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Paschoalotto Bauru 0, Flamengo 2: sonho adiado

Derrota do Paschoalotto Bauru foi num sábado de frustração, um pouco de resignação e a certeza de que foi só mais um dia

NBB-final(Direto de Marília) Com o anúncio de ingressos esgotados, a torcida tinha que sair cedo de Bauru para chegar com tranquilidade ao jogo. Não eu. Antes, eu tinha que prestigiar o balé da filhota na escola, agendado no início do semestre, bem antes de o Paschoalotto Bauru conquistar essa vaga na final do NBB. Ok, 8h30 em ponto, dez minutos de apresentação e chego a tempo de a bola subir. Mas, mudaram a programação, a pedido de Mrs. Day. A pequena Lainey tinha apresentação de street dance e ginástica artística. Depois, seguir para Marília para ver o pai jogar a decisão. Justo. Ela encantou a plateia, vai ser ginasta. Após um salto improvável, foi aplaudida como num ginásio lotado. Agradeceu, correu para o beijo da mãe e se mandaram para a cidade da bolacha.

Veio o balé, Anoca graciosa como sempre. Emendou o número de capoeira, que já tínhamos combinado que eu não veria. Ainda espiei um pouco, fiz o gesto de coração pra ela e deitei o cabelo na estrada. Eram 9h30. Fui ouvindo o Jornada — parabéns para a Auri-Verde, que potência de sinal, que só sumiu pouco depois de Jafa, na cara do gol. Digo, da cesta. Cesta que seguia balançando pouco pelo lado bauruense, a exemplo do jogo 1… Mais um primeiro quarto desastroso, 25 a 11 para o Flamengo…

Time tenta se acertar em quadra...
Time tenta se acertar em quadra…

No segundo período, eu sem rádio e sem rumo. Consegui a façanha de me perder — sou pior do que o pai da Peppa Pig. O celular me salvou, perdi minutos preciosos e cheguei no intervalo, no escuro, torcendo para o Dragão ter reagido. Parcial de 15 a 14 para o time carioca e um indigesto 40 a 25 para reverter no segundo tempo.

Aí vem mascote dos Suns, dançarinas do Magic, mas ninguém sorri muito. Eu fico boquiaberto com o ginásio cheio e fico imaginando se a final fosse em Bauru… Abraçaram o time, coisa linda. Uma ou outra camisa do MAC, os flamenguistas fazendo sua merecida cantoria. Vem o terceiro quarto e nada muda. Alex, em mais um jogo infeliz, só encontra o aro. Aquelas bolinhas embaixo da cesta não caem. Larry tenta botar fogo no jogo, a torcida acorda, mas o Flamengo erra pouco. Dá-lhe Olivinha e Marcelinho acertando de fora. Incríveis 23 pontos (62 a 39) para o Dragão buscar nos últimos dez minutos.

Larry, assim como Murilo, jogou no sacrifício
Larry, assim como Murilo, jogou no sacrifício

Quando todos imaginavam que a partida já estava decidida, o pai da Lainey entrou em ação. Um triplo atrás do outro. Até marcado, sofrendo falta (não marcada), ele guardou. Roberdei estava endiabrado. A diferença caiu para dez e o ginásio acordou. “Eu acredito!”, gritou a galera. Agora sim a frase fazia sentido, com os guerreiros com os nervos em frangalhos, sobretudo depois que Day saiu com cinco faltas. Ficou inconsolável, estava com a mão quente e sabia que poderia comandar a reação. Os três últimos minutos passaram voando. Bauru nem usou o artifício de brecar o cronômetro com faltas. A verdade é que o Flamengo foi infinitamente superior, cresceu na hora certa. Começou o NBB7 numa draga só e terminou voando. A fração de 15 a 28 para Bauru serviu para acalmar os corações mais machucados e todo mundo aplaudiu os vice-campeões, confirmado o 77 a 67 e o terceiro título seguido do Rubro-Negro.

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Gui, no pódio

Acabou. Um temporada intensa, a maior da história do Bauru Basket. Mas um bolo sem cereja. Um aprendizado. Vejo Larry cabisbaixo, Murilo em lágrimas, Gui idem. Mas nenhum deles como a Lainey. De cortar o coração. Aquela pequena ginasta, que arrancara sorrisos mais cedo, não parava de chorar, agarrada à mão do pai. Fui lá dizer a ela que estava tudo certo, pra ficar orgulhosa do pai, que havia feito um bom trabalho como ela. Que eu ficara encantado com sua apresentação. Don’t cry, Lainey, disse eu. Ela entende o português, é esperta que só, mas achei que na língua materna se sentiria mais confortada. Durante entrevista comigo, Robert disse que joga por ela e pelo irmão, Cooper, que não gostava de vê-la daquele jeito, mas a derrota faz parte do aprendizado.

final-laineyEnquanto isso, o Flamengo levantava a taça. Todo mundo amontoado para fotografar o capitão Marcelinho. Mal reparei. Dei um beijo na testa da Lainey, fui registrar mais umas aspas e peguei a estrada. Segue o jogo, segue a vida. Com tempo de sobra para números, entrevistas e reflexões nos próximos dias. O mais importante, hoje, é o Robert ver o vídeo da filhota se apresentando, que a mãe gravou.

Por Fernando Beagá

Mineiro de Ituiutaba, bauruense de coração. Jornalista e mestre em Comunicação pela Unesp, atuou por 16 anos na Editora Alto Astral, onde foi editor-chefe e responsável pela implantação e edição das revistas esportivas. É produtor de conteúdo freelancer pelo coletivo Estúdio Teca. Resenhou 49 partidas da Copa do Mundo de 2018 para Placar/Veja. Criou o CANHOTA 10 em 2010, a princípio para cobrir o esporte local (ganhador do prêmio Top Blog 2013), e agora lança olhar sobre o futebol nacional e internacional.

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