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21 depois dos 21

Fim do jejum do Botafogo completou místicos 21 anos. A crônica resume o que foi aquela noite épica, tipicamente alvinegra.

Esta noite nunca vai terminar
Texto publicado na revista Tributo Esportivo Edição Histórica 6 (tema ‘Jogos Inesquecíveis’)

Leonardo não alcança e Maurício vence Zé Carlos. Ufa!

O Botafogo chegou invicto à finalíssima. Mas, curiosamente, sem vencer nenhum clássico. Só empates contra os maiores rivais. Aliás, não vencia Flamengo, Vasco ou Fluminense no Estadual há três anos. Era um sofrimento potencializado, um pão bem amassado pelos antideuses do futebol.

E por mais que o Fogão chegasse forte àquela partida, do outro lado havia um Flamengo cheio de estrelas, nomes de Seleção Brasileira: Jorginho, Aldair, Leonardo, Zico, Bebeto e Zinho, comandados por ninguém menos que Telê Santana. Nada que amedrontasse o raçudo Paulinho Criciúma, ícone de um time vibrante e brioso. Mas, foi um jogo sofrido, bem ao estilo alvinegro.

No primeiro tempo, o Glorioso não chutou a gol. Os rubro-negros chegaram com perigo, principalmente numa cabeçada de Bebeto que Ricardo Cruz foi buscar no ângulo. Veio o intervalo e o técnico Valdir Espinosa pediu raça aos jogadores, a um grupo de poucas estrelas, mas muita experiência, principalmente os selecionáveis Josimar e Mauro Galvão – um elenco montado a dedo pelo cartola Emil Pinheiro. Mais aplicado, o Fogão matou o jogo aos 12 minutos da etapa final. Luisinho deu ótimo passe em profundidade para Mazolinha, que substituíra Gustavo. O cruzamento encobriu Leonardo, que marcava Maurício. O ponta-direita só escorou e partiu alucinado para o afago da torcida. Vestindo a mítica camisa 7 alvinegra, Maurício teve lampejos de Garrincha. A certa altura, chamou Aílton e Zé Carlos II para dançar e centrou para Paulinho Criciúma cabecear no travessão. “Uhhhh!”, ecoou a galera, lamentando o que seria o gol de seu maior ídolo, para sepultar de vez o Urubu. Depois, foi só administrar o nervosismo e aguardar o apito final, já que até o empate servia ao Glorioso.

Na geral, as lentes focavam a jovem Sonja, que ganhara fama em dezembro de 1988, quando, gandula, chorava copiosamente ao ver seu time de coração apanhar de 3 a 0 do Vasco. Aquelas lágrimas motivaram a todos no clube, que não perdeu nenhum jogo desde então até chegar ao título estadual. E como há certas coisas que só acontecem ao Botafogo, vale lembrar como o time chegou à decisão. Graças ao Vasco, algoz do ano anterior. Na última rodada da Taça Rio, bastava uma vitória sobre o Bangu, mas o 0 a 0 frustrou a todos e parecia ser mais um ano de espera, pois se o Flamengo vencesse os cruzmaltinos, ganharia os dois turnos e levaria o título por antecipação. Mas foi um ano tão mágico que o clube notoriamente azarado ganhou uma ajudinha e tanto para chegar àquela noite de 21 de junho e ganhar, com propridade, uma taça que estava escrita para ser sua.

Botafogo 1 x0 Flamengo
Final do Campeonato Carioca de 1989 – Maracanã, Rio de Janeiro-RJ – Árbitro: Walter Senra – Público: 56.412 – Gol: 2ºT: Maurício (12)
Botafogo: Ricardo Cruz; Josimar, Wilson Gottardo, Mauro Galvão e Marquinhos; Carlos Alberto Santos, Luisinho e Vítor; Maurício, Paulinho Criciúma e Gustavo (Mazolinha). Téc: Valdir Espinosa.
Flamengo: Zé Carlos; Jorginho, Aldair, Zé Carlos II e Leonardo; Aílton, Renato Carioca e Zico (Marquinhos); Alcindo (Sérgio Araújo), Bebeto e Zinho). Téc: Telê Santana.

Curiosidade: Criaram-se tramas numerológicas para dar um ar místico ao título do supersticioso Botafogo. Uma delas eternizou, através de matéria do jornalista Renato Machado, da TV Globo, que as camisas de Mazolinha (14), que cruzou, e Maurício (7), o autor do gol, somavam 21 (lembrando o tempo de jejum e o dia da final). Forçação de barra: Mazolinha vestia a 16.
Depoimento: nosso entrevistado, o técnico Valdir Espinosa, revelou que o herói Maurício jogou com o tornozelo inchado durante todo o segundo tempo. Em seu depoimento, disse ainda que sua formação tática com dois pontas e um falso centroavante (Paulinho Criciúma) confundiu os adversários.

Por Fernando Beagá

Mineiro de Ituiutaba, bauruense de coração. Jornalista e mestre em Comunicação pela Unesp, atuou por 16 anos na Editora Alto Astral, onde foi editor-chefe e responsável pela implantação e edição das revistas esportivas. É produtor de conteúdo freelancer pelo coletivo Estúdio Teca. Resenhou 49 partidas da Copa do Mundo de 2018 para Placar/Veja. Criou o CANHOTA 10 em 2010, a princípio para cobrir o esporte local (ganhador do prêmio Top Blog 2013), e agora lança olhar sobre o futebol nacional e internacional.

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