na Udinese, da Itália, e no Standard Liege, da Bélgica. Nessas duas vezes, a família foi.”

Estilo de jogo do pai
“Meu pai era um jogador de muita habilidade, que protegia bem a bola, por ter bom porte físico. Era matador, tinha faro de gol. Essas características eu não tenho. Sou mais polivalente, me movimento bastante, marco bem, tenho impulsão boa e um chute até certo ponto bom de perna esquerda. As características do meu pai ficaram mais para o meu irmão [Alecsandro, atual atacante do Internacional].”

Experiência no exterior
“Eu estive na Áustria [Red Bull Salzburg]
. É um futebol que não é visado, mas em termos de estrutura e profissionalismo eles estão bem na frente. Mas em termos de projeção de futuro, o Brasil é sempre a melhor opção.”

Problemas no Santo André (lá foi campeão da Copa SP de Juniores em 2003)
“Minha trajetória no Santo André foi um pouco conturbada. Eu cheguei para jogar no profissional, disputamos em 2002 a Copa Federação Paulista e eu não fui bem. Como eu tinha idade para jogar a Copa São Paulo, a diretoria me obrigou a disputá-la. Acho que eles não acreditavam que eu poderia vingar. Cheguei no júnior com status, para resolver, por ser o único que atuava no profissional. E deu certo. Coloquei na cabeça que era meu último ano de júnior e o pessoal estava desacreditado, era tudo ou nada. A partir daí, tudo voltou ao normal, passaram a acreditar no meu futebol. Mas nunca pensei que ia chegar num clube grande. Eu tinha o objetivo, mas não esperava, ainda mais da forma como foi. Em 2005, após disputar uma Libertadores com o Santo André, pude escolher o clube onde iria jogar. Aconteceu tudo muito rápido.”

De meia para volante
“Joguei apenas umas três partidas como volante no Fortaleza [em 2004], com o Márcio Araújo, treinador na época. Mas ele preferia que eu jogasse mais avançado. Mas foi quando o Mineiro saiu é que surgiu a oportunidade. O Souza foi tentado na vaga, não deu certo, e não havia outro volante. O Muricy tentou comigo e deu certo.”

Muricy
“Com os jogadores ele não é ranzinza, a não ser na hora do jogo, o que eu acho certo, é o trabalho dele. Ele tem que dar o melhor. Ele pensa que tem que agir daquela forma e nós jogadores assimilamos, tanto que fomos campeões brasileiros. Mas ele conversa e brinca na hora certa. É um profissional maravilhoso e fora da profissão e o admiro também.”

Dupla com Hernanes em 2007
“Quando o Mineiro saiu, depois o Josué, houve um questionamento que o São Paulo tinha que contratar um volante urgente. Eu também achava! Eu e o Hernanes estávamos quebrando o galho e o elenco precisava de jogadores naquela posição. Mas eu sempre acreditei no meu trabalho, no meu potencial. Esse preparo que eu tive, não só dentro de campo, mas também psicológico, de querer sempre vencer, vai me ajudar a chegar onde eu quero.”

Faculdade de Educação Física
“Nas folgas, tenho que saber que alguns exercícios vão trazer fadiga muscular. Quando eu não fazia faculdade, eu não sabia que isso poderia se tornar prejudicial para o meu trabalho. Quando o Carlinhos Neves, nosso preparador, passa algum alongamento ou uma movimentação pós-jogo, eu pergunto o porquê daquilo.”

Carreira pós-futebol
“Após ser jogador, pretendo entrar na área de fitness, abrir uma megaestrutura com academia e locais para estética e reabilitação esportiva. Mas é um projeto a longo prazo, penso em jogar muito tempo ainda. Quando acabar a carreira, penso nesse projeto. Nada de ser treinador, nem preparador físico! Deixo para outras pessoas, não tenho a mínima vontade de ser.”

 
Foto da homepage: Luiz Pires/Vipcomm
Foto em família (acima, com a mãe, Maria de Lourdes, e o pai, Lela): Fernando BH

Por Fernando Beagá

Mineiro de Ituiutaba, bauruense de coração. Jornalista e mestre em Comunicação pela Unesp, atuou por 16 anos na Editora Alto Astral, onde foi editor-chefe e responsável pela implantação e edição das revistas esportivas. É produtor de conteúdo freelancer pelo coletivo Estúdio Teca. Resenhou 49 partidas da Copa do Mundo de 2018 para Placar/Veja. Criou o CANHOTA 10 em 2010, a princípio para cobrir o esporte local (ganhador do prêmio Top Blog 2013), e agora lança olhar sobre o futebol nacional e internacional.

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